Leitura Semanal - Diários do Vampiro, o retorno: Meia-Noite #16
Sinopse: Elena retorna da Dimensão das Trevas, tendo liberto seu namorado vampiro Stefan Salvatore do aprisionamento... Mas não sem uma consequência. Sua salvação custará bastante. Ainda se recuperando do último choque, eles são forçados a encarar os demônios que dominaram Fell's Church. Elena deve tomar uma decisão que custará seu amor: Damon ou Stefan?
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Capítulo
28
Elena estava
concordando bem devagar.
— Isso poderia explicar com o que aconteceu comigo. Estava sozinha na
minha experiência fora de corpo, mas então vi Bonnie ao meu lado.
Bonnie mordeu seu lábio.
— Bem... A primeira coisa que eu
vi foi Elena e onde estávamos voando. Eu estava um pouco atrás dela. Mas,
Stefan, por que você acha que caí no sono e dormi a história inteira? Por que a
minha versão não pode ser a verdadeira?
— Porque eu acho que a primeira coisa que você faria seria acender a
luz... Se você realmente estivesse deitada, acordada. Caso contrário, você poderia
ter pegado uma novela… Bem chata!
Por fim a testa de Bonnie se suavizou.
— Isso explicaria por que ninguém acreditou em mim quando eu contei
exatamente onde a história estava! Mas por que eu não contei à Elena sobre o
tesouro?
— Eu não sei. Mas, às vezes, quando você acorda… E eu acho mesmo que você
acordou para ter a experiência fora do corpo... Você se esquece do sonho se
algo interessante está acontecendo. Mas então você deve se lembrar dele mais
tarde, se algo faz com que você pense nele.
Bonnie olhou para longe, pensativa. Stefan estava em silêncio, sabendo
que só ela poderia desvendar este enigma.
Por fim, Bonnie concordou.
— Pode ser isso mesmo! Eu acordei e a primeira coisa que eu pensei foi
na loja de doces. E depois disso eu nunca mais pensei no sonho sobre o tesouro
até que alguém me perguntou a respeito de histórias. E ela simplesmente
apareceu na minha cabeça.
Elena puxou a colcha de veludo azul-verde de uma maneira que o
transformou em verde, para então transformá-lo na cor azul.
— Eu estava prestes a proibir Bonnie de ir nesta expedição. — Ela, a
escrava que não tinha uma joia em seu corpo, exceto pelo pingente de Stefan que
pendia em uma corrente fina em volta do pescoço, e era bem mais simples que o
robe, disse. — Mas se isto for algo que temos
de fazer, eu preferiria falar com Lady Ulma. Parece que o tempo é precioso.
— Lembre-se: o tempo que passa aqui é diferente do que passa na Terra.
Mas devemos sair pela manhã. — Bonnie disse.
— Então, eu definitivamente preciso falar com ela... Neste instante.
Bonnie pulou, animada.
— Eu vou ajudar.
— Espere — Stefan colocou sua mão gentilmente no braço de Bonnie. — Eu
tenho que dizer isso. Eu acho que você é um milagre, Bonnie!
Stefan sabia que seus olhos deviam estar brilhando de um jeito que
mostrasse que ele não podia conter sua animação. Apesar do perigo... Apesar dos
Guardiões... Apesar de tudo... Até mesmo da Esfera Estelar... Cheia de Poder!
Ele deu um súbito abraço impetuoso em Bonnie, tirando-a da cama
girando-a no ar antes de colocá-lo no chão novamente.
— Você e suas profecias!
— Oooh... — Bonnie disse atordoada, olhando para ele. — Damon estava
animado, também, quando eu disse a ele sobre o Portal dos Sete Tesouros.
— E você sabe por que, Bonnie? Porque todos já ouviram falar sobre esses sete tesouros... Mas ninguém tinha ideia de onde eles
estavam... Até que você sonhou com eles. Você sabe exatamente onde eles estão?
— Sim, se a profecia for verdadeira. — Bonnie estava corada de prazer. —
E você concorda que aquela Esfera Estelar gigante salvará Fell’s Church?
— Eu apostaria minha vida nisto!
— Woo-hoo! — Gritou Bonnie, erguendo os punhos. — Vamos nessa!
— Entenda — Elena estava dizendo —, vamos precisar do dobro de tudo. Não
sei como podemos começar amanhã.
— Ei, ei, Elena. Como descobrimos, onze meses atrás, quando vocês se
foram, todo trabalho pôde ser feito rapidamente enquanto convocávamos mãos o
suficiente. Agora, eu sou a empregadora regular de todas aquelas mulheres que
costumávamos chamar para fazer vestidos para os seus bailes.
Enquanto Lady Ulma falava, ela rapida e graciosamente tirou as medidas
de Elena — por que fazer apenas uma coisa quando você pode fazer duas ao mesmo
tempo?
— Ainda do mesmo jeito desde a última vez em que te vi. Você deve levar
uma vida bem saudável, Elena.
Elena riu.
— Lembre-se, para nós se passaram somente alguns dias.
— Ah, sim.
Lady Ulma riu, também, e Lakshmi, que estava sentada em um banquinho,
entretendo a bebê, fez o que Elena soube que era um último apelo.
— Eu poderia ir com vocês. — Ela disse sinceramente, olhando para Elena.
— Eu posso fazer todos os tipos de coisas úteis. E eu sou durona...
— Lakshmi — Lady Ulma disse gentilmente, mas em uma voz que mostrava
autoridade. —, nós já estamos dobrando o tamanho do guarda-roupa para acomodar
Elena e Stefan. Você não gostaria de tomar o lugar de Elena, não é?
— Ah, não, não. — A jovem disse às pressas. — Ah, bem — Ela disse. —, eu
tomarei conta da pequena Adara para que ela não te incomode enquanto você
supervisiona as roupas de Elena e Stefan.
— Obrigada, Lakshmi — Elena disse de coração, notando que Adara parecia
ser o nome oficial da bebê.
— Bem, não podemos fazer com que as roupas de Bonnie caibam em você, mas
podemos chamar reforços e teremos uma série completa de roupas prontas para
você e Stefan de manhã. São só alguns couros e peles para deixá-los aquecidos.
Utilizamos as peles dos animais no norte.
— Elas não vêm de filhotes de animais agradáveis e fofinhos. — Bonnie
disse. — Vêm de coisas cruéis e desagradáveis que são usadas para treinamento,
ou elas podem vir de outra dimensão e atacar todas as pessoas na periferia do
norte daqui. E quando elas finalmente são mortas, os caçadores de recompensa
vendem o couro e peles para Lady Ulma.
— Ah, bem... Que bom. — Elena disse, decidindo não fazer um discurso aos
direitos dos animais agora.
A verdade era que ela ainda estava trêmula com suas ações — suas reações
— contra Damon. Por que ela tinha que agir daquele jeito? Foi só um modo de
extravasar a pressão? Ela ainda podia sentir como se ela pudesse machucá-lo por
levar a coitada da Bonnie, deixando-a sozinha logo em seguida. E... E... Por
levar a pobrezinha da Bonnie… E não ter
levado ela!
Damon devia odiá-la agora, ela pensou, e de
repente o mundo fez um movimento doentio e fora do controle, como se ela
estivesse tentando se equilibrar em uma gangorra. E Stefan... O que mais ele
poderia pensar a não que ela era uma mulher desprezada, com o tipo de fúria que
não havia nem no inferno? Como ele pôde ser tão gentil, tão carinhoso, quando
todos teriam o direito de pensar que ela só havia ficado brava por causa do
ciúme? Bonnie também não entendia. Bonnie era uma menina, não uma mulher. Apesar,
apesar dela ter amadurecido, de alguma forma… Na bondade, na compreensão. Ela
era deliberadamente cega, assim como Stefan. Mas... Isso não significava que a
pessoa tinha maturidade?
Será que Bonnie podia ser mais mulher do que ela, Elena?
— Mandarei um jantar privado para os seus quartos. — Lady Ulma estava
dizendo, enquanto ela rapida e habilmente usava a fita métrica em Stefan. —
Vocês precisam de uma boa noite de sono; os thurgs...
E os guarda-roupas... Estarão esperando amanhã de manhã.
Ela sorriu para todos eles.
— Eu poderia... Quer dizer, há um pouco de Black Magic? — Elena
tropeçou. — Que animação... Vou dormir sozinha no meu quarto. Quero ter uma boa
noite de sono. Vamos em uma jornada, sabia?
Era a verdade, mas ainda assim era uma mentira.
— Claro, eu mandarei uma garrafa para... — Lady Ulma hesitou e então
rapidamente recuperou-se: — Para o seu quarto, mas por que nós todos não
tomamos uma bebida agora? O tempo sempre é o mesmo lá fora — Ela adicionou para
Stefan, o recém-chegado —, mas está bem tarde.
Elena bebeu seu primeiro copo de uma só vez. A servente teve que
reenchê-lo imediatamente.
E novamente, um momento mais tarde. Depois disso, seus nervos pareciam
relaxar um pouco. Mas o sentimento de estar em uma gangorra não a abandonou
completamente, e embora ela tenha dormido sozinha em seu quarto, Damon não a
visitou para brigar com ela, zombar dela, matá-la... E certamente nem para
beijá-la.
Thurgs, Elena descobriu,
eram algo parecido com dois elefantes costurados juntos. Cada um tinha dois
troncos que ficavam lado a lado e presas com a aparência perversa. Cada um
também tinha uma alta, grande e longa cauda enrugada, como um réptil. Seus
pequenos olhos amarelos foram colocados ao redor de suas cabeças abobadadas
para que pudessem ver 360 graus ao seu redor, olhando para os predadores.
Predadores que poderiam derrubar um thurg!
Elena imaginou uma espécie imensa de gato com dentes de sabre, branco
como o leite e grande o suficiente para carregar as várias roupas dela e de
Stefan. Ela ficou satisfeita com suas novas roupas. Cada uma era essencialmente
uma túnica e calça, maleáveis e macias, com couro do lado de fora; e peles
acolhedouras e luxuosas por dentro.
Mas elas não seriam criações genuínas de Lady Ulma se elas só fossem feitas
daquilo. O macacão interior da pele branca era reversível e removível para que
você pudesse mudar, dependendo do clima. Havia o triplo da espessura na área do
colarinho, que era preso por trás ou poderiam ser transformado em uma scarf que
tamparia o rosto até a área dos olhos. As peles brancas soltavam couro pelos
pulsos para fazer luvas para que você não as perdesse.
Os garotos tinham túnicas retas de couro que acabavam onde ficavam as
calças, e que se fechavam com botões. As túnicas das garotas eram mais longas e
dilatavam-se um pouco. Elas eram perfeitamente franjadas, não manchadas ou
tingidas, exceto pela de Damon, que, é claro, era preto com pele de zibelina.
Um thurg carregaria os
viajantes e suas bagagens. O segundo, maior e com aparência mais selvagem,
carregaria pedras pré-aquecidas para ajudar a cozinhar a comida dos humanos e
toda a comida (que parecia feno vermelho) que dois thurgs comeriam até chegarem ao Mundo Inferior.
Pelat mostrou a eles como mover as gigantes criaturas, com o mais leve
dos toques de uma vara muito longa, que poderia arranhar um thurg por detrás das orelhas que
pareciam a de um hipopótamo, ou dar um toque feroz em um ponto sensível,
assinalando que era para se apressar.
— É seguro, sendo que Biratz está carregando toda a comida de thurg? Pensei ter ouvido você dizer que
ela era imprevisível. — Bonnie perguntou à Pelat.
— Ora, senhorita, eu não a daria para você se ela não fosse segura. Ela
estará amarrada a Dazer, então, tudo o que ela tem de fazer é segui-lo. — Pelat
respondeu.
— Vamos andar nisto? — Stefan disse, esticando o pescoço para dar uma
olhada na pequena e fechada liteira em cima do animal muito grande.
— É preciso. — Damon disse sem rodeios. — Dificilmente poderíamos andar
o caminho todo. Não temos permissão de usar magia como aquela Chave Mestra
chique que vocês usaram para chegar aqui. Nenhuma magia, a não ser telepatia,
funciona no topo da Dimensão das Trevas. Essas dimensões são planas como pratos
e, de acordo com Bonnie, há uma ruptura, no extremo norte... Não tão longe
daqui, em outras palavras. A rachadura é pequena para os padrões dimensionais,
mas grande o bastante para nós passarmos. Se quisermos alcançar a Casa de
Portais dos Sete Tesouros Kitsune, começaremos pelos thurgs.
Stefan deu de ombros.
— Certo. Faremos do seu jeito.
Pelat estava colocando uma escada. Lady Ulma, Bonnie e Elena, juntas,
estavam chorando e rindo em cima da bebê.
Elas ainda estavam rindo quando eles partiram.
A primeira semana foi entediante. Eles sentaram na liteira de costas
para o thurg chamado Dazar, com a
bússola da mochila de Elena pendurada no telhado. Eles geralmente mantinham
todos os lados das cortinas da liteira enroladas, exceto a de frente para o
oeste, onde o sol vermelho-sangue e envaidecido — brilhante demais para se
olhar de uma grande altura — limpava os arredores da cidade... Constantemente
parado no horizonte. A visão em volta deles era terrivelmente monótona — com
poucas árvores e muitos quilômetros de secas colinas marrons relvados. Nada de
interessante para um não-caçador apareceu. A única coisa que mudou foi que,
enquanto eles viajavam para o norte, ficava mais frio.
Foi difícil para todos eles, viver tão próximo. Damon e Elena acharam um
equilíbrio — ou pelo menos a pretensão — de se ignorarem, algo que Elena jamais
pensou ser possível. Damon tornou as coisas mais fáceis ao fazer um ciclo de
sono diferente dos demais — o que os protegeu enquanto os thurgs marchavam dia e noite. Se ele estivesse acordado quando
Elena estava, ele viajaria do lado de fora da liteira, no enorme pescoço do thurg.
Ambos tinham cabeça-dura, Elena pensou. Nenhum deles queria ser o
primeiro a ceder.
Enquanto isso, aqueles que estavam dentro da liteira começaram a jogar
pequenos joguinhos, como escolher ervas longas e secas ao lado da estrada e
tentando tecê-las em bonecas, fazer com que voassem vassouras, chapéus e
chicotes. Stefan provou ser aquele que tecia melhor, e ganhou fãs no quesito de
ventiladores e vassouras voadoras.
Eles também jogaram vários tipos de jogos de carta, usando cartões
feitos para reservar lugares em eventos (será que Lady Ulma pensou que eles
poderiam dar uma festa no caminho?) como cartas de baralho, depois de
cuidadosamente marcá-los com os quatro naipes. E, é claro, os vampiros caçaram.
Às vezes parecia que demorava tempo demais, pois os jogos eram escassos.
O Black Magic que Lady Ulma havia abastecido ajudou a esticar o tempo
entre as caçadas.
Quando Damon visitou a liteira, parecia que ele estava invadindo uma
festa privada e encarando de frente os anfitriões.
Finalmente, Elena não pôde mais aguentar, e teve Stefan flutuando-a ao
lado do thurg (olhar para baixo ou
ficar subindo e descendo não eram opções) enquanto a magia de voar ainda
funcionava. Ela sentou na sela ao lado do Damon e reuniu sua coragem.
— Damon, eu sei que você tem o direito de estar bravo comigo. Mas não
desconte nos outros. Especialmente em Bonnie.
— Outro sermão? — Damon perguntou, dando a ela um olhar que congelaria
uma chama.
— Não, é só um... Um pedido. — Ela não teve coragem de dizer “um apelo”.
Quando ele não respondeu e o silêncio tornou-se insuportável, ela disse:
— Damon... Nós não estamos indo em busca de um tesouro por ganância,
aventura ou qualquer razão normal. Estamos indo por que precisamos salvar a
nossa cidade.
— Da Meia-Noite. — Uma voz bem atrás deles disse. — Da Última
Meia-Noite.
Elena se virou para olhar. Ela esperava ver Stefan segurando Bonnie
fortemente. Mas era apenas Bonnie, sua cabeça somente visível, pendurada na
escada do thurg.
Elena esqueceu que ela tinha medo de altura. Ela se levantou sobre o thurg balançante, preparada para descer
pelo lado do Sol, caso não houvesse espaço o suficiente para Bonnie sentar-se
rapidamente na sela do motorista. Mas Bonnie tinhas os quadris mais finos da
cidade e havia espaço para três deles.
— A Última Meia-Noite está chegando. — Bonnie repetiu.
Elena conhecia aquela voz monótona, conhecia aquelas bochechas
braço-giz, os olhos embranquecidos. Bonnie estava em transe — e estava se
movendo. Devia ser urgente.
— Damon — Elena sussurrou. — Se eu falar com ela, ela sairá do transe.
Você pode perguntar telepaticamente para ela o que ela quer dizer?
Um momento mais tarde ela ouviu a projeção de Damon:
O que é a Última Meia-Noite? O que
vai acontecer?
— É quando tudo começa. E tudo acabará em menos de uma hora. Então, não
haverá mais meias-noites.
Como é? Não haverá mais
meias-noites?
— Não em Fell’s Church. Não sobrará ninguém para vê-los.
E quando isso vai acontecer?
— Hoje à noite. As crianças já estão prontas.
As crianças?
Bonnie simplesmente concordou, seu olhar estava distante.
Algo vai acontecer com todas as
crianças?
As pálpebras de Bonnie meio que se fecharam. Ela parecia não ter ouvido
a pergunta.
Elena
precisava se segurar em alguma coisa. E de repente ela se segurou. Damon havia
passado por cima do colo de Bonnie e pego sua mão.
Bonnie, as crianças farão alguma coisa à meia-noite? Ele
perguntou.
Os olhos de Bonnie se fecharam e ela abaixou a cabeça.
— Temos que voltar. Temos que ir à Fell’s Church. — Elena disse, mal
sabendo o que ela estava fazendo, soltou a mão de Damon e desceu a escada. O
Sol vermelho envaidecido parecia diferente... Menor. Ela puxou a cortina e
quase colidiu de frente com Stefan enquanto ele dava espaço para ela entrar.
— Stefan, Elena está em transe e ela disse...
— Eu sei. Eu estava escutando. Eu nem pude segurá-la enquanto ela se
levantava. Ela saltou em direção a escada e subiu como um esquilo. O que você
acha que ela quis dizer?
— Você se lembra da experiência fora do corpo que ela eu tivemos? Dando
uma espiadinha em Alaric? É isso que vai acontecer à Fell’s Church. Todas as
crianças, de uma vez só, à meia-noite… É por isso que temos que voltar.
— Calma. Calma, amor. Lembra do que a Lady Ulma disse? Quase um ano se
passou por aqui, enquanto no nosso mundo foram somente alguns dias.
Elena hesitou. Era verdade, ela não podia negar. Ainda assim, ela
sentia-se tão fria. Fisicamente fria, ela percebeu de repente, enquanto um
sopro de ar gelado girava ao seu redor, cortando seu couro como um facão.
— Precisamos de nossas peles. — Elena arfou. — Devemos estar perto da
rachadura.
Eles abaixaram as cortinas da liteira, mantendo-os seguros, e, em
seguida, às pressas, vasculharam o armário elegante que estava na garupa do thurg.
As peles eram tão macias que Elena pôde colocar duas com facilidade.
Eles ficaram aturdidos com Damon entrando com Bonnie em seus braços.
— Ela parou de falar. — Ele disse, e adicionou: — Quando vocês estiverem
aquecidos o bastante, sugiro que vocês vão lá fora.
Elena colocou Bonnie embaixo de dois bancos no interior da liteira e
empilhou vários cobertores sobre ela, prendendo-os em torno dela. Em seguida,
Elena subiu novamente.
Por um instante ela se sentiu cega. Não pelo Sol ríspido e avermelhado —
eles o deixaram para trás depois de algumas montanhas, no qual se transformou
em uma safira cor rosa —, mas sim pelo mundo branco.
Aparentemente interminável, uma brancura plana e inexpressiva se
estendeu diante dela até que um nevoeiro obscureceu o que quer que estivesse
por detrás daquilo.
— De acordo com a lenda, devemos seguir para o Lago Prateado da Morte.
A voz de Damon disse por detrás de Elena. E, ao longo de todo esse frio,
sua voz era quente — quase amigável.
— Também conhecido como Lago do Espelho. Mas eu não posso me transformar
em um corvo para explorar mais adiante. Algo está me impedindo. E essa névoa
diante de nós é impenetrável à sondagem psíquica.
Elena instintivamente olhou ao seu redor. Stefan ainda estava dentro da
liteira, obviamente ainda cuidando de Bonnie.
— Você está procurando por um lago? Como ele se parece? Quer dizer, eu
deduzo o porquê de ele ser chamado de Prateado e Lago do Espelho. — Ela disse.
— Mas e quanto a parte da “Morte”?
— Dragões aquáticos. Pelo menos, é o que as pessoas dizem... Mas quem já
esteve lá para contar a história?
Damon olhou para ela.
Ele tomou conta de Bonnie enquanto ela estava em transe, Elena pensou. E
finalmente ele está falando comigo.
— Dragões... Aquáticos? — Ela perguntou para ele e fez com que sua voz
ficasse amigável, também.
Como se eles tivessem acabado de se conhecer. Eles estavam recomeçando.
— Eu mesmo sempre acreditei no kronosauro. — Damon disse.
Ele
estava bem atrás dela agora; ela pôde senti-lo bloqueando o vento gélido...
Não, mais que isso. Ele estava criando uma camada de calor para que ela ficasse
dentro. A tremedeira de Elena parou. Pela primeira vez, ela sentiu ser capaz de
descruzar os braços.
E então ela sentiu um par de braços fortes fechando-se ao seu redor, e o
calor abruptamente ficou intenso.
Damon estava parado atrás dela, abraçando-a, e de repente ela estava
muito quente mesmo.
— Damon — Ela começou, sem muita firmeza —, nós não podemos...
— Há uma rocha aparecendo ali na frente. Ninguém poderia nos ver. — O
vampiro atrás dela ofereceu, para a surpresa absoluta de Elena.
Uma semana inteira sem nem conversar... E agora isso.
— Damon, o cara dentro da liteira, bem atrás de nós, é meu...
— Príncipe? Você, então, não precisa de um cavaleiro? — Damon respirou
isso diretamente em seu ouvido.
Elena congelou como uma estátua. Mas o que ele disse em seguida sacudiu
seu universo inteiro.
— Você é como a história de Camelot, sabia? Só que aqui você é a rainha, princesa. Você se casou
com seu príncipe não tão parecido com os dos contos de fadas, mas seguiu seu
cavaleiro, que sabia mais sobre seus segredos, ele te chamou...
— Ele me forçou. — Elena disse, virando-se para encontrar diretamente os
olhos escuros de Damon, mesmo quando seu cérebro gritava para deixá-lo ir. —
Ele não esperou que eu ouvisse sua proposta. Ele simplesmente... Pegou o que
ele queria. Como traficantes de escravos fazem. Eu não sabia como lutar contra
isso.
— Oh, não. Você lutou e lutou. Nunca vi uma humana lutar tanto. Mas
mesmo enquanto você lutava, você sentia meu coração chamando o seu. Tente negar
isso.
— Damon... Por que agora… Tão de repente?
Damon fez um movimento como se fosse se afastar, então voltou.
— Porque amanhã podemos estar mortos. — Ele disse sem rodeios. — Eu
queria que você soubesse o que eu sinto por você antes de eu morrer... Ou antes
de você morrer.
— Mas você não me disse uma palavra sobre como você se sente sobre mim.
Só sobre o que você pensa que eu
sinto sobre você. E desculpe por eu
ter batido em você no primeiro dia em que eu estive aqui, mas...
— Você foi magnífica. — Damon disse escandalosamente. — Esqueça isso
agora. Sobre como eu me sinto... Talvez eu tenha a chance de mostrar-lhe algum
dia.
Algo despertou dentro de Elena: eles estavam evitando palavras, assim
como eles fizeram na primeira vez em que se conheceram.
— Algum dia? Parece conveniente. E por que não agora?
— O que quer dizer?
— Eu tenho o hábito de dizer coisas sem sentido?
Ela estava esperando por algum tipo de pedido de desculpas, algumas
palavras ditas de forma simples e sincera iguais as que ela havia falado para
ele. Ao invés disso, com uma delicadeza extrema e sem olhar em volta para ver se
alguém estava olhando para eles, Damon segurou a scarf de Elena, puxou com os
polegares o lenço longo por debaixo dos lábios dela, e a beijou suavemente.
Suavemente — mas não de forma breve — e algo dentro de Elena continuava
sussurrando para ela que era óbvio
que ela havia ouvido seu coração lhe chamando, desde a primeira vez em que ela
o viu, desde a primeira vez que a aura dele chamou por ela. Ela não sabia o que
era aura naquela época; ela não acreditava em auras. Ela não acreditava em
vampiros. Ela havia sido uma idiotinha ignorante...
Stefan! Uma voz parecida com
cristal soou duas notas abaixo, em seu cérebro, e de repente ela foi capaz de
sair dos braços de Damon e olhar para a liteira novamente.
Nenhum sinal de movimento por ali.
— Eu tenho que voltar. — Ela disse a Damon bruscamente. — Eu tenho que
saber o que está acontecendo com Bonnie.
— Você quer dizer o que está acontecendo com Stefan. — Ele disse. — Não
é preciso se preocupar. Ele dormiu rapidamente, assim como nossa garotinha.
Elena ficou tensa.
— Você os Influenciou? Sem vê-los?
Era um palpite, mas um lado da boca de Damon se entortou, como se a
estivesse parabenizando.
— Como você se atreve? — Ela
disse.
— Para falar a verdade, eu não sei bem como pude ser tão ousado.
Damon
inclinou-se novamente, mas Elena se esquivou, pensando:
Stefan!
Ele não pode te ouvir. Ele está sonhando com
você.
Elena ficou surpresa com sua reação em relação
a isso. Damon havia atraído e prendido os olhos dela novamente. Algo dentro
dela derreteu na intensidade de seu firme olhar negro.
— Não estou te Influenciando. Dou minha palavra. — Disse em um sussurro.
— Mas você não pode negar o que aconteceu entre nós da última vez em que
estivemos nesta dimensão.
A respiração dele estava sobre seus lábios agora... E Elena não desviou.
Ela tremia.
— Por favor, Damon. Demonstre um pouco de respeito. Estou... Ai, Deus! Meu Deus!
— Elena? Elena!
Elena! O que foi?
Dói…
Isso foi tudo que Elena pôde pensar. Uma terrível agonia passou através
de seu peito, do lado esquerdo. Como se tivesse sido apunhalada no coração. Ela
sufocou um grito.
Elena, fale comigo! Se você não
consegue enviar seus pensamentos, fale!
Através de seus lábios dormentes, Elena disse:
— Dor... Ataque cardíaco...
— Você é jovem e saudável demais para isso. Deixe-me checar.
Damon foi tirando sua blusa. Elena deixou. Ela não podia fazer nada por
si mesma, exceto arfar:
— Ai, meu Deus! Isso dói!
As mãos quentes de Damon estavam dentro do couro das peles. A mão dele descansou
em um ponto à esquerda, com somente a camisola dela ficando entre as mãos dele
e sua carne.
Elena, eu vou tirar sua dor.
Confie em mim.
Enquanto falava, a angústia do esfaqueamento foi drenada. Os olhos de
Damon se estreitaram, e Elena sabia que ele tinha tomado a dor para si mesmo,
para analisá-la.
— Não é um ataque cardíaco — Ele disse um momento mais tarde. — Estou
certo disto. Está mais para... Bem, como se você tivesse levado uma estaca no
coração. Mas isso é bobagem. H’mm... Foi embora.
Para Elena, a dor havia ido embora no momento que ele havia tirado dela,
protegendo-a.
— Obrigada. — Ela respirou, de repente percebendo que ela havia se
agarrado a ele, em terror absoluto de que estivesse morrendo. Ou de que ele
estava.
Ele deu a ela um sorriso raro, completo e genuíno.
— Ambos estamos bem. Deve ter sido uma câimbra. — Seu olhar caiu para
seus lábios. — Eu mereço um beijo?
— Eu...
Ele havia lhe dado conforto; havia tirado sua dor terrível. Como ela
poderia dizer não?
— Só um. — Ela sussurrou.
Uma mão sobre seu queixo. Suas pálpebras queriam se fechar, mas ela
arregalou os olhos e não se deixou levar.
Enquanto os lábios dele tocavam os dela, o braço dele ficou ao seu
redor... De uma forma diferente. Ele não estava mais tentando contê-la. Parecia
estar querendo confortá-la. E quando sua outra mão acariciou seus cabelos,
suavemente nas pontas, apertando as ondas gentilmente e delicadamente
alisando-as, Elena sentiu uma onda de tremor.
Damon não estava tentando abatê-la deliberadamente com sua aura, que no
momento estava preenchida com seus sentimentos por ela. O simples fato, porém,
era que ele era um vampiro recém-criado, era excepcionalmente forte e sabia
todos os truques de um experiente. Elena sentiu como se estivesse pisando em
águas calmas e claras, só para então encontrar-se presa em uma correnteza
violenta, sem haver nenhuma resistência, sem negociação e, sem dúvida alguma,
sem possibilidade de se chegar à razão. Ela não teve escolha a não ser se
render a isto e esperar que isso a levasse, eventualmente, a um lugar onde ela
pudesse respirar e viver. Caso contrário, ela iria se afogar... Mas até mesmo
essa possibilidade não parecia ser tão terrível, agora que ela podia ver que a
maré era feita de uma corrente brilhante igual a pérolas. Em cada uma delas
havia um pequeno brilho de admiração que Damon tinha por ela: pérolas de sua
coragem, pela sua inteligência, pela sua beleza. Parecia que não houvera nenhum
movimento que ela fizera, nenhuma breve palavra que ela dissera, que ele não
houvesse notado e trancado em seu coração como um tesouro.
Mas estivemos brigando desde então,
Elena pensou para ele, vendo na correnteza um momento brilhante de quando ela
havia discutido com ele.
Sim... Eu disse que você estava
magnífica quando ficou nervosa. Como uma deusa ao vir colocar o mundo nos
eixos.
Eu quero mesmo colocar o mundo nos eixos.
Não, os dois mundos: a Dimensão das Trevas e o meu mundo. Mas eu não sou uma
deusa.
De repente, ela percebeu aquilo sutilmente.
Ela era uma garota que não havia sequer concluído o ensino médio — e, em parte,
por causa da pessoa que ela estava beijando loucamente agora.
Oh, pense no que você está
aprendendo nesta viagem! Coisas que ninguém no universo sabe, Damon disse
em sua mente. Agora, preste atenção no
que você está fazendo!
Elena prestou atenção, não porque Damon
queria, mas porque ela não pôde evitar. Seus olhos se fecharam. Ela percebeu
que a maneira de acalmar aquele turbilhão de ondas havia se tornado parte dela,
sem ceder ou forçar Damon a fazer isso, mas fazendo com que ela fosse de
encontro à paixão que estava na maré que estava dentro de seu próprio coração.
Assim como ela, a maré se ficou selvagem, e ela estava voando e não se
afogando. Não, era melhor que voar, melhor que dançar; era o que o seu coração
sempre desejou. Um lugar alto onde nada poderia prejudicá-los ou perturbá-los.
E então, quando ela estava mais vulnerável, a dor veio novamente,
perfurando seu peito, um pouco para a esquerda. Desta vez, Damon estava tão ligado
à Elena que ele sentiu desde o começo. E ela pôde ouvir claramente a frase na
mente de Damon: estaqueamento é tão
eficaz em humano quanto em vampiros, e então o seu medo súbito de que isso
pudesse ser uma premonição.
Na sala balançante, Stefan estava dormindo, segurando Bonnie ao seu
lado, com um grande Poder engolfando os dois. Elena, que teve um bom controle
na subida da escada da liteira, entrou. Ela colocou uma mão no ombro de Stefan
e ele acordou.
— O que foi? Há algo de errado com ela? — Ela perguntou, com uma
terceira pergunta: — Você sabe?
Houve um zumbido dentro de sua cabeça.
Mas quando Stefan levantou seus olhos verdes para ela, eles estavam
simplesmente preocupados. Era evidente que ele não estava invadindo sua mente. Ele
estava inteiramente focado em Bonnie.
Graças a Deus que ele era um cavalheiro, Elena pensou pela milésima vez.
— Estou tentando deixá-la aquecida — Stefan disse. — Depois que ela saiu
do transe, ela estava tremendo. Então ela parou de tremer, mas quando eu peguei
sua mão, estava muito fria. Agora eu a cobri com uma camada de calor ao seu
redor. Acho que cochilei um pouco depois disso. — Ele adicionou. — Vocês
acharam alguma coisa?
Eu achei os lábios de Damon, Elena pensou selvagemente, mas ela se
forçou a esquecer a lembrança.
— Estamos procurando pelo Lago Prateado da Morte. — Ela disse. — Mas
tudo que eu pude ver foi uma brancura. A neve e a névoa seguem eternamente.
Stefan assentiu.
Em seguida, ele cuidadosamente atravessou a distância de ar e abaixou a
mão para tocar a bochecha de Bonnie.
— Ela está ficando mais quente. — Ele disse, e sorriu.
Demorou um tempo antes que Stefan estivesse convencido de que Bonnie
estava aquecida. Quando ele se convenceu, ele gentilmente a desembrulhou do ar
quente que havia formado um “envelope” e a colocou em um banco, vindo sentar-se
com Elena, no outro. Eventualmente Bonnie suspirou, piscou e abriu os olhos.
— Eu cochilei. — Ela disse, obviamente ciente de que ela havia perdido a
noção do tempo.
— Não exatamente. — Elena disse, mantendo sua voz gentil e
reconfortante.
Vamos ver, como Meredith faria isso?
— Você entrou em transe, Bonnie. Você se lembra de algo sobre isso?
Bonnie disse:
— Sobre o tesouro?
— Para quê o tesouro serve — Stefan disse quietamente.
— Não... Não...
— Você disse que essa era a Última Meia-Noite. — Elena disse.
O tanto que ela pôde se lembrar era que Meredith seria bem direta.
— Mas acho que você estava falando em voltarmos para casa — Ela
adicionou apressadamente, vendo medo nos olhos de Bonnie.
— A Última Meia-Noite... Sem uma manhã no dia seguinte. — Bonnie disse.
— Eu acho... Que já ouvi alguém dizendo essas palavras. Mas não lembro quem.
Ela estava tão arisca quanto um potro selvagem. Elena lembrou-se sobre
como o tempo passava de forma diferente entre os dois mundos, mas não parecia
consolá-la. Finalmente, Elena apenas sentou-se ao lado dela e a abraçou.
Sua cabeça girava com pensamentos sobre Damon. Ele a tinha perdoado.
Isso era bom, embora ele tivesse levado um tempo para fazer isso. Mas a
verdadeira mensagem era que ele estava disposto a compartilhar isso com ela. Ou, pelo menos, disposto a dizer que ele faria de tudo para que ela
o visse com bons olhos. Se ela o conhecesse por completo, se ela tivesse concordado.
Ai, Deus, ele poderia ter matado
Stefan. De novo. Afinal, foi isso que ele fez quando Katherine havia tido o
mesmo sentimento.
Ela nunca poderia pensar nele sem sentir saudade. Ela nunca poderia
pensar nele sem pensar em Stefan. Ela não tinha ideia do que fazer.
Ela estava em apuros.
Capítulo
29
— Oi! — Damon gritou do
lado de fora da liteira. — Alguém mais está vendo isso?
Elena estava. Tanto Stefan quanto Bonnie estavam com seus olhos
fechados; Bonnie estava embrulhada em cobertas e se aninhara próximo à Elena.
Eles haviam fechado todas as cotinas da liteira, exceto por uma.
Mas Elena tinha visto através da única janela, e viu como o nevoeiro
tinha começado a se formar aos poucos, como pequenos pedaços de névoa, mas, em
seguida, ao longe, como véus mais cheios e, finalmente, como cobertores,
engolindo-os por completo. Parecia que eles estavam sendo expulsos da perigosa
Dimensão das Trevas, que eles estavam passando por uma fronteira de um lugar
onde eles não deviam conhecer, muito menos entrar.
— Como vamos saber que estamos indo na direção certa? — Elena gritou
para Damon depois de Stefan e Bonnie acordarem.
Ela estava feliz por ser capaz de falar novamente.
— Os thurgs sabem. — Damon
gritou de volta. — Você os coloca em linha reta e eles andam nesta direção até
que alguém os pare, ou...
— Ou o quê? — Elena berrou para a abertura.
— Ou até que cheguemos a um lugar como este.
Essa, obviamente, devia ter sido a palavra-chave, pois nem Stefan ou
Elena poderiam insistir em não entendê-la... Especialmente quando os thurgs começaram a parar.
— Fica aqui. — Elena disse à Bonnie.
Ela fechou uma cortina e encontrou-se olhando para baixo, para o chão
branco.
Nossa, esses thurgs eram mesmo
grandes.
No próximo segundo, porém, Stefan estava no chão, com os braços abertos.
— Pule!
— Você não pode vir aqui e me flutuar para baixo?
— Desculpe. Algo neste lugar inibe Poder.
Elena ficou muito tempo pensando. Ela lançou-se no ar e Stefan a pegou
perfeitamente. Espontaneamente, ela se agarrou a ele e sentiu o conforto
familiar em seu abraço.
Então ele disse:
— Vem ver isso.
Eles chegaram a um lugar onde a terra acabava e a névoa tomava conta,
como cortinas em todos os lugares. Bem na frente deles tinha um lago congelado.
Um lago prateado congelado, quase perfeitamente redondo.
— Lago do Espelho? — Damon disse, inclinando a cabeça para um lado.
— Eu sempre pensei que fosse um conto de fadas. — Stefan disse.
— Sejam bem-vindos aos contos de fadas de Bonnie.
Lago do Espelho formava um vasto conjunto de águas na frente deles,
congeladas em uma camada de gelo abaixo de seus pés, ou era assim que parecia.
Ele parecia um espelho — um espelhinho de bolsa após ter sido suavemente
baforado por alguém.
— Mas e os thurgs? — Elena
disse, ou meio que suspirou. Ela não pôde evitar de suspirar.
— O lago silencioso pressionou-se sobre ela, assim como a falta de
qualquer tipo de som natural: não houve o canto dos pássaros, nem o ruído dos
arbustos. Sem arbustos! Sem árvores! Ao invés disso, apenas havia a névoa em
torno da água gelada.
— Os thurgs — Elena repetiu em
uma voz ligeiramente mais alta. — Eles não poderão passar por cima disso!
— Depende da espessura do lago — Damon disse, radiando seu velho sorriso
de duzentos e cinquenta quilowatts para ela. — Se for espesso o bastante, vai
ser igual andar sobre a terra para eles.
— E se não for?
— H’m... Thurgs boiam?
Elena deu-lhe um olhar exasperado e virou-se para Stefan.
— O que você acha?
— Eu não sei — Ele disse hesitantemente. — Eles são animais muito
grandes. Vamos perguntar para a Bonnie sobre as crianças no conto de fadas.
Bonnie, ainda envolta em cobertas de pele, que começaram a ganhar
pequenos pedaços de gelo enquanto eles desciam ao chão, olhava para o lago
severamente.
— A história não entra em detalhes. — Ela disse. — Só disse que eles
andaram, andaram e andaram, e que eles tiveram de passar por testes para
provarem sua coragem... E... E... Perspicácia... Antes de chegarem lá.
— Felizmente — Damon disse, sorrindo —, eu tenho o bastante de ambos
para compensar a falta destas qualidades em meu irmão...
— Para com isso, Damon! — Elena explodiu.
No momento em que ela tinha visto o sorriso, ela virou-se para Stefan,
puxando-o para mais perto de si, e começou a beijá-lo. Ela sabia o que Damon
veria quando ele virasse em direção a eles: ela e Stefan, presos em um abraço,
Stefan mal notando o que se estava sendo dito. Pelo menos eles ainda podiam se
tocar com suas mentes.
E isso era intrigante, Elena pensou, a boca de Stefan está quente quando
todo o resto do mundo está frio.
Ela olhou rapidamente para Bonnie, para ter certeza que ela não estava
chateada, mas Bonnie parecia bem alegre.
Quanto mais eu pareço me afastar de Damon, mais feliz ela fica, Elena
pensou. Ai, Deus... Isso é um
problema.
Stefan falou quietamente:
— Bonnie, você deve escolher o que devemos fazer. Não tente usar a
coragem ou perspicácia, somente seus sentimentos internos. Aonde vamos?
Bonnie deu uma olhadinha de volta nos thurgs, então olhou para o lago.
— Por aqui — Bonnie disse, sem hesitar, e ela apontou direto para o
lago.
— É melhor levarmos as pedras pré-aquecidas, comida e mochilas com ração
dentro. — Stefan disse. — Assim, se o pior acontecer, ainda teremos suprimentos
básicos.
— Além disso — Disse Elena —, isso aliviará a carga dos thurgs... Pelo menos um pouco.
Parecia um crime colocar uma mochila na Bonnie, mas ela insistiu.
Finalmente, Elena distribuiu para todos as roupas de pele quente e curiosamente
leves. Todo mundo carregava peles, alimentos e esterco — esterco seco de
animais que de agora em diante seria o único combustível.
Foi difícil no começo. Elena tinha pouca experiência com gelo — isso era
mais um motivo para ela ser cautelosa —, e uma dessas poucas vezes quase havia
sido desastroso para Matt. Ela estava pronta para pular e rodopiar a qualquer
sinal de rachadura... Qualquer sinal de gelo sendo quebrado. Mas não houve
rachaduras; nem água fluindo para molhar suas botas.
Os thurgs é que pareciam serem
feitos para andarem sobre águas geladas.
Seus pés eram pneumáticos, e podiam crescer para quase metade do seu
tamanho original, evitando colocar demasiada pressão sobre qualquer ponto de
gelo.
A travessia do lago foi demorada, mas Elena não viu nada de muito letal
nisso. O gelo era o mais suave e mais liso que ela já tinha visto. Suas botas
queriam patinar.
— Hey, pessoal!
Bonnie estava patinando,
exatamente como se estivesse em um rinque, para frente, para trás e para os lados.
— Isso é divertido!
— Não estamos aqui para nos divertir! — Elena gritou de volta.
Ela queria experimentar, mas tinha medo de fazer cortes — ou até mesmo
arranhões — no gelo. E, além disso, Bonnie estava gastando duas vezes mais
energia do que o necessário. Ela estava prestes a dizer isso a Bonnie, quando
Damon, em uma voz de irritação, disse tudo o que ela estava pensando, e um
pouco mais.
— Não estamos aqui para fazer um cruzeiro agradável — Ele disse
lentamente. — É para evitarmos o destino da sua cidade.
— Como se você se importasse. — Elena murmurou, dando-lhe as costas e
tocando a mão da infeliz Bonnie, tanto para dar-lhe conforto quanto para poder
deixá-la na altura da sua. — Bonnie, você sente algo mágico em relação ao lago?
— Não.
Mas
então a imaginação de Bonnie parecia voar em alta velocidade.
— Mas talvez aqui seja o lugar onde os místicos de ambas as dimensões se
juntam para trocar feitiços. Ou, talvez, onde eles usam o gelo como um
verdadeiro espelho mágico para ver lugares e coisas distantes.
— Talvez ambas as coisas. — Elena disse, secretamente se divertindo, mas
Bonnie concordara solenemente.
E foi aí que chegou. O som que Elena estava esperando.
Nem era um ruído distante que poderia ser ignorado ou discutido. Eles estavam
andando separados por um comprimento de um braço para evitar a perturbação do
gelo, enquanto os thurgs andavam para
todos os lados — como um bando de gansos sem líderes.
Esse ruído era uma rachadura terrivelmente próxima, como o tiro de uma
arma. Imediatamente, soou novamente, como uma chicotada e, em seguida, houve
uma rachadura.
E estava no lado esquerdo de Elena, ao lado de Bonnie.
— Patine, Bonnie — Ela berrou. — Patine o mais rápido que puder. Grite
se ver terra.
Bonnie não fez nenhuma pergunta. Ela partiu como uma patinadora olímpica
na frente de Elena, e Elena virou-se rapidamente.
Era Biratz, o thurg sobre o
qual Bonnie havia perguntado à Pelat. Ela tinha sua perna monstruosa afundada
no gelo, e enquanto se debatia, mais gelo se partia.
Stefan! Você pode me ouvir?
Vagamente. Estou indo até você.
Sim... Mas chegue o mais próximo possível
para que você possa Influenciar a thurg.
Influenciar a...?
Acalme-a, tire-a de lá, sei lá. Ela está
quebrando o gelo e isso só vai tornar mais difícil de ajudá-la!
Dessa vez houve uma pausa antes que a
resposta de Stefan viesse. Ela sabia, porém, pelos leves ecos, que ele estava
falando com outro alguém telepaticamente.
Certo, amor, eu farei isso. Eu
cuidarei da thurg, também. Você deve seguir a Bonnie.
Ele estava mentindo. Ou não, mas mantinha algo escondido dela.
A pessoa para quem ele esteve mandando pensamentos era Damon. Eles
estavam sendo indulgentes com ela. Eles nem ao menos queriam ajudar.
Nesse momento ela ouviu um grito estridente — não muito longe dali. Se
Bonnie estivesse com problemas... Não! Bonnie havia achado terra!
Elena não perdeu nem mais um segundo. Ela deixou sua mochila no gelo e
patinou direto para a thurg.
Lá estava ela, tão grande, tão patética, tão impotente. A mesma coisa
que os mantinha a salvo dos outros monstros Chefões da Dimensão das Trevas — em
sua maioria —, agora estava se voltando contra ela.
Elena sentiu seu peito apertar como se estivesse usando um espartilho.
Mesmo quando observava, porém, o animal tornava-se mais calmo. Ela parou de
tentar tirar sua perna para fora da água, o que significa que ela parou de
fazer esforço.
Agora Biratz estava em uma espécie de posição de agachamento, tentando
arrastar suas três pernas secas. O problema era que ela estava tentando muito,
e não havia nada para se empurrar exceto o gelo quebradiço.
— Elena! — Stefan estava ao alcance da voz agora. — Não chegue mais
perto!
Mas enquanto ele dizia isso, Elena viu um Sinal. Apenas a poucos metros
de distância, deitada sobre o gelo, estava a vara de fazer cócegas que Pelat
tinha usado para fazer com que os thurgs
andassem.
Ela a pegou, enquanto ela patinava até lá, e viu outro Sinal. Feno
vermelho e o revestimento original para o feno — uma lona gigante — estavam
deitados atrás da thurg. Juntos, eles
formavam um largo caminho que não era nem molhado, nem escorregadio.
— Elena!
— Isso vai ser fácil, Stefan!
Elena tirou um par de meias secas de seu bolso e colocou-as embaixo suas
botas. Ela prendeu a vara de cócegas em seu cinto. E então ela começou a correr
para caramba.
Suas botas eram de pele com algo a mais por baixo, e com as meias para
ajudá-las, elas se prenderam na lona, ajudando-a a seguir em frente. Ela se
inclinou para a lona, vagamente desejando que Meredith estivesse ali, para que
ela pudesse fazer aquilo em seu lugar, mas o tempo todo ela estava chegando
mais perto. E então ela viu sua meta: o fim da lona e, além dela, pedaços
flutuantes de gelo.
Mas a thurg parecia estar em
uma posição de escalada. O final de suas costas estava inclinado, parecendo um
dinossauro no meio de um poço de piche, mas, subido em sua espinha dorsal,
fazia uma curva. Se ela ao menos tivesse um meio de chegar até lá...
Dois passos até saltar. Um passo até saltar.
SALTE!
Elena pulou com o pé direito, voou pelo ar
por tempo interminável e... Atingiu a água.
Imediatamente ela estava encharcada da cabeça aos pés, e o choque
térmico da água gelada era inacreditável. Isso a agarrou como se fosse um
monstro com um punhado de fragmentos de gelo. Isso a cegou com seu próprio
cabelo, tirando todo o som do universo.
De alguma forma, arranhando seu rosto, ela conseguiu tirar os cabelos de
seus olhos e boca. Ela percebeu que ela estava a poucos metros abaixo da
superfície da água, e isso foi tudo que ela precisou para empurrar-se para cima até que sua boca chegasse à superfície e ela
pudesse sugar aquele ar delicioso, e depois ter um ataque de tosse.
Primeira vez, ela pensou, lembrando-se da velha superstição de que uma
pessoa que estava prestes a se afogar subia à superfície três vezes antes de
afundar para sempre.
Mas o estranho era que ela não estava afundando. Havia uma dor em sua
coxa, mas ela não estava indo para baixo.
Lentamente, bem lentamente, ela percebeu o que havia acontecido. Ela
havia errado a parte de trás da thurg,
mas pousou em sua espessa cauda reptiliana. Uma parte pontiaguda da cauda a
havia cortado, mas a manteve estável.
Então... Agora... Tudo o que tenho que fazer é subir na thurg, ela arquitetou lentamente.
Tudo parecia estar mais lento porque havia icebergs flutuando ao redor
de seus ombros.
Ela ergueu uma mão forrada com luvas e alcançou a próxima barbatana. A
água, após sua imersão, deixou suas roupas mais pesadas, e seu corpo deu um
pouco de apoio. Ela conseguiu puxar-se até a barbatana seguinte. E na seguinte.
E então ela estava na garupa, e ela tinha que tomar cuidado: não havia mais
pontos de apoio. Em vez disso, ela pegou algo com sua mão esquerda. Uma alça
quebrada da transportadora de feno.
Não foi uma boa ideia, pensando bem.
Durante uns minutos, que ela qualificou como os piores de sua vida,
choveu feno em cima dela, ela fora abatida por pedras e sufocada pela poeira do
esterco velho.
Quando finalmente terminou, ela olhou ao redor, espirrando e tossindo,
para descobrir que ainda estava na thurg.
A vara de cócegas havia sido quebrada, mas o suficiente permaneceu para ela
usá-la. Stefan estava perguntando freneticamente, tanto em voz alta quanto por
telepatia, se ela estava bem. Bonnie estava patinando para frente e para trás
como a fada Sininho, e Damon estava xingando Bonnie para que ela voltasse a
terra e permanecesse lá.
Enquanto isso, Elena estava avançando na garupa da thurg. Ela conseguiu por causa da cesta de alimentos esmagada. Ela
finalmente atingiu o cume da thurg, e
se estabeleceu logo atrás da cabeça redonda, no banco onde o condutor vai
sentado.
E então ela fez cócegas atrás da orelha da thurg.
— Elena! — Stefan gritou.
E então:
Elena, o que você está tentando
fazer?
— Eu não sei! — Ela gritou de volta. — Tentando salvar a thurg!
— Você não
pode — Damon interrompeu a resposta de Stefan em uma voz tão fria e quieta
quanto o lugar em que eles estavam.
— Ela pode conseguir! — Elena disse ferozmente, precisamente, pois ela
mesma tinha dúvidas se o animal conseguiria. — Vocês podem ajudar puxando as
rédeas.
— É inútil — Damon gritou, deu meia-volta e andou rapidamente em meia à
névoa.
— Eu tentarei. Jogue aqui na frente dela — Stefan disse.
Elena jogou as rédeas o mais longe que pôde. Stefan teve de correr quase
até a borda do gelo para agarrá-las antes que elas caíssem dentro da água.
Em seguida, ele a segurou no ar triunfantemente.
— Consegui!
— Ok, puxe! Dê a ela uma direção para seguir.
— Farei isso.
Elena bateu novamente atrás da orelha direita de Biratz. Houve um
barulho vindo do animal e depois nada. Ela pôde ver Stefan fazendo esforço nas
rédeas.
— Vamos lá — Elena disse, e
bateu fortemente com a vara.
A thurg levantou um pé
gigante, colocando-o mais adiante, no gelo, se esforçando. Assim que ela fez
isso, Elena bateu mais forte atrás da orelha esquerda.
Esse era um momento crucial. Se Elena pudesse evitar com que Biratz
esmagasse todo o gelo em suas pernas traseiras, eles poderiam ter uma chance.
A thurg timidamente levantou a
perna esquerda e esticou-a até que ela fizesse contato com o gelo.
— Boa, Biratz! Agora! — Elena
gritou.
Agora, se Biratz fosse mais para frente...
Houve uma grande revolução embaixo dela. Por vários minutos Elena pensou
que talvez Biratz tivesse quebrado o gelo com todas as suas quatro patas. Em
seguida, o jogo virou e, de repente, estonteantemente, Elena soube que tinha
vencido.
— Calma, agora, calma. — Ela disse para o animal, dando-lhe uma cosquinha
gentil com a vara.
E lentamente, pesadamente, Biratz avançou. Sua cabeça abobadada caiu
algumas vezes enquanto ela ia, e ela afundou em outra área da névoa, quebrando
novamente o gelo. Mas ela só afundou alguns centímetros antes de descobrir que
era, na verdade, era lama.
Mais alguns passos e elas estavam em terra firme. Elena tinha que sugar
a respiração para abafar um grito enquanto a cabeça abobadada da thurg despencava, dando-lhe um passeio
curto e assustador enquanto ela passava próximo às presas recurvadas. De alguma
forma, ela deslizou direto entre elas e saiu rapidamente do corpo de Biratz.
— Fazer isso foi inútil, sabia? — Damon disse de algum lugar dentro da
névoa ao lado dela. — Arriscar sua própria vida.
— O q-que você quer dizer com i-inútil? — Elena exigiu.
Ela não estava com medo; ela estava congelando.
— Os animais vão morrer, de qualquer forma.
— Eles não vão conseguir passar pela próxima prova e, mesmo se
conseguissem, este lugar não floresce nada. Em vez de uma morte rápida e limpa
na água, eles morrerão de fome, lentamente.
Elena não respondeu. A única resposta que ela podia pensar era: “Por que
você não me contou isso mais cedo?” Ela havia parado de tremer, o que era uma
boa coisa, pois um minuto atrás seu corpo parecia que tremeria até que se
partisse em dois.
Roupas, ela pensou vagamente.
Esse era o problema. Certamente não poderia estar tão frio aqui no ar
quanto estava lá na água. Eram suas roupas que faziam com que ela sentisse tão
frio.
Ela começou, com os dedos dormentes, a tirá-las. Primeiro, ela soltou
sua jaqueta de couro. Não havia zíperes aqui, só botões. Isso foi um grande
problema. Seus dedos pareciam cachorros-quentes congelados, fazendo coisas com
dificuldade. Mas de uma forma ou de outra ela conseguiu desabotoar e o couro
caiu no chão com um baque surdo — havia formado uma camada de pele em seu
interior. Eca. O cheio de pelo molhado. Agora, agora ela tinha que...
Mas ela não podia. Ela não podia fazer nada por que alguém estava
segurando seus braços. Queimando seus braços. Aquelas mãos eram irritantes, mas
por fim ela soube a quem elas pertenciam. Elas eram firmes e bem gentis, mas
bem fortes. Tudo isso era coisa de Stefan.
Lentamente, ela levantou a cabeça que ainda pingava para pedir a Stefan
que parasse de queimar seus braços.
Mas não pôde. Porque no corpo de Stefan estava a cabeça de Damon. Agora,
isso era estranho. Ela havia visto
muitas coisas que vampiros podiam fazer, mas não esse lance de troca de
cabeças.
— Stefan-Damon... Por favor, para. — Ela engasgou entre gritos
histéricos de riso. — Dói. Está muito quente!
— Quente? Você está congelando, isso sim.
As hábeis mãos esfregavam e iam de cima para baixo em seus braços,
empurrando sua cabeça para trás para massagear suas bochechas. Ela deixou isso
acontecer, pois mesmo que fosse a cabeça de Damon, ainda eram as mãos de
Stefan.
— Você está gelada, mas não está tremendo? — Uma voz sombria de Damon
disse de algum lugar.
— Sim, como pode ver, eu devo estar me aquecendo.
Elena não se sentia muito aquecida. Ela percebeu que ainda tinha uma
peça de roupa de pele, que atingia os joelhos dela. Ela se atrapalhou com
cinto.
— Você não está se aquecendo. Você está indo para o próximo estágio da
hipotermia. E se você não se secar e se aquecer neste instante, você morrerá.
Sem mais nem menos, ele inclinou seu queixo para que ele olhasse em seus
olhos.
— Você está delirando agora... Consegue me entender, Elena? Você realmente precisa se aquecer.
Calor era um conceito tão vago e distante quanto sua vida antes de ela
conhecer Stefan.
Mas, delirantemente, ela entendeu. Isso não era uma boa coisa. O que se
podia fazer a não ser rir?
— Certo. Elena, só espere um minute. Deixe-me achar...
Rapidamente ele estava de volta.
Não rápido o suficiente para impedi-la de tirar a pele por debaixo da
cintura, mas voltou antes que ela pudesse retirar a camisola.
— Aqui. — Ele tirou a pele úmida e a envolveu em uma seca e quente,
sobre sua camisola.
Depois de um minuto ou dois, ela começou a tremer.
— Essa é minha garota. — A voz de Damon disse. Seguido de: — Não lute
comigo, Elena. Estou tentando salvar sua vida. Isso é tudo. Não farei nada
mais. Dou minha palavra.
Elena estava confusa. Por que ela deveria pensar que Damon — isso é, se
fosse realmente o Damon, ela decidiu — queria machucá-la?
Embora ele pudesse ser um idiota às vezes...
E ele estava tirando suas roupas.
Não. Isso não devia estar
acontecendo. Definitivamente não. Especialmente quando Stefan devia estar por aqui
perto.
Mas agora, Elena estava tremendo demais para falar.
E agora que ela estava com sua roupa íntima, ele estava fazendo com que
ela deitasse sobre as peles, enfiando outras peles ao seu redor. Elena não
entendeu nada do que estava acontecendo, mas tudo começou a não parecer
importante. Ela estava flutuando em algum lugar fora de si, assistindo sem
nenhum interesse.
Em seguida, outro corpo deslizou para dentro das peles. Ela retornou do
lugar em que estava flutuando.
Muito brevemente, ela deu uma olhada no peito nu. E então, um corpo
quente e compacto deslizou para o saco de dormir improvisado, para junto dela.
Braços quentes e rígidos foram em torno dela, mantendo-a em contato com todo
aquele corpo.
Através da névoa, ela vagamente ouviu a voz de Stefan:
— O que
diabos você está fazendo?
Capítulo
30
— Tire suas roupas e
entre no outro lado — Damon disse.
Sua voz não estava nem irritada ou arrogante. Ele adicionou lentamente:
— Elena está morrendo.
As três últimas palavras pareciam afetar Stefan particularmente, embora
Elena não pudesse entendê-las. Stefan não estava se movendo, apenas respirando
com dificuldade, os olhos arregalados.
— Bonnie e eu estivemos recolhendo feno e combustível e estamos bem.
— Vocês estiveram se exercitando... Se movendo... Vestindo roupas que os
mantiveram aquecidos. Ela esteve imersa em água gelada e... Pegando friagem. Eu
fiz com que o outro thurg quebrasse
algumas madeiras das árvores mortas deste lugar para fazer uma fogueira. Agora,
entra logo aqui, Stefan, e dê a ela um pouco de calor corporal, ou eu vou
transformá-la em vampira.
— Nnn — Elena tentou dizer, mas Stefan não pareceu entender.
Damon, de qualquer jeito, disse:
— Não se preocupe. Ele vai te aquecer do outro lado. Você não tem que se
transformar em vampira, por enquanto. Pelo amor de Deus — Ele adicionou de
repente, explosivamente —, ele é o príncipe que você escolheu!
A voz de Stefan estava quieta e tensa.
— Você tentou colocá-la em uma camada térmica?
— Claro que tentei, idiota! Nenhuma
magia funciona após ultrapassarmos o Lago, exceto a telepatia.
Elena não tinha noção de que o tempo estava passando, mas de repente
houve um corpo familiar sendo pressionado contra o seu, do outro lado.
E de algum lugar direto em sua mente:
Elena? Elena? Você está bem, não
está, Elena? Não ligo se você estiver brincando comigo. Mas você está bem
mesmo, não está? Só me diga isso, amor.
Elena não era capaz de responder nada.
Vagamente, pequenos fragmentos de som foram chegando aos seus ouvidos:
— Bonnie... No topo dela e... Fazer que nós ficássemos em ambos os lados
dela.
E sentimentos maçantes agitaram seu senso de toque: um corpo pequeno,
quase sem peso, parecido com um cobertor grosso, pressionado embaixo dela.
Alguém chorando, as lágrimas escorrendo para seu pescoço. E calor vindo de
ambos os lados.
Estou dormindo com vários filhotinhos de gato, ela pensou, cochilando.
Talvez nós tenhamos um sonho agradável.
— Gostaria de poder saber como eles estão — Meredith disse, dando uma
pausa para ter um daqueles surtos estimulantes.
— Gostaria de poder saber o que nós estamos fazendo — Matt disse
cansadamente enquanto ele colocava outro amuleto em forma de cartão em uma
janela. E mais outro.
— Sabem, meus queridos, eu fiquei ouvindo uma criança chorar na noite
passada, em meus sonhos. — A Sra. Flowers disse lentamente.
Meredith se virou, assustada.
— Eu também! Lá na varanda da frente, é o parecia. Mas eu estava cansada
demais para levantar.
— Não deve ser... Nada de mais. — A Sra. Flowers fez uma careta.
Ela estava fervendo a água da torneira para o chá. A eletricidade era
esporádica. Matt e Sabber tinham voltado à pensão, mais cedo naquele dia, para
que Matt pudesse reunir os instrumentos mais importantes para Sra. Flowers:
suas ervas para chás, compressas e cataplasmas. Ele não teve coragem de contar
a ela sobre o estado da pensão, ou o que aquelas larvas malach haviam feito a
ela. Ele teve de encontrar uma tábua solta na garagem para poder entrar no
corredor da casa, indo até a cozinha. Não havia mais o terceiro andar, tão
pouco o segundo.
Pelo menos ele não teve de fugir de Shinichi.
— O que eu estava dizendo é que, talvez, há uma criança de verdade lá
fora. — Meredith disse.
— Sozinha na noite? Parece mais com um zumbi do Shinichi. — Matt disse.
— Talvez. Mas talvez não seja. Sra. Flowers, você tem alguma ideia de
quando você ouviu o choro? Cedo ou tarde da noite?
— Deixe-me pensar, amada. Eu acho que eu ouvia sempre que eu acordava... E pessoas velhas acordam com grande
frequência.
— Eu ouvi próximo à manhã… Mas eu dormi sem sonhar durante as primeiras
horas e acordei cedo.
A Sra. Flowers virou-se para Matt.
— E quanto a você, Matt querido? Você ouviu algum som parecido com um
choro?
Matt, que deliberadamente se sobrecarregou nestes últimos dias tentando
ter um sono decente, disse:
— Eu ouvi gemidos e choros ao vento próximo à meia-noite, eu acho.
— Parece que um fantasma nos visitou a noite toda, meus queridos — A
Sra. Flowers disse calmamente, servindo-lhes um pouco de chá.
Matt viu a olhadela inquieta que Meredith deu para ele... Mas Meredith
não conhecia a Sra. Flowers tão bem quanto ele.
— Você não acha que seja um fantasma. — Ele disse.
— Não, não acho. Mama não se
pronunciou a respeito, e aqui é sua
casa, Matt querido. Não deve haver assassinatos hediondos ou segredos em seu
passado, eu penso. Vamos ver...
Ela fechou seus olhos e deixou Matt e Meredith bebendo seus chás. Então
ela os abriu e deu-lhe um sorriso intrigante.
— Mama disse: “Procurem pela
casa o seu fantasma.” Então, ouçam bem o que ele tem a dizer.
— Ok — Matt disse sem demonstrar expressão. — Já que é minha casa, acho
que é melhor eu ir procurá-lo. Mas onde? Deve fazer algum código?
— Acho que o melhor jeito de nos arrumarmos, é por meio de turnos. — A
Sra. Flowers disse.
— Ok — Meredith concordou prontamente. — Eu pego o turno do meio, da
meia-noite até às quarto; Matt fica com o primeiro; e Sra. Flowers, você pode
pegar o da manhã, e tirar um cochilo essa tarde se quiser.
Matt se sentiu desconfortável.
— Por que não fazemos só dois turnos e vocês duas dividem um? Eu fico
com o outro.
— Porque, querido Matt — Meredith disse —, não queremos ser tratadas
como “mulherzinhas”. E não discuta — Ela ergueu a estaca de combate —, porque
sou eu quem está com a artilharia pesada.
Algo estava fazendo o quarto tremer. Fazendo Matt tremer junto. Ainda
meio adormecido, ele colocou sua mão embaixo de seu travesseiro e tirou de lá
um revólver. Uma mão pegou a sua e ele ouviu uma voz.
— Matt! Sou eu, a Meredith! Acorde,
ok?
Sonolento, Matt estendeu a mão para o interruptor de luz. Mais uma vez,
dedos fortes e magros o impediram de fazer o que queria.
— Nada de luz — Meredith sussurrou. — Está bem fraquinho, mas se você
vier comigo silenciosamente, você poderá ouvir. O choro.
Isso fez com que Matt acordasse por completo.
— Agora?
— Agora.
Fazendo seu melhor para andar silenciosamente pelo corredor escuro, Matt
seguiu Meredith para a sala de estar do andar de baixo.
— Shh! — Meredith avisou. — Ouça.
Meredith escutou. Ele pôde ouvir alguns soluços perfeitamente, e talvez
algumas palavras, mas não parecia ser um fantasma para ele. Ele encostou o
ouvido na parede e ouviu. O choro estava mais alto.
— Você tem uma lanterna? — Matt perguntou.
— Eu tenho duas, meus queridos. Mas esta é uma hora da noite muito
perigosa. — A Sra. Flowers era uma sombra contra a escuridão.
— Por favor, dê as lanternas para nós. — Disse Matt. — Não acho que
nosso fantasma seja muito sobrenatural. Que horas são, afinal?
— Quase meia-noite e quarenta — Meredith respondeu. — Mas por que você
acha que não seja sobrenatural?
— Porque isto está vivendo em nosso porão — Matt disse. — Eu acho que é
o Cole Reece. A criança que comeu seu porquinho-da-índia.
Dez minutos depois, com a estaca, duas lanternas e Sabber, eles havia
capturado o fantasma.
— Eu não quis fazer nenhum mal. — Cole soluçou, quando eles o atraíram
para cima com promessas de doces e chás “mágicos” que fariam com que ele
dormisse.
— Eu não machuquei ninguém, juro — Ele engasgou, devorando uma barra de
chocolate atrás de outra da Hershey como sua primeira reação. — Tenho medo que
ele esteja atrás de mim. Porque depois que você me atingiu com aquele
papelzinho, eu não fui mais capaz de ouvi-lo em minha cabeça. E então eu vi
vocês chegando aqui — Ele gesticulou ao redor da casa de Matt — e vocês tinham
amuletos e deduzi que seria melhor ficar aqui dentro. Ou seria a minha Última Meia-Noite também.
Ele estava balbuciando. Mas algo sobre as últimas palavras fizeram Matt
dizer:
— O que você quer dizer com “sua Última Meia-Noite também”?
Cole olhou para ele com medo. Havia um pouco de chocolate derretido em
torno de seus lábios, fazendo com que Matt se lembrasse da última vez em que tinha
visto o garoto.
— Você não sabe? — Cole vaciolou. — Sobre as meias-noites? A contagem
regressiva? Vinte dias antes da Última Meia-Noite? Onze dias antes da Última Meia-Noite? E agora... Hoje é o último dia
até a Última Meia-Noite.
Ele começou a soluçar novamente, mesmo com chocolates em sua boca.
Estava claro que ele estava faminto.
— Mas o que acontece na Última Meia-Noite? — Meredith perguntou.
— Você não sabe? — É quando... Você sabe.
Irritantemente, Cole parecia pensar que eles o estavam testando.
Matt colocou suas mãos sobre os ombros de Cole e, para seu horror,
sentir os ossos sob seus dedos.
O garoto estava com muita fome mesmo, pensou ele, perdoando-lhe por
todas aquelas barras de chocolate.
Seus olhos encontraram os da Sra. Flowers e ela imediatamente foi para a
cozinha.
Mas Cole não estava respondendo; ele estava murmurando incoerentemente.
Matt forçou-se a pressionar mais força naqueles ombros ossudos.
— Cole, fale mais alto! O que é essa Última Meia-Noite?
— Você sabe. É quando... Todas as crianças… Você sabe, eles esperam até a meia-noite... Eles pegam facas ou
armas. Você sabe. E nós vamos até o
quarto de nossos pais enquanto eles estão dormindo e...
Cole calou-se novamente, mas Matt notou que ele sem querer disse “nós” e
“nossos” no final.
Meredith falou em sua voz calma e firme:
— As crianças vão matar seus próprios pais, não é?
— Ele nos mostrou onde golpear ou esfaquear. Ou, se houver uma arma...
Matt havia ouvido o bastante.
— Você pode ficar... No porão. — Ele
disse. — E aqui está alguns amuletos. Coloque-os em você se você sentir que
está em perigo.
Ele deu a Cole um pacote inteiro de Post-It.
— Não tenha medo. — Meredith
adicionou, enquanto a Sra. Flowers vinha com um prato de salsichas e batatas fritas
para Cole.
A qualquer outro momento, o cheiro teria feito com que Matt ficasse com
fome.
— É igual àquela ilha no Japão — Ele disse. — Shinichi e Misao fizeram
aquilo acontecer, e eles vão fazer isso novamente.
— O tempo está correndo. Na verdade, já é o dia da Última Meia-Noite...
Já é quase uma e meia da manhã. — Meredith disse. — Temos menos de vinte e
quatro horas. Devemos dar o fora de Fell’s Church ou fazer algo para organizar
um confronto.
— Um confronto? Sem Elena, Damon ou
Stefan? — Matt disse. — Seremos mortos. Esqueceu-se do xerife Mossberg?
— Ele não tinha isso — Meredith jogou sua estaca de combate no ar,
pegou-a perfeitamente, colocando-a de lado.
Matt sacudiu sua cabeça.
— Ainda assim, Shinichi vai te matar. Ou uma das crianças irá, com uma
semi-automática do armário de seus pais.
— Temos que fazer alguma coisa.
Matt pensou. Sua cabeça latejava.
Finalmente ele disse, com a cabeça baixa:
— Quando eu fui pegar as ervas, eu peguei a Esfera Estelar de Misao,
também.
— Você tá de brincadeira. Shinichi ainda
não a tinha encontrado?
— Não. E talvez nós possamos fazer algo com ela.
Matt olhou para Meredith, que olhava para a Sra. Flowers.
A Sra. Flowers disse:
— Que tal se jogássemos o líquido em diferentes lugares em Fell’s
Church? Só uma gotinha aqui e ali? Podíamos pedir para o Poder dentro dela que
protegesse a cidade. Talvez ele ouça.
Meredith disse:
— Esse era o principal motivo de queremos as Esferas Estelares de
Shinichi e Misao. As Esferas Estelares controlam seus donos, de acordo com a
lenda.
Matt disse:
— Pode ser um jeito
ultrapassado de se pensar, mas concordo.
Meredith disse:
— Então vamos fazer isso neste instante.
Quanto as outras duas esperavam, Matt foi
pegar a Esfera Estelar de Misao. Havia muito, muito pouco líquido dentro do
globo.
— Depois da Última Meia-Noite, ela planeja
preenchê-la até o topo com a energia das novas vidas tiradas — Meredith disse.
— Bem, ela não terá a chance de fazer isso —
Matt disse sem rodeios. — Quando terminarmos, nós a destruiremos.
— Mas nós devíamos nos apressar. — Meredith
adicionou. — Vamos juntar algumas armas: algo de prata, algo longo e pesado,
como um atiçador. Os zumbis de Shinichi não ficarão felizes... E quem sabe quem
mais estará do lado dele?
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