Leitura Semanal - Diários do Vampiro, os caçadores: Fantasma #2



Sinopse: O passado nunca está longe... Elena Gilbert e seus amigos salvaram Fell's Church dos espíritos malignos, mas a libertação da cidade veio com um preço: a vida de Damon Salvatore. Agora, como nada estando no caminho, Elena e Stefan podem finalmente ficar juntos. Então, por que Elena não consegue parar de sonhar com Damon? Enquanto os sentimentos de Elena por Damon crescem, uma nova escuridão está se formando em Fell's Church. Elena foi até o inferno e voltou, mas esse demônio não é nada igual ao que ela já viu antes. Sua única meta é matar Elena e a todos que ela ama.
Antes de começarem a leitura, quero ressaltar algumas coisas:
  • Esse livro foi escrito pela autora, antes de ser demitida, mas algumas partes foram mudadas pela ghostwriter;
  • A ghostwriter mudou o sobrenome da Meredith, tirando "Sulez" e colocando "Suarez", mas ela volta a escrever "Sulez" no próximo volume;
  • Os olhos de Elena começam a ser descritos como "azuis safira" e não mais "azuis lápis-lazúli";
  • Quiseram fazer com que os livros ficassem próximos à série, então colocaram o Klaus como um "Original", e não mais um "Antigo", assim como Bonnie passa a ser uma bruxa;
  • O temperamento de Damon passa ser igual ao da série, e este Damon fala palavrão (sendo que em "Meia-Noite" a Elena disse que ele nunca falaria isso na frente dela).
E, como é de praxe, se for copiar o texto a seguir para algum outro site, por favor colocar os créditos! Ajude o trabalho do tradutor e dê ibope ao site. Boa leitura! :)

3

 O sol da manhã brilhava durante todo o trajeto curvilíneo que levava à garagem atrás da pensão. Nuvens brancas e fofinhas corriam pelo céu azul. Era uma imagem tão pacífica que era quase impossível de acreditar que algo de ruim havia acontecido nesse lugar.
  Da última vez que estive aqui, pensou Stefan, colocando seus óculos escuros, era quase um lugar devastado.
  Quando os kitsune dominaram Fell's Church, aqui havia sido uma zona de guerra. Crianças contra pais, garotas adolescentes mutilando a si mesmas, a cidade semidestruída. Sangue nas ruas, dor e sofrimento em todo lugar.
  Atrás dele, a porta da frente se abriu. Stefan virou-se rapidamente para ver a Sra. Flowers saindo da casa. A velha senhora vestia um longo vestido preto, e seus olhos estavam protegidos por um chapéu de palha coberto com flores artificiais. Ela parecia estar cansada e desgastada, mas seu sorriso era tão gentil como sempre.
  — Stefan — ela disse. — O mundo está aqui esta manhã, do jeito que devia estar.
  A Sra. Flowers se aproximou e olhou para cima, para seu rosto, seus penetrantes olhos azuis cheios de simpatia. Parecia que ela estava prestes a lhe perguntar algo, mas no último minuto ela pareceu mudar de ideia e disse, no entanto:
  — Meredith ligou, e Matt, também. Parece que, apesar de todas as dificuldades, todos saíram ilesos — ela hesitou, e então apertou seu braço. — Quase todos.
  Algo se torceu dolorosamente no peito de Stefan. Ele não queria falar sobre Damon. Ele não podia, ainda não. Ao invés disso, ele abaixou sua cabeça.
  — Estamos em grande débito com você, Sra. Flowers — ele disse, escolhendo suas palavras com cuidado. — Nós nunca poderíamos ter derrotado os kitsune sem você... Você foi a única que os deteve e defendeu a cidade durante um bom tempo. Nenhum de nós jamais se esquecerá disso.
  O sorriso da Sra. Flowers se aprofundou, uma covinha inesperada e oscilante apareceu em uma de suas bochechas.
  — Obrigada, Stefan — ela disse com a mesma formalidade. — Não há ninguém com quem eu teria lutado a favor além de você e dos outros.
  Ela suspirou e deu um tapinha no ombro dele.
  — Porém, eu devo ter ficado mais velha; eu sinto a necessidade de gastar a maior parte do dia de hoje cochilando em uma cadeira no jardim. Lutar contra o mal tira mais de mim do que estou acostumada.
  Stefan ofereceu seu braço para ajudá-la a descer os degraus da varanda, e ela sorriu para ele mais uma vez.
  — Diga a Elena que eu farei aqueles biscoitos com chá que ela adora quando ela estiver pronta para deixar sua família e vir me visitar — ela disse, então virou-se em direção ao jardim de rosas.
  Elena e sua família. Stefan imaginou seu amor, seu cabelo loiro sedoso sobre seus ombros, a pequena Margaret em seus colo. Elena tinha uma outra chance em uma vida humana real, no qual valia tudo.
  Havia sido culpa de Stefan que Elena perdera sua primeira vida — ele sabia disso com uma certeza que abalava sua entranhas. Ele havia trazido Katherine para Fell's Church, e Katherine havia destruído Elena. Dessa vez ele se certificaria que Elena estava protegida.
  Com uma última olhadela na Sra. Flowers em seu jardim, ele endireitou os ombros e andou até o bosque. Pássaros cantavam na floresta salpicada pelo sol, mas Stefan estava indo mais fundo, onde velhos carvalhos cresciam e a vegetação rasteira era espessa. Onde ninguém o veria, onde ele poderia caçar.
  Parando em uma pequena clareira alguns quilômetros depois, Stefan tirou seus óculos de sol e ouviu. Bem perto houve veio a leve crepitação de algo se movendo embaixo de um arbusto. Ele se concentrou, esticando sua mente. Era um coelho, seu coração batia rapidamente, à procura de sua própria refeição matinal.
  Stefan focou sua mente nisso.
  Venha para mim, ele pensou gentil e persuasivamente. Ele sentiu o coelho se enrijecer por um momento; então ele saltou bem devagar para fora do arbusto, seus olhos vidrados.
  Ele veio até ele docemente e, com uma cutucada mental extra de Stefan, parou aos seus pés. Stefan o pegou e o virou para alcançar a frágil garganta, onde a pulsação vibrava. Com um silencioso pedido de desculpas ao animal, Stefan sucumbiu à fome, permitindo suas presas acertarem o local. Ele rasgou a garganta do coelho, bebendo lentamente o sangue, tentando não estremecer pelo gosto.
  Enquanto os kitsune ameaçavam Fell's Church, Elena, Bonnie, Meredith e Matt havia insistido em alimentá-lo, sabendo que o sangue humano o manteria o mais forte possível para a batalha. O sangue deles quase haviam sido algo de outro mundo: o de Meredith, ardente e forte; o de Matt, puro e saudável; o de Bonnie, tão doce quanto sobremesa; e o de Elena, inebriante e revigorante. Apesar do gosto ruim do coelho em sua boca, seus caninos formigaram com a lembrança de fome.
  Mas agora ele não beberia sangue humano, ele disse a si mesmo com firmeza. Ele não poderia continuar passando por essa linha, mesmo se eles estivessem oferecendo. A não ser que a vida de seus amigos estivessem em risco. A mudança do sangue humano para o de animais seria doloroso; ele se lembrava da primeira vez que ele parou de beber sangue humano: dentes doloridos, náusea, irritabilidade, a sensação de que ele estava faminto mesmo quando seu estômago estava cheio — mas essa era a única opção.
  Quando as batidas do coração do coelho pararam de vez, Stefan delicadamente se afastou. Ele segurou o corpo mole por alguns instantes, então o colocou no chão e o cobriu com folhas.
  Obrigado, pequenino, ele pensou. Ele ainda estava com fome, mas ele já havia tirado uma vida esta manhã.
  Damon teria rido. Stefan quase podia ouvi-lo.
  O nobre Stefan, ele zombaria, seus olhos negros estreitando-se em um desdém meio afetivo. Você está perdendo as melhores partes de ser um vampiro enquanto você briga com sua consciência.
  Como se convocado por seus pensamentos, um corvo crocitou acima de sua cabeça. Por um momento, Stefan esperou que o pássaro pousasse na terra e se transformasse em seu irmão. Quando isso não aconteceu, Stefan deu uma leve meia risada para a sua própria estupidez e ficou surpreso quando isso pareceu ser quase um soluço.
  Damon nunca voltaria. Seu irmão havia partido. Eles tiveram centenas de anos de amargura entre si e haviam acabado de começar a reparar seu relacionamento, juntando-se para lutar contra o mal que sempre parecia vir à Fell's Church, protegendo Elena disso. Mas Damon estava morto, e agora Stefan era o único que sobrara para proteger Elena e seus amigos.
  Uma dor latente de medo se contorceu em seu peito. Havia tanta coisa que poderia dar errado. Humanos eram tão vulneráveis, e agora que Elena não tinha mais poderes especiais, ela era tão vulnerável quanto qualquer um deles.
  O pensamento fez com que ele cambaleasse, e imediatamente ele o afastou, correndo direto para a casa de Elena, no outro lado do bosque. Elena era sua responsabilidade agora. E ele nunca deixaria que algo a ferisse novamente.

  O piso de cima era quase igual ao que Elena se lembrava: madeira escura brilhante com um carpete oriental de correr, algumas mesinhas com bugigangas e fotografias, um sofá próximo à uma grande janela com vista para a área da frente.
  Mas no meio do caminho até as escadas, Elena pausou, vislumbrando algo novo. Entre as fotos com porta-retratos prateados, em uma das mesinhas havia uma foto dela, Meredith e Bonnie com os rostos próximos uns aos outros, com grandes sorrisos e usado capelos e becas, brandindo orgulhosamente seus diplomas. Elena pegou a foto, segurando-a bem perto de si. Ela se formou no ensino médio.
  Parecia estranho ver essa outra Elena, como se ela não pudesse evitar de pensar nela, seu cabelo loiro puxado para trás em um elegante penteado francês, pele cremosa corada de animação, sorrindo com suas melhores amigas, e nem ao menos se lembrar disso tudo. E ela parecia estar tão despreocupada, essa Elena, tão cheia de alegria, esperança e à espera de um futuro. Essa Elena não sabia nada do horror da Dimensão das Trevas ou da destruição que os kitsune causaram. Essa Elena era feliz.
  Olhando rapidamente entre as fotos, Elena localizou mais algumas que ela nunca havia visto antes.
  Aparentemente essa nova Elena havia sido a rainha do Baile de Inverno, embora Elena se lembrasse de Caroline ganhando essa coroa após a morte de Elena. Nessa foto, entretanto, a Rainha Elena estava resplandecente em um vestido roxo lívido de seda, cercada por sua corte: Bonnie, fofinha e adorável em um vestido azul tafetá brilhante; Meredith, sofisticada em um vestido todo preto; Caroline, que parecia estar ofendida, vestindo um vestido justo de prata que dava asas à imaginação; e Sue Carson, bela em um vestido rosa claro, todas sorrindo direto para a câmera, todas aparentando estarem bem vivas. Lágrimas ardiam nos olhos de Elena novamente. Eles haviam salvado-a. Ela, Meredith, Bonnie, Matt e Stefan haviam salvado Sue Carson.
  Então o olhar de Elena pousou em outra fotografia, essa com tia Judith em um longo vestido de casamento de renda, Robert parado cheio de orgulho ao seu lado em um terno simples. Junto deles havia a outra Elena, claramente sendo a dama de honra, em um vestido cor de folhas verdes, segurando o buquê de rosas. Ao seu lado estava Margaret, a cabeça loira brilhante abaixada timidamente, segurando com uma mão o vestido de Elena. Ela estava vestindo um típico vestido longo de criança, com uma flor amarrada a um grande cinto verde, e ela segurava uma cesta de rosas em sua outra mão.
  As mãos de Elena tremeram um pouco quando ela foi colocar essa foto no lugar. Parecia que eles haviam se divertido bastante. Que pena que ela não estava realmente ali.
  No andar de baixo, um copo tintilou contra a mesa e ela ouviu tia Judith rir. Colocando de lado toda a estranheza desse novo passado que ela tinha que aprender, Elena correu escada abaixo, pronta para encarar seu futuro.
  Na sala de jantar, tia Judith colocava suco de laranja de um jarro azul enquanto Robert colocava massa na máquina de fazer waffles. Margaret estava ajoelhada atrás de sua cadeira, narrando um diálogo intenso entre seu coelho e tigre de pelúcias.
  Uma grande onda de alegria encheu o peito de Elena, e ela deu um grande abraço apertado em tia Judith e a girou por aí. Suco de laranja fora derramado pelo chão em um grande círculo.
  — Elena! — Repreendeu tia Judith, meio que rindo. — O que há de errado com você?
  — Nada! É que eu te amo, tia Judith — Elena disse, abraçando-a mais forte. — Eu amo mesmo.
  — Oh — disse tia Judith, seus olhos suaves. — Oh, Elena, eu também te amo.
  — E que belo dia — Elena disse, dando piruetas. — Um dia maravilhoso para se estar vivo.
  Ela deu um beijo na cabeça loira de Margaret. Tia Judith esticou para pegar papel toalha.
  Robert limpou sua garganta.
  Isso significa que você nos perdoou por tê-la colocado de castigo no fim de semana passada?
  Oh. Elena tentou descobrir como responder, mas depois de ela ter vivido por conta própria durante meses, todo o conceito de ficar de castigo por tia Judith e Robert parecia ser ridículo. Ainda assim, ela abriu bem seus olhos e usou uma expressão de arrependimento.
  — Eu realmente peço desculpas, tia Judith e Robert. Não vai acontecer de novo.
  Seja lá o que tenha acontecido.
  Os ombros de Robert relaxaram.
  — Não vamos mais falar sobre isso, então — Ele disse com um alívio genuíno.
  Ele colocou um waffle quente no prato dela e pegou um pouco de calda.
  — Você tem algo divertido planejado para se fazer hoje?
  — Stefan vai vir me buscar depois do café da manhã — Elena disse, então pausou.
  A última vez que ela havia falado com tia Judith, depois da comemoração do Dia dos Fundadores, tia Judith e Robert eram bem “anti-Stefan”. Eles, assim como a maioria da cidade, suspeitavam que ele fosse o responsável pela morte do Sr. Tanner.
  Mas aparentemente eles não tinham problemas com Stefan neste mundo, pois Robert só concordou. E, ela lembrou-se, se as Guardiãs fizeram o que ela pediu, o Sr. Tanner estava vivo, então eles não tinha porquê suspeitar de Stefan tê-lo matado... Oh, isso tudo era tão confuso!
  Ela continuou:
  Nós vamos sair pela cidade, talvez encontrar Meredith e os outros.
  Ela mal podia esperar para ver a cidade em seu velho e sadio normal, e estar com Stefan quando, pela primeira vez, eles não estariam lutando contra algum mal terrível, mas sim sendo somente um casal comum.
  Tia Judith sorriu.
  — Então, outro dia preguiçoso, hem? Estou feliz por vocês terem um bom verão antes de irem à faculdade, Elena. Vocês estudaram tanto no último ano.
  — H'mm — disse Elena vagamente, cortando seu waffle.
  Ela esperava que as Guardiãs a tivessem colocado na Dalcrest, uma pequena faculdade algumas horas daqui, como ela havia pedido.
  — Sobe aqui, Meggie — Robert disse, colocando o waffle da garotinha.
Margaret subiu em sua cadeira, e Elena sorriu pela afeição óbvia na face de Robert. Margaret era visivelmente sua amada garotinha.
  Captando o olhar de Elena, Margaret rosnou e empurrou o tigre de pelúcia em sua direção. Elena deu um pulo. A garotinha grunhiu e seus rosto estava momentaneamente transformado em algo selvagem.
  — Ele quer comê-la com seus grandes dentes — Margaret disse, sua voz de menininha estava rouca. — Ele está indo te pegar.
  — Margaret! — Tia Judith censurou enquanto Elena estremecia.
  O breve olhar feroz de Margaret fez com que ela se lembrasse dos kitsune, das garotas que haviam ficado loucas. Mas então Margaret deu-lhe um grande sorriso e fez o tigre roçar seu nariz no braço de Elena.
  A campainha tocou. Elena colocou a última bocada de waffle em sua boca.
  — É o Stefan — Ela murmurou entre mordidas. — Até mais tarde.
  Ela limpou seus lábios e checou seu cabelo no espelho antes de abrir a porta.
  E lá estava Stefan, tão lindo como sempre. Características romanas e elegantes, maçãs do rosto destacadas, um nariz reto clássico e uma boca curvada sensual. Ele segurava seus óculos de sol levemente em uma mão, e seus olhos verdes folhosos pegaram os dela com uma olhadela de puro amor. Elena quebrou esse olhar e deu um grande e involuntário sorriso.
  Oh, Stefan, ela pensou para ele, eu te amo, eu te amo. É tão maravilhoso estar em casa. Eu não consigo parar de sentir falta do Damon e querer que nós pudéssemos ter feito algo diferente e tê-lo salvado... mas eu não posso evitar de estar feliz, também.
  Espera. Ela sentiu como se alguém tivesse pisado no freio e ela tivesse sido jogada contra um cinto de segurança.
  Apesar de Elena estar enviando suas palavras, e uma grande onda de afeição e amor junto a elas, em direção a Stefan, não houve resposta, nenhum retorno de emoções. Era como se houvesse uma parede invisível entre ela e Stefan, bloqueando a passagem de pensamentos até ele.
  — Elena? — Stefan disse em voz alta, seu sorriso vacilando.
  Oh. Ela não havia percebido. Ela nem havia pensado a respeito.
  Quando as Guardiãs tiraram seus poderes, elas deviam ter tirado tudo. Incluindo sua conexão telepática com Stefan. Elas demoraram para fazer isso...
  Ela tinha certeza que ainda podia ouvi-lo, e alcançar sua mente, após ela perder sua conexão com Bonnie. Mas agora aquilo havia sumido completamente.
  Inclinando-se para frente, ela agarrou a camisa dele, puxou-o até ela, e o beijou ferozmente.
  Oh, graças a Deus, ela pensou, enquanto sentia a sensação de conforto familiar de suas mentes se entrelaçando. Os lábios de Stefan se curvaram em um sorriso embaixo dos delas.
Eu pensei que havia te perdido, ela pensou, que eu não seria capaz de alcançá-lo mais desse jeito, também.
  Ao contrário da conexão telepática que eles compartilharam, ela sabia que os pensamentos não estavam alcançando Stefan como palavras, mas sim como imagens e emoções. Vindo dele, ela sentiu um córrego sem palavras de um amor inabalável e estável.
  Uma garganta foi limpa enfaticamente atrás deles. Elena relutantemente soltou Stefan e virou-se para ver tia Judith observando-os.
  Stefan se recompôs com rubor de vergonha, o leve olhar de apreensão em seus olhos. Elena sorriu. Ela adorava que ele houvesse passado pelo inferno — literalmente — e ainda assim tinha medo de magoar a tia de Elena. Ela colocou sua mão no ombro dele, tentando enviar uma mensagem de que tia Judith agora aceitava o relacionamento deles, mas o doce sorriso de tia Judith e sua saudação disseram isso por ela.
  — Olá, Stefan. Vocês estar de volta às seis, não vão, Elena? — Tia Judith perguntou. — Robert tem uma reunião até mais tarde, então eu pensei que você, Margaret e eu poderíamos sair para uma noite só de garotas.
  Ela parecia esperançosa, ainda que hesitante, como alguém que bate em uma porta que poderia ser fechada em sua cara. O estômago de Elena deu um nó, cheio de culpa.
  Eu estive evitando a tia Judith o verão todo?
  Ela conseguiu imaginar isso; se ela não tivesse morrido, ela estaria ansiosa para seguir com sua vida e teria se irritado com sua família que queria mantê-la em casa, a salvo. Mas essa Elena sabia de mais coisas... sabia como ela era sortuda por ter tia Judith e Robert. E parecia que essa Elena tinha muita coisa para acertar.
  — Parece divertido! — Ela disse alegremente, colocando um sorriso brilhante em seu rosto. — Posso convidar Bonnie e Meredith? Elas adorariam uma noite só de garotas.
  E seria legal ter amigos por perto que não tinham ideia do que tem acontecido nessa versão de Fell's Church, assim como ela.
  — Que maravilha — tia Judith disse, parecendo mais feliz e mais relaxada. — Divirtam-se, crianças.
  Conforme Elena se dirigia para porta, Margaret saiu correndo da cozinha.
  — Elena! — Ela disse, colocando seus braços ao redor da cintura de Elena.
  Elena se inclinou e deu um beijo no topo de sua cabeça.
  — Eu te encontro mais tarde, coelhinha — ela disse.
  Margaret fez sinal para que Elena e Stefan se ajoelhassem, então colocou seus lábios entre suas orelhas.
  — Não se esqueça de voltar dessa vez — ela sussurrou antes de recuar para dentro.
  Por um instante, Elena simplesmente ficou ajoelhada lá, congelada. Stefan apertou sua mão, puxando-a para cima, e mesmo sem sua conexão telepática, ela soube que ambos estavam tendo o mesmo pensamento.
  Enquanto eles saíam da casa, Stefan a pegou pelos ombros. Seus olhos verdes olharam nos dela, e ele inclinou-se para frente para beijá-la nos lábios.
  — Margaret é uma garotinha — ele disse com firmeza. — Pode ser que ela só quer que sua irmã mais velha não saia. Talvez ela esteja preocupada com a sua ida à faculdade.
  — Talvez — Elena murmurou enquanto Stefan prendia seu braço em volta dela.
  Ela inalou seu aroma amadeirado e sentiu que sua própria respiração ficava mais lenta, presa em seu estômago frouxo.
  — E mesmo que não seja isso — ela disse devagar —, nós vamos descobri. Nós sempre descobrimos. Mas agora eu quero ver o que as Guardiãs nos deram.

4

 Foram as pequenas coisas que mais surpreenderam Elena. Ela esperava que as Guardiãs trouxessem Fell's Church de volta. E elas trouxeram.
  A última vez que havia visto a cidade, provavelmente um quarto das casas eram somente escombros. Elas haviam sido queimadas ou bombardeadas, algumas completamente destruídas, outras só metade, com a fita de NÃO ULTRAPASSE da polícia pendendo miseravelmente sobre o que havia sobrado. Ao redor e acima das casas em ruínas, árvores e arbustos haviam crescido, esticados em uma forma estranha, com vinhas dando uma aparência de cortina aos escombros, dando às ruas da cidadezinha a aparência de uma velha selva.
  Agora, Fell's Church estava — em sua maioria — do jeito que Elena se lembrava dela. Uma perfeita cidadezinha do sul digna de um cartão-postal com grandes varandas ao redor das casas, no qual haviam jardim de flores e grandes árvores velhas. O sol estava brilhando e o ar estava abafado com a promessa de um dia de verão quente e úmido na Virgínia.
  Algumas quadras adiante veio o som abafado de um cortador de grama, e o cheiro de grama recém-cortada encheu o ar. As crianças Kinkade, na casa da esquina, tinham arrastado para fora seu kit de badminton e faziam rebatidas para trás e para frente; a caçula acenou para Elena e Stefan enquanto eles passavam. Isso tudo fez com que Elena voltasse aos velhos meses de julho que ela conhecia e às antigas férias de verão de sua vida.
  Elena pediu sua velha vida de volta, no entanto. Suas exatas palavras foram: Eu quero uma vida nova, junto à minha antiga vida. Ela queria que Fell's Church estivesse do jeito que estaria agora, meses depois, se o mal nunca tivesse chegado à cidade no começo de seu último ano escolar.
  Mas ela não tinha percebido o quão chocante todas as pequenas mudanças seriam. A pequena casa em estilo colonial no meio do próximo quarteirão havia sido pintada em tom surpreendente rosado, e o velho carvalho no gramado à frente havia sido cortado e substituído por um arbusto florido.
  H'm — Elena virou-se para Stefan enquanto eles passavam pela casa. — A Sra. McCloskey deve ter morrido, ou se mudado para uma casa de repouso.
  Stefan olhava para ela sem expressão.
  — Ela nunca deixaria alguém pintar sua casa naquela cor. Deve haver nossas pessoas morando ali — ela explicou, tremendo levemente.
  — O que foi? — Stefan perguntou instantaneamente, em sintonia com seu estado de espírito, como sempre.
  — Nada, é só que... — Elena tentou sorrir enquanto enfiava uma mecha de seu cabelo lustroso atrás da orelha. — Ela costumava me dar biscoitos quando eu era criança. É estranho perceber que ela poderia ter morrido de alguma causa natural enquanto estávamos fora.
  Stefan concordou, e os dois andaram em silêncio até o pequeno centro de Fell's Church. Elena estava prestes a ressaltar que sua cafeteria favorita havia sido substituída por uma farmácia quando ela pegou o braço de Stefan.
  — Stefan. Olha.
  Estavam vindo até eles Isobel Saitou e Jim Bryce.
  — Isobel! Jim! — Elena gritou com alegria, e correu até eles.
  Mas Isobel estava rígida sob seus braços, e Jim olhava para ela com curiosidade.
  — Hã, oi? — Isobel disse hesitantemente.
  Elena num instante deu um passo para trás. Oops. Nessa vida, ela ao menos conhecia Isobel? Elas haviam estudado juntas na escola, é claro. Jim havia saído com Meredith algumas vezes antes de começar a namorar Isobel, embora Elena não o conhecesse bem. Mas é possível que ela nunca tenha falado com a quieta e estudiosa Isobel Saitou antes dos kitsune virem à cidade.
  A mente de Elena trabalhou ativamente, tentando descobrir como sair dali sem parecer louca. Mas um sussurro quente de felicidade continuou crescendo em seu peito, fazendo com que ela não levasse o problema tão a sério. Isobel estava bem. Ela havia sofrido tanto nas mãos dos kitsune: ela havia colocado piercings em si mesma tão severamente que, mesmo depois de se recuperar da escravidão dos kitsune, ela ainda falava com uma pronúncia indistinta. O pior, a deusa kitsune esteve na casa de Isobel o tempo todo, fingindo ser avó de Isobel.
  E coitado do Jim... infectado por Isobel, Jim mutilou-se, comendo sua própria pele. Ainda assim, lá estava ele, lindo e despreocupado — se bem que moderadamente confuso.
  Stefan sorriu largamente, e Elena não pôde parar de rir.
  Desculpe, pessoal, é que... estou tão feliz por ver rostos familiares da escola. Eu devo estar sentindo falta da boa e velha Robert E. Lee High School, sabe? Quem poderia imaginar?
  Era uma desculpa fraquinha, mas Isobel e Jim sorriram e concordaram. Jim limpou sua garganta estranhamente e disse:
  — Sim, foi um bom ano, não foi?
  Elena riu novamente. Ela não podia evitar. Um bom ano.
  Eles conversaram durante alguns minutos antes de Elena casualmente perguntar:
  — Como está sua avó, Isobel?
  Isobel olhava para ela fixamente.
  — Minha avó? — Ela perguntou. — Você deve estar me confundindo com outra pessoa. Ambas as minhas avós morreram há muitos anos.
  — Oh, erro meu — Elena disse um adeus e tratou em se conter até que Isobel e Jim estivessem fora do alcance auditivo. Então ela pegou Stefan pelos braços, puxando-o para ela, e deu-lhe um beijo estrondoso, deleite e triunfo passando entre eles.
  — Nós conseguimos — ela disse quando o beijo terminou. — Eles estão bem! E não só eles.
  Mais solene agora, ela olhou para os olhos verdes dele, séria e gentil.
  — Nós fizemos algo importante e maravilhoso, não é?
  — Fizemos — Stefan concordou, mas ela não pôde evitar de notar algo duro em sua voz enquanto ele dizia.
  Eles andaram de mãos dadas e, sem discutirem isso, foram para a borda da cidade, atravessando a Ponte Wickery e subindo a colina.
  E viraram em direção ao cemitério, passaram pela igreja em ruínas onde Katherine estivera escondida, e desceram o pequeno vale que possuía a parte mais nova do cemitério.
Elena e Stefan se sentaram na grama bem aparada próxima à grande lápide de mármore com “Gilbert” esculpido na frente.
  — Oi, mãe. Oi, pai — Elena sussurrou. — Perdão por ter se passado tanto tempo.
  Em sua antiga vida, ela havia visitado com frequência o túmulo de seus pais, só para conversar com eles. Ela sentia como se eles fossem capazes de ouvi-la, de alguma forma, que eles estavam lhe desejando coisas boas de qualquer plano superior que eles se encontravam agora. Isso sempre fê-la se sentir melhor ao contar seus problemas, e antes mesmo de sua vida ter se tornado tão complicada, ela havia contado a eles tudo.
  Ele ergueu uma mão e gentilmente tocou o nome e as datas esculpidas nos túmulos. Elena inclinou sua cabeça.
  — É minha culpa eles estarem mortos — ela disse.
  Stefan fez um leve ruído de discordância, e ela virou-se para olhar para ele.
  — É sim — ela disse, seus olhos queimando. — As Guardiãs me disseram.
  Stefan suspirou e beijou sua testa.
  — As Guardiãs queriam matá-la — ele disse. — Fazer de você uma delas. E elas acidentalmente mataram seus pais no lugar. Não é mais sua culpa, já que elas miravam em você e erraram.
  — Mas eu distraí meus pai no momento crítico e fiz com que ele batesse o carro — Elena disse, encolhendo seus ombros.
  — Isso é o que as Guardiãs disseram — Stefan respondeu. — Mas elas não iriam querer que soasse como se fosse culpa delas. Elas não gostam de admitir que cometem erros. A verdade é que o acidente que matou seus pais não teria acontecido se as Guardiãs não estivessem lá.
  Elena abaixou seus olhos para esconder as lágrimas que saíam deles. O que Stefan disse era verdade, mas ela não podia parar de pensar no coro que dizia minhaculpaminhaculpaminhaculpa dentro de sua cabeça.
  Algumas violetas silvestres estavam crescendo ao seu lado esquerdo, e ela as pegou, junto com um alguns botões de ouro. Stefan juntou-se a ela, entregando-lhe um ramo de aquilégia com flores em formato de sino amarelo para adicionar ao seu minúsculo buquê de flores silvestres.
  — Damon nunca confiou nas Guardiãs — ele disse silenciosamente. — Bem, ele não... elas não se importaram muito com vampiros. Mas, além disso...
  Ele esticou-se para pegar uma flor Queen Anne de haste alta que crescia próxima a um túmulo.
  — Damon tinha um bom senso em detectar mentiras... as mentiras que as pessoas contam a si mesmas e aquelas que elas contam às outras pessoas. Quando éramos jovens, tínhamos um tutor... um padre, nada menos... de quem eu gostava e meu pai confiava, e Damon detestava. Quando o homem fugiu com o ouro de meu pai e uma jovem das redondezas, Damon foi o único que não ficou surpreso — Stefan sorriu para Elena. — Ele disse que os olhos daquele padre eram maus. E que ele falava muito mansamente.
  Stefan encolheu os ombros.
  — Meu pai e eu nunca notamos. Mas Damon sim.
  Elena sorriu tremulamente.
  — Ele sempre sabia quando eu não estava sendo completamente honesta com ele.
  Ela teve um súbito lampejo de memória: dos olhos profundamente negros de Damon prendendo os dela, suas pupilas dilatadas como as de um gato, sua cabeça se inclinando quando seus lábios se encontravam. Ela olhou para longe dos olhos verdes e quentes de Stefan, tão diferentes dos olhos negros de Damon, e torceu o caule grosso da Queen Anne em volta das outras flores. Quando o buquê estava amarrado bem forte, ela o colocou no túmulo dos pais.
  — Sinto falta dele — Stefan disse baixinho. — Houve um tempo que eu teria pensado... que sua morte teria sido um alívio. Mas estou tão feliz que nos aproximamos... que éramos novamente irmãos... antes de ele morrer.
  Ele colocou com gentileza uma mão embaixo do queixo de Elena e inclinou sua cabeça para sua, assim ela poderia encontrar seus olhos novamente.
  — Eu sei que você o amava, Elena. Tudo bem. Você não tem que fingir.
  Elena deu um pequeno arfar de medo.
  Era como se houvesse um buraco negro dentro dela. Ela poderia rir, sorrir e maravilhar-se com a cidade; ela poderia amar sua família; mas o tempo todo havia essa dor estúpida, esse terrível senso de perda.
  Deixando suas lágrimas saíram finalmente, Elena caiu sobre os braços de Stefan.
  — Oh, meu amor — ele disse, sua voz de embaraço, e eles choraram juntos, tendo conforto nos braços um do outro.

  Finas cinzas estavam caindo há um bom tempo. Agora elas pousavam e a pequena lua do Mundo Subterrâneo estava coberta com pilhas pegajosas poeira. Aqui e ali, um fluido opalescente se agrupava contra a escuridão carbonizada, colorindo-a com um arco-íris de mancha de óleo.
  Nada se movia. Agora que a Grande Árvore se desintegrara, nada vivia nesse planeta.
  Bem abaixo da superfície da lua em ruínas havia um corpo. Seu sangue envenenado havia parado de fluir e ele se deitava imóvel, sem ser visto. Mas as gotas do fluido enriqueciam sua pele, nutria-o, e o tamborilar lento de vida mágica batia constantemente.
  De vez em quando um lampejo de consciência aumentava dentro dele. Ele havia se esquecido de quem era e como havia morrido. Mas havia uma voz em algum lugar dentro de suas profundezas, uma luz, ele sabia que possuía uma doce voz, que dizia: Feche seus olhos agora. Pode ir. Pode ir. Vai. Era reconfortante, e seu último lampejo de consciência durou por mais tempo, somente para ouvir isto. Ele não conseguia se lembrar a quem pertencia a voz, embora algo nela fazia com que ele se lembrasse da luz do sol, de ouro e lápis-lazúli.
  Pode ir. Ele estava se esvaindo, a última faísca de escuridão, mas estava tudo bem. Era quente e confortável, e ele estava pronto para partir agora. A voz o levaria até... para onde quer que ele fosse.
  Quando a centelha de consciência estava prestes a sumir pela última vez, uma outra voz — mais afiada, mais dominadora, a voz de alguém que ele costumava ter suas ordens obedecidas — falou dentro dele.
  Ela precisa de você. Ela está em perigo.
  Ele não podia partir. Ainda não. Aquela voz o puxou dolorosamente, segurando-o à vida.
  Com um choque profundo, tudo mudou. Como se ele tivesse sido arrancado daquele lugar gentil e acolhedor, ele de repente estava com frio. Tudo doía.
  Nas profundezas das cinzas, seus dedos se contraíram.

Um comentário:

  1. Ameeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!
    Quando estarão os capítulos seguintes????
    Tô doida para ler.

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