Leitura Semanal - Diários do Vampiro, o retorno: Meia-Noite #20
Sinopse: Elena retorna da Dimensão das Trevas, tendo liberto seu namorado vampiro Stefan Salvatore do aprisionamento... Mas não sem uma consequência. Sua salvação custará bastante. Ainda se recuperando do último choque, eles são forçados a encarar os demônios que dominaram Fell's Church. Elena deve tomar uma decisão que custará seu amor: Damon ou Stefan?
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Capítulo
37
Então Meredith viu
algo que não era fumaça ou fogo. O pequeno vislumbre de uma porta... E um
pequeno sopro de ar fresco. Com essa esperança para se apoiar, ela correu em
direção à porta, arrastando Isobel atrás dela.
Quando ela passou pelo limite da porta, ela sentiu, de alguma forma, uma
água fria e abençoada caindo em seu corpo. Quando ela puxou Isobel para fora, a
menina fez o primeiro som voluntário durante todo o trajeto: um soluço de
agradecimento, sem palavras.
As mãos de Matt estavam lá para ajudá-la, tirando-lhe o peso que era
Isobel. Meredith se ergueu e começou a cambalear em círculos, e então caiu de
joelhos. Seu cabelo estava em chamas! Ela estava se lembrando dos ensinamentos
sobre parar, deitar e rolar, quando ela sentiu a água fria caindo sobre ela. A
mangueira d’água subiu e desceu sobre seu corpo e ela se virou, deleitando-se
com a sensação de frescor, até que ela ouviu a voz de Matt dizer:
— As chamas se foram. Você está bem agora.
— Obrigada, Matt. Obrigada — Sua voz estava rouca.
— Hey, foi você que teve de ir até o quarto dela e voltar. Salvar a Sra.
Saitou foi bem fácil... Tinha a pia da cozinha cheia de água, então, assim que
eu a libertei, nós nos refrescamos e caímos fora.
Meredith sorriu e olhou em volta rapidamente. Isobel havia se tornado
sua responsabilidade agora. Para seu alívio, ela viu que a menina estava sendo
abraçada por sua mãe.
E tudo isso por causa de uma escolha estranha entre um objeto, por mais
precioso que e fosse, e uma vida. Meredith olhou para mãe e filha e se alegrou.
Ela poderia arranjar outra estaca. Mas nada poderia substituir Isobel.
— Isobel disse para te dar isso — Matt estava dizendo.
Meredith virou-se para ele, uma luz brilhante fazendo com que o mundo se
tornasse uma loucura, e por um momento ela não acreditou em seus olhos. Matt
estava segurando a estaca na frente dela.
— Ela deve tê-la pegado com sua mão livre e... Oh, Matt, e ela estava
quase morta quando começamos...
Matt disse:
— Ela é teimosa. Igual a outra pessoa que eu conheço.
Meredith não sabia muito bem o que ele quis dizer com isso, mas ela
sabia de uma coisa:
— É melhor irmos lá para frente. Eu duvido que o corpo de bombeiros
venha. Além disso... Theo…
— Eu farei com que elas andem. Você
vai à frente e nos escolta — Matt disse.
Meredith logo chegou ao quintal da frente, que estava horrivelmente iluminado
por causa da casa, agora totalmente em chamas. Felizmente, o pátio lateral não
estava. Meredith abriu o portão com a estaca. Matt estava bem atrás dela,
ajudando a Sra. Saitou e Isobel.
Meredith rapidamente correu pela garagem em chamas e depois parou. Atrás
dela, ela ouviu um grito de horror. Não havia tempo para tentarem acalmar quem
estivesse chorando, nem havia tempo para se pensar.
As duas mulheres que lutavam estavam ocupadas demais para notarem sua
presença... E Theo estava precisando de ajuda. Inari parecia mesmo uma Medusa
flamejante, com os cabelos se contorcendo, parecendo cobras. Somente a parte
carmesim queimava, e era esta parte que ela estava usando como um chicote,
usando uma das cobrar para arrebatar o chicote de prata de Theo, e depois outra
para envolver-se em torno da garganta de Theo, sufocando-a. Theo estava
desesperadamente tentando tirar aquilo de seu pescoço.
Inari estava rindo.
— Você está sufocando, bruxinha? Tudo acabará em segundos... Para você e
para a cidade inteira! A Última Meia-Noite finalmente chegou!
Meredith olhou de volta para Matt... E isso foi tudo o que ela fez. Ele
correu, ultrapassando-a, indo direto até as duas mulheres. E então ele se
inclinou um pouco, fechando sua mão em uma concha.
Depois disso, Meredith correu, colocando toda sua energia numa curta
corrida, mas deixando o suficiente para saltar e colocar um pé nas mãos de
Matt. Então, ela sentiu-se voando bem alto, apenas uma curta distância para
cortar precisamente com sua estaca uma das cobras que estava sufocando Theo.
Logo Meredith estava em uma queda livre, com Matt tentando pegá-la lá
embaixo. Ela pousou mais ou menos em cima dele e ambos viram o que aconteceu a
seguir.
Theo, que estava ferida e sangrando, bateu com suas mãos no vestido que
estava começando a pegar fogo. Ela estendeu a mão para o chicote de prata e ele
voou até seus dedos. Mas Inari não estava atacando. Ela estava agitando os
braços freneticamente, como se estivesse entrando em colapso, e, de repente,
ela gritou: um som tão angustiante que Meredith respirou bruscamente. Era um
grito de morte.
Em frente aos seus olhos, ela estava voltando a ser a velha Obaasan:
pequena, impotente e com aparência delicada que eles conheciam. Mas no momento
em que este corpo enfraquecido caiu no chão, ele já estava duro e morto, com
sua expressão saindo da malícia impertinente e transformando-se em medo.
Foi quando Isobel e a Sra. Saitou vieram para encarar o corpo, soluçando
aliviadas. Meredith olhou para elas e então para Theo, que estava pousando bem
devagar no chão.
— Obrigada — Theo disse com o mais fraco dos sorrisos. — Vocês me
salvaram... De novo.
— Mas o que vocês acham que aconteceu com ela? — Matt perguntou. — E por
que Shinichi e Misao não vieram ajudá-la?
— Eu acho que eles todos devem estar mortos, não acha? — A voz de Theo
era suave, em comparação aos rugidos das chamas. — Quanto à Inari... Eu acho
que, talvez, alguém tenha destruído sua Esfera Estelar. Receio não ter sido
forte o suficiente para detê-la.
— Que horas são? — Meredith gritou abruptamente, lembrando-se.
Ela correu para o velho SUV, que ainda estava ligado. Seu relógio
mostrava que era meia-noite em ponto.
— Nós salvamos os cidadãos? — Matt perguntou desesperadamente.
Theo virou seu rosto em direção ao centro da cidade. Por quase um minuto
ela ficou assim, como se ouvisse alguma coisa. Por fim, quando Meredith sentiu
como se fosse se estilhaçar de tanta tensão, ela se virou e disse
silenciosamente:
— A amada Mama, a Vovó e eu somos uma agora. Eu sinto as
crianças, que se acharam segurando facas... E algumas segurando armas. Eu as
sinto enquanto elas estão paradas nos quartos de seus pais, incapazes de se
lembrar como elas foram chegar ali. E eu sinto seus pais, alguns escondidos em
armários, um segundo atrás com medo por suas próprias vidas, agora vendo armas
sendo abaixadas e crianças caindo ao chão, soluçantes e confusas.
— Conseguimos, então. Você conseguiu.
Você a conteve — Matt ofegou.
Ainda gentil e calma, Theo disse:
— Outro alguém... Bem longe... Fez muito mais. Eu sei que a cidade
precisa de reparos. Mas a Vovó e a Mama concordam em algo: Por causa deste
alguém, nenhuma criança matou seu pai esta noite, ou nenhum pai matou seu
filho. O longo pesadelo de Inari e sua Última Meia-Noite acabou.
Meredith, encardida e enlameada, sentiu alguma coisa crescendo e
inchando dentro dela, cada vez mais, até que ela não pôde mais se conter e
esqueceu todo o seu treinamento. Ela explodiu, dando um grito de alegria.
Ela descobriu que Matt estava gritando também. Ele estava tão encardido
e enlameado quanto ela, mas ele a agarrou pelas mãos e giraram, fazendo uma
gloriosa dança da vitória.
E foi divertido gritar e girar
como se fossem duas crianças. Talvez... Talvez, na tentativa se manter calma,
ela sempre agia como uma adulta, perdendo a essência de diversão, no qual ela
sempre sentia como se fosse uma qualidade só para crianças.
Matt não tinha problemas em expressar seus sentimentos, quaisquer que
eles fossem: criancice, maturidade, teimosia, felicidade. Meredith encontrou-se
admirando isso, também pensando que fazia um bom tempo desde a última vez que
ela olhara realmente para Matt. E agora, ela sentiu uma onda de sentimentos por
ele. E ela pôde ver que Matt sentia-se da mesma forma por ela. Como se ele
nunca tivesse olhado apropriadamente para ela antes.
Este era o momento... Em que eles deviam se beijar. Meredith havia visto
isto em alguns filmes, e lido em alguns livros, que isso era quase inevitável.
Mas esta era a vida real, não uma história. E quando o momento chegou,
Meredith encontrou segurando os ombros de Matt, enquanto ele segurava os dela,
e ela pôde ver que ele estava pensando exatamente
a mesma coisa sobre o beijo.
O momento se prolongou...
Então, com um sorriso, o rosto de Matt mostrou que ele sabia o que devia
ser feito. Meredith também sabia.
Ambos se aproximaram, e se abraçaram. Quando eles recuaram, ambos
estavam sorrindo. Eles sabiam o que eles eram: eles eram muito diferentes, eram
amigos íntimos. Meredith esperava que eles sempre fossem.
Ambos se viraram para olhar para Theo, e Meredith sentiu uma pontada no
coração, o primeiro desde que ela tinha ouvido falar que eles haviam poupado a
cidade. Theo estava mudando. E foi o olhar em seu rosto, enquanto ela os
observava, que fez com que Meredith tivesse a pontada.
Depois de ser jovem, e enquanto assistia sua juventude no auge, ela foi
envelhecendo mais uma vez, enrugando, o cabelo ficando branco ao invés de prata
sob o luar. Por fim, ela era uma mulher de idade vestindo uma capa de chuva
coberta com pedaços de papel.
— Sra. Flowers!
Era perfeitamente seguro e certo beijar essa pessoa. Meredith lançou os braços sobre a frágil idosa,
tirando seus pés do chão, emocionada. Matt se juntou a ela, e eles a ergueram
mais alto, acima de suas cabeças. Eles a carregaram deste jeito até as Saitou,
mãe e filha, que estavam assistindo ao incêndio.
Lá, ficando sérios, eles a colocaram no chão.
— Isobel! — Meredith disse. — Deus! Eu sinto muito... Sua casa...
— Obrigada — Isobel disse em sua voz suave e arrastada.
Então, ela se virou e se afastou.
Meredith sentiu um arrepio. Ela estava começando a se arrepender da
celebração, quando a Sra. Saitou disse:
— Sabia que esse é o melhor momento da história da nossa família? Durante
centenas de anos, aquela velha kitsune... Ah, sim, nós sempre soubemos o que
ela era... Esteve prejudicando humanos inocentes. E nos últimos três séculos,
tem sido a minha família, descendentes de samurais mikos, quem ela tem aterrorizado. Finalmente meu marido poderá
voltar para casa.
Meredith olhou para ela, surpresa. A Sra. Saitou assentiu.
— Ele tentou desafiá-la e ela o baniu de casa. Desde que Isobel nasceu,
eu temo por ela. E agora, por favor, perdoem-na. Ela tem problemas em expressar
o que sente.
— Eu sei disso — Meredith disse silenciosamente. — Eu terei uma
conversinha com ela, se estiver tudo bem para você.
Se alguma vez em sua vida ela nunca teve a chance de dizer a um amigo
como era bom se divertir, ela pensou, a oportunidade era essa.
Capítulo
38
Damon havia parado e
estava ajoelhado atrás de um enorme galho de árvore quebrado. Stefan agarrou as
duas meninas e, juntos, pularam e pousaram bem atrás de seu irmão.
Elena encontrou-se encarando o grande tronco da árvore. Mesmo sendo
grande, ele era mais largo do que ela esperava. Era verdade: eles quatro não
poderiam ficar de mãos dadas em volta dele. Mas no fundo de sua mente havia
imagens de luas, árvores e galhos que eram tão altos quanto arranha-céus, onde
uma Esfera Estelar poderia estar escondida em qualquer “andar” ou “sala”.
Aquela era uma grande árvore com tronco de carvalho, com uma espécie de
círculo mágico — com, talvez, vinte metros de diâmetro, no qual não havia
folhas vivas em volta. Possuía uma cor mais clara que o barro pelo qual
percorria, e brilhava em alguns lugares. No geral, Elena ficou aliviada.
Mais que isso, ela pôde até mesmo ver a Esfera Estelar. Ela temia —
junto com outras coisas — que ela pudesse estar muito alta, num lugar onde não se
pudesse escalar, em um emaranhado de raízes e ramos que, hoje, certamente
depois de centenas ou milhares de anos, seria impossível de se cortar. Mas lá
estava ela, a maior Esfera Estelar já feita, devendo ser do tamanho de uma bola
de praia, aninhada no primeiro suporte da árvore.
Sua mente continuou em ação. Eles conseguiram; eles acharam a Esfera
Estelar. Mas quanto tempo levaria para levá-la de volta até onde Sage estava?
Automaticamente, ela olhou para sua bússola e viu, para sua surpresa, que agora
a agulha apontava para sudoeste — em outras palavras, de volta para a Casa de
Portais. Isso foi uma jogada de mestre, vindo de Sage. E, talvez, eles não
teriam que fazer todo o caminho de volta; eles podiam simplesmente usar a Chave
Mestra e voltar para Fell’s Church, e então... Bem, a Sra. Flowers saberia o
que fazer com ela.
Se eles a pegassem, talvez eles pudessem simplesmente chantageá-la, quem quer que Ela fosse, fazendo com que ela fosse
embora para sempre em troca da Esfera Estelar. Embora... Será que eles poderiam
viver com o pensamento de que ela poderia fazer isso de novo... E de novo... E
de novo com outras cidades?
Enquanto ela fazia seus planos, Elena viu a expressão de seus
companheiros: o rosto infantil, em formato de coração e cheio de dúvidas de
Bonnie; os olhos avaliativos e interessados de Stefan; o sorriso perigoso de
Damon.
Eles estavam vendo, por fim, a recompensa de um trabalho árduo.
Mas ela não podia ficar olhando por muito tempo. Coisas tinham de ser feitas. Mesmo enquanto eles olhavam, a
Esfera Estelar brilhava, mostrando tantas cores incandescentes e brilhantes que
Elena quase ficou cega. Ela protegeu seus olhos justo quando ouviu Bonnie
inalar profundamente.
— O que foi? — Stefan perguntou, com uma mão na frente de seus olhos,
que, é claro, eram bem mais sensíveis à luz que olhos humanos.
— Alguém a esteve usando agora mesmo! — Bonnie respondeu. — Quando ela
brilhou desse jeito, ela enviou Poder! À uma distância bem, bem longa!
— As coisas estão esquentando na pobre e velha Fell’s Church — Disse
Damon, que estava olhando para os ramos acima dele.
— Não diga isso! — Bonnie exclamou. — É nossa casa. E agora, finalmente
podemos defendê-la!
Elena pôde praticamente ver o que Bonnie estava pensando: abraços em
família; vizinhos sorrindo para seus vizinhos novamente; a cidade inteira
trabalhando para arrumar aquela confusão.
É assim que grandes tragédias, às vezes, acontecem. Há pessoas com um
único objetivo, ainda que não estejam em sincronia. Pretensões. Presunções. E,
talvez, mais importante de tudo, a incapacidade de sentarem para conversar.
Stefan tentou se aproximar, embora Elena pôde ver que ele ainda estava
cego devido ao brilho da Esfera Estelar. Ele disse silenciosamente:
— Vamos conversar a respeito e tentarmos entrar em um acordo em como
vamos pegá-la...
Mas Bonnie estava rindo dele, não de um modo gentil. Ela disse:
— Eu posso subir lá tão rápido quanto um esquilo. Tudo o que eu preciso
é de alguém forte para pegá-la quando eu a jogá-la. Eu sei que não poderei
descer com ela em mãos. Eu não sou tão burra. Qual é, pessoal, vamos nessa!
E foi assim que aconteceu. Diferentes personalidades, diferentes modos
de pensar. E uma risada de uma menina brilhante, que não teve uma premonição
quando fora necessário.
Elena, que estava invejando a estaca de combate de Meredith, nem sequer
viu quando começou. Ela estava olhando para Stefan, que estava piscando
rapidamente para ter sua visão de volta.
E Bonnie estava descendo rapidamente como ela havia dito, de cima
daquele galho de árvore morta que os abrigava. Ela até deu um risinho para eles
antes de saltar para dentro do círculo estéril e brilhante em torno da árvore.
Então, microssegundos se estenderam infinitamente. Elena sentiu seus olhos se abrirem lentamente,
mesmo que ela soubesse que eles
haviam se aberto bem rápido. Ela viu
Stefan tentar alcançar vagarosamente os pés de Bonnie, mesmo sabendo que o que ela viu foi uma
garra-relâmpago tentando pegar os tornozelos da menina. Ela até mesmo ouviu a
telepatia instantânea de Damon: “Não, sua
tolinha!”, como se ele estivesse falando as palavras em seu costumeiro tom
preguiçoso de superioridade.
E então, ainda em câmera lenta, os joelhos de Bonnie se flexionaram e
ela pulou por cima do círculo.
Mas ela nunca tocou o chão. De alguma forma, uma tira preta e
incrivelmente rápida, até mesmo para o filme de terror em câmera lenta que
Elena estava presenciando, apareceu onde Bonnie devia pousar. E então Bonnie
estava sendo lançada, sendo
arremessada rápido demais para que os olhos de Elena pudessem acompanhar, para
fora do círculo estéril e, em seguida, houve um ruído surdo... Muito rápido
para que Elena pudesse dizer que fosse a aterrissagem de Bonnie.
Bem claramente, ela ouviu Stefan gritar “Damon!” em uma voz horrível. E,
em seguida, Elena viu objetos finos — parecidos com lanças — sendo arremessados
lá embaixo. Outra coisa que seus olhos não puderam acompanhar. Quando sua visão
de ajustou, ela viu que eram longos ramos negros espalhados igualmente ao redor
da árvore, como se fossem trinta pernas de aranha, trinta lanças longas que
deveriam aprisionar alguém dentro delas, igual às grades de uma cela, ou
prendê-los na areia estranha no chão.
“Prender” era uma boa palavra. Elena gostava do som dela. Enquanto ela
estava olhando para as farpas afiadas nos ramos, destinadas a manterem qualquer
coisa que elas pegassem no chão, ela pensou em como Damon ficaria aborrecido se
uma delas perfurasse sua jaqueta de couro. Ele soltaria palavrões, e Bonnie
tentaria fingir que ele não fez isso... E...
Ela estava bem perto agora, percebendo que aquilo não era tão fácil. O
ramo, que devia ser do tamanho de uma lança, havia atingido o ombro de Damon, e
devia ter doído para caramba, além de ter espirrado gotas de sangue no canto de
sua boca. Mas o mais irritante era o fato de que ele havia fechado seus olhos.
Foi assim que Elena pensou. Ele os havia fechado deliberamente... Talvez porque
ele estava com raiva; talvez por causa da dor em seu ombro. Mas isso fez com
que ela se lembrasse da parede de ferro que ela encontrou, na última vez em que
tentara tocar sua mente... E, caramba, será que ele não podia admitir que ele estava assustado?
— Abra seus olhos, Damon — Ela disse, corando, porque era isso que ele
queria que ela dissesse.
Ele era o maior manipulador do
mundo.
— Abra seus olhos, eu disse! — Agora ela estava realmente irritada. —
Não banque o engraçadinho, porque você não engana ninguém, e nós já nos
cansamos disso!
Ela estava prestes a ir lá dar-lhe uma
sacudida quando algo preencheu o ar, fazendo com que ela olhasse para Stefan.
Stefan estava com dor, mas com certeza com menos dor do que Damon. Ela
olhou de novo para Damon, para xingá-lo, quando Stefan disse bruscamente:
— Elena, ele não pode!
Durante o menor tempo possível, as palavras
soaram como um absurdo para ela. Não só confusas, mas sem sentido, como dizer a
alguém que parasse o seu apêndice de fazer... O que quer que seja que um
apêndice faça. Esse pequeno intervalo foi tudo que ela teve, e então ela teve
de encarar o que seus olhos estavam mostrando para ela.
Damon não havia sido ferido em seu ombro. Ele havia se machucado no
canto esquerdo, ligeiramente no centro de seu torso.
Exatamente onde seu coração estava.
Palavras se voltavam para ela. Palavras que alguém havia dito uma vez...
Embora ela não pudesse se lembrar de quem agora. “Você não pode matar um vampiro tão facilmente. Só morremos se você
atravessar uma estaca em nossos corações...”
Morto? Damon, morto? Isso devia ser um engano…
— Abra, seus olhos!
— Elena, ele não pode!
Mas ela sabia, sem saber como, que Damon não
estava morto. Ela não ficou surpresa que Stefan não soubesse disso; isso, esse
zumbido, fazia parte da frequência especial entre ela e Damon.
— Vamos, rápido, me dê um machado.
Ela disse tão desesperadamente e com tanto ar de conhecimento que Stefan
o entregou sem dizer nada, obedecendo também quando ela lhe disse para segurar
o ramo em cima e embaixo. Depois, com algumas pancadas rápidas do machado, ela
cortou o ramo preto, que era espesso o suficiente para impedi-la de apertar
suas mãos em volta dele. Isso foi feito num surto de adrenalina pura, mas ela
sabia que Stefan havia ficado admirado e a permitiu que continuasse.
Quando ela terminou, ela tinha um ramo frouxo que caiu e voltou até a
árvore, rapidamente... E algo que parecia uma estaca junto a Damon.
Só quando ela começou a puxar a estaca que um Stefan horrorizado fez com
que ela parasse.
— Elena! Elena! Eu não mentiria para você! Esses ramos foram feitos para
isso. Matar intrusos que são vampiros. Olhe, amor... Veja.
Ele estava mostrando a ela outro ramo que estava junto à areia, com as
farpas sobre ela. Assim como aquelas lanças primitivas de pedra.
— Esses ramos foram feitos para serem assim — Stefan estava dizendo. — E
se você continuar a puxá-la, você vai acabar... Puxando pedaços... Do coração
dele.
Elena congelou. Ela não tinha certeza se podia compreender as
palavras... Ela podia se permitir a entender, ou poderia visualizá-las. Mas não
importava.
— Eu vou destruir isso de outra forma — Ela disse bem devagar, olhando
para Stefan, mas não sendo capaz de ver os olhos verdes dele por causa luz
oliva. — Espere. Só espere e veja. Eu encontrarei um Poder de Asa que destruirá
essa... Essa... Maldita abominação.
Ela podia pensar em vários outros nomes que serviriam para aquela
estaca, mas ela tinha que se manter no controle.
— Elena — Stefan sussurrou seu nome como se ela mal pudesse entendê-lo.
Mesmo sob o crepúsculo, ela pôde ver lágrimas em seu rosto. Ele
continuou, mentalmente:
Elena, olhe para os olhos dele. Essa
Árvore é uma viciada em matança, com uma Madeira que eu nunca vi, mas que já
ouvi falar a respeito. Está... Está se espalhando. Dentro dele.
— Dentro dele? — Ela repetiu estupidamente.
Por suas artérias e veias… E
nervos… Tudo conectado com seu coração. Ele... Oh, Deus, Elena, só olhe nos
olhos dele!
Elena olhou. Stefan havia se ajoelhado e
gentilmente levantou as pálpebras de Damon e, então, Elena começou a gritar.
Nas pupilas profundas que antes carregavam um céu noturno cheio de
estrelas, agora havia um vislumbre... Não havia mais estrelas, mas sim algo
verde. Parecia brilhar com sua própria luminescência infernal.
Stefan olhou para ela com agonia e compaixão. E agora, com um movimento
gentil, Stefan estava fechando aqueles olhos... Para sempre, ela sabia que ele
estava pensando.
Tudo parecia estranho, quase como se fosse um sonho. Nada mais fez
sentido.
Stefan estava deitando cuidadosamente a cabeça de Damon... Ele estava
fazendo com que ele partisse em paz.
Mesmo em seu mundo distorcido e confuso, Elena soube que ela nunca
poderia ter feito isso.
E então, um milagre aconteceu. Elena ouviu uma voz em sua mente que não
era a dela.
Isso tudo foi bastante inesperado.
Eu agi, pela primeira vez, sem pensar. E essa foi minha recompensa.
A voz era um zumbido na frequência especial deles, do Damon e dela.
Elena saiu dos braços de Stefan, que estavam tentando contê-la, e caiu,
segurando os ombros de Damon com as mãos.
Eu sabia! Eu sabia que você não
podia estar morto!
Foi só então que ela percebeu que seu rosto estava todo molhado, então
ela usou suas luvas de couro macio para limpá-lo.
Oh, Damon, você me assustou tanto!
Nunca, nunca mais faça isso de novo!
Eu acho que posso te dar minha palavra sobre
isso,
Damon enviou... Em tons diferentes daqueles que sempre usava... Calmo, mas
excêntrico.
Mas você tem que me dar algo em
troca.
Sim, é claro, Elena disse. Deixe só eu tirar um pouco de meu cabelo do
meu pescoço. Funcionou melhor assim
quando Stefan estava deitado... Quando nós o tiramos daquela prisão, naquela
liteira…
Não é isso, Damon lhe disse. Pela primeira vez, anjo, eu não quero o seu sangue. Eu quero que você
me dê sua mais solene palavra de que você tentará ser forte. Se ajudar em
alguma coisa, eu sei que mulheres são melhores que homens neste aspecto. Elas
são menos covardes em encarar... O que vocês terão de encarar agora.
Elena não gostou do tom dessas palavras. A
vertigem que estava fazendo seus lábios ficarem dormentes estava viajando por
todo o seu corpo. Não havia nenhuma bravura. Damon podia aguentar a dor. Ela
encontraria um Poder de Asa que destruiria toda aquela madeira que o estava
envenenando. Podia doer, mas salvaria a vida dele.
Não fale assim! Ela retrucou
severamente, antes que ela pudesse se lembrar de ser gentil.
Tudo começou a flutuar, e ela não conseguia se lembra do porquê de ser
gentil, mas havia um motivo. Ainda assim, foi difícil, pois ela estava usando
toda a sua concentração e sua força para procurar um Poder de Asa que ela nunca
ouvira falar antes. Purificação? Isso tiraria a madeira ou faria com que Damon
ficasse sem o seu sorriso malicioso? Não faria mal tentar, de qualquer forma, e
ela estava ficando desesperada... Porque o rosto de Damon estava ficando
pálido.
Mas nem mesmo as Asas da Purificação lhe foram úteis.
De repente, um grande tremor — uma convulsão — tomou conta do corpo
inteiro de Damon. Elena ouviu palavras cortadas vindo detrás dela.
— Amor, amor... Você tem que deixá-lo ir. Ele
está vivendo com... Com uma dor intolerável, só porque você está mantendo-o
aqui — Uma voz disse, e era a de Stefan.
Stefan, quem nunca mentiria para ela.
Só por um instante é que Elena hesitou, mas então uma raiva ardente começou
a percorrer por todo o seu corpo. Isso fez com que ela tivesse forças para
gritar com a voz rouca:
Eu... Não! Eu não vou abandoná-lo!
Droga, Damon, você tem que lutar! Deixe-me te ajudar! Meu sangue... Ele é
especial. Ele te dará força. Beba-o!
Ela se atrapalhou com a faca. Seu sangue era mágico. Talvez, se ela
desse sangue o suficiente, ela daria a Damon força para lutar contra as fibras
da madeira que ainda estavam se espalhando por seu corpo.
Elena cortou sua garganta. Talvez, subconscientemente, ela evitou cortar
sua artéria carótica, mas isso foi algo inteiramente sem intenção. Ela
simplesmente estendeu a mão, encontrou uma faca de metal e, com um golpe
rápido, sangue começou a jorrar. Sangue vermelho que, mesmo na penumbra, era a
cor da esperança.
— Aqui, Damon. Aqui! Beba isso. O quanto você quiser… Tudo que você
precisar para se curar.
Ela ficou na melhor posição que pôde, ouvindo, mas ao mesmo tempo não
ouvindo, o suspiro horrorizado de Stefan atrás dela, por causa da imprudência
de seu corte, não concordando com isso.
Mas... Damon não estava bebendo. Nem mesmo o sangue de sua Princesa das
Trevas... E como a frase continuava? Era algo como um combustível de foguete,
se comparado como o sangue encontrado nas veias das outras garotas. Agora ele
só escorria pelos lábios dele. Ele corria pelo seu rosto pálido, encharcando
sua camisa preta e formando uma poça em sua jaqueta de couro.
Não...
Damon, Elena enviou, por favor. Estou... Te implorando. Por
favor. Estou te implorando; faça por mim, Elena. Por favor, beba. Podemos fazer
isso... Juntos.
Damon não se mexeu.
Sangue derramou-se da boca que ela havia aberto, enchendo-a, até que
começou a transbordar novamente. Era como se Damon estivesse insultando-a,
dizendo:
— Você não quis que eu desistisse
de sangue humano? Bem, eu desisti... Para sempre.
Oh, bom Deus, por favor...
Elena estava mais atordoada do que nunca agora. Eventos externos
passaram sem ela dar muita importância ao seu redor, como uma pessoa que vai ao
mar pular umas ondas. Sua atenção estava inteiramente em Damon.
Mas uma coisa ela sentiu. A bravura dela... Damon estava errado quanto a
isso. Soluços enormes estavam subindo de algum lugar profundo dentro dela. Ela
tinha feito com que Stefan a soltasse e agora ela não conseguia mais se conter.
Ela caiu sobre seu próprio sangue e sobre o corpo de Damon. Sua bochecha
estava contra a dele.
E a bochecha dele estava fria. Mesmo sob o sangue, estava fria.
Elena nunca soube quando sua histeria começou. Ela simplesmente se
encontrou gritando e chorando, batendo nos ombros de Damon, xingando-o. Ela
nunca o havia xingado apropriadamente antes, pelo menos não de frente. Enquanto
ela gritava, não era só um som. Ela começou a gritar novamente para que ele
achasse algo para qual lutar.
E finalmente, ela começou com as promessas. Promessas que, do fundo do
seu coração, ela sabia que eram mentiras. Ela acharia um jeito de curá-lo, a
qualquer momento. Ela até já sentiu um novo Poder de Asa chegando para
salvá-lo.
Tudo para não ter de encarar a verdade.
— Damon? Por favor? — Houve uma pausa na gritaria, quando ela começou a
usar sua nova voz, sua voz rouca. — Damon, só faça uma coisa por mim. Só aperte
minha mão. Eu sei que você pode fazer isso. Só aperte uma de minhas mãos.
Mas não houve nenhum aperto em nenhuma de suas mãos. Somente sangue, que
começava a ficar pegajoso.
E então, o milagre aconteceu e ela mais uma vez pôde ouvir a voz de
Damon — bem fraquinha — em sua cabeça.
Elena? Não... Chore, querida. Não
é… Tão ruim como Stefan disse. Eu não sinto quase nada, exceto no meu rosto. Eu...
Sinto suas lágrimas. Chega de chorar... Por favor, anjo.
Por causa desse milagre, Elena paralisou-se. Ele
havia chamado Stefan de “Stefan” e não de “maninho”. Mas ela tinha outras
coisas para pensar agora. Ele ainda podia sentir coisas em seu rosto! Isso era
uma informação importante, uma informação valiosa. Elena imediatamente cobriu
seu cabelo com as mãos e o beijou nos lábios.
Eu acabei de te beijar. Estou te beijando
novamente. Você pode sentir isso?
Para sempre, Elena, Damon disse. Eu… Levarei isso comigo. Faz parte de mim
agora… Você entende?
Elena não quis entender. Ela beijou seus lábios
— gélidos — de novo. E de novo.
Ela queria dar-lhe algo mais. Algo bom para se pensar.
Damon, você se lembra da primeira
vez em que nos conhecemos? Na escola, depois que as luzes se apagaram, quando
eu estava mexendo na decoração da Casa Mal-Assombrada. Eu quase deixei que você
me beijasse, naquela época... Antes mesmo de eu sequer saber o seu nome...
Quando você saiu silenciosamente da escuridão.
Damon, surpreendentemente, a respondeu
imediatamente.
Sim... E você... Você me
surpreendeu por ser a primeira garota que eu não consegui Influenciar de
imediato. Nós... Nos divertimos juntos... Não é? Algumas vezes? Nós fomos à uma
festa… E dançamos juntos. Eu levarei isso comigo, também.
Através de seu torpor, Elena teve um
pensamento. Não confundi-lo ainda mais. Eles tinham ido àquela “festa” somente
para salvarem a vida de Stefan. Ela lhe disse:
Nos divertimos, sim. Você é um bom
dançarino. Imagine a gente valsando!
Damon enviou lentamente, vagamente:
Sinto muito... Eu tenho sido
horrível ultimamente. Diga... Diga isso a ela. Bonnie. Diga a ela…
Elena estabilizou-se.
Eu direi. Estou te beijando
novamente. Você pode sentir eu te beijando?
Era uma pergunta retórica, então ela ficou em
choque quando Damon só respondeu devagar e sonolentamente:
Eu... Fiz algum juramento para
você, onde eu digo somente a verdade?
Sim, ela mentiu instantaneamente. Ela precisava da
verdade vinda dele.
Então... Para ser honesto, não... Eu
não consigo sentir. Parece que eu não tenho mais... Um corpo. É confortável e
quente, e nada mais machuca. E... Eu quase sinto como se não estivesse sozinho.
Não ria.
Você não está sozinho! Oh, Damon, você não
sabia disso? Eu nunca, nunca te deixaria sozinho.
Elena ficou em choque, se perguntando como
fazer com que ele acreditasse nela. Pelo menos, só por mais alguns segundos...
Aqui, ela enviou em um sussurro
telepático, eu te darei meu segredo mais
precioso. Eu nunca o disse para mais ninguém. Você se lembra daquele motel em
que ficamos, naquela nossa viagem de carro, e como todos — inclusive você — se
perguntaram o que havia acontecido naquela noite?
Um... Motel? Uma viagem de carro? Ele estava soando
muito inseguro agora. Oh, sim. Eu me
lembro. E… Na manhã seguinte… Eu fiquei com dúvidas.
Porque Shinichi roubou sua memória, Elena disse,
esperando que aquele nome odiado reavivasse Damon.
Mas não teve efeito. Assim como Shinichi, Damon havia terminado sua
missão na Terra.
Elena inclinou seu rosto contra o dele, que estava frio e sangrento.
Eu te abracei, querido, bem desse
jeito... Bem, quase assim. A noite toda. Era isso que você queria, não se
sentir sozinho.
Houve uma longa pausa, e Elena começou a ficar em pânico nas poucas
partes de seu corpo que já não estavam entorpecidas ou histéricas. Mas, então,
as palavras vieram até ela bem devagar.
Obrigado... Elena. Obrigado... Por
me dizer o seu segredo mais precioso.
Sim, eu te direi algo ainda mais precioso.
Ninguém está sozinho. Nunca. Ninguém jamais fica sozinho.
Você está comigo... É tão quente... Nada mais
com que se preocupar...
Nada mais, Elena prometeu a ele. E eu sempre estarei contigo. Ninguém está
sozinho; eu te prometo.
Elena... As coisas estão começando a ficar
estranhas agora. Não há mais dor. Mas eu preciso te contar... O que você já
sabe... Como eu me apaixonei por você... Você vai se lembrar, né? Você não vai
me esquecer?
Esquecê-lo? Como eu poderia te esquecer?
Mas Damon já estava falando e, de repente,
Elena soube que ele já não podia ouvi-la, nem ao menos telepaticamente.
Você vai se lembrar? Por mim? Só
isso… Eu amei uma vez… Só uma vez, sério, na minha vida toda. Você pode se
lembrar de que eu te amei? Isso faz com que minha vida… Valha… Alguma coisa.
Sua voz desapareceu.
Elena estava tonta demais agora. Ela sabia que ainda estava perdendo
sangue rapidamente. Bem rápido. Sua mente estava confusa. E ela, de repente,
foi atingida por uma tempestade de soluços. Pelo menos, ela não iria gritar
novamente... Não havia ninguém para se gritar. Damon já havia partido. Ele
havia ido sem ela.
Ela queria segui-lo. Nada era real. Ele não entendia? Ela não podia
imaginar um universo, não importa quantas dimensões existam, sem Damon lá. Não
havia mundo para ela, se não houvesse Damon.
Ele não podia fazer isso com ela.
Sem saber ou se importar com o que ela estava fazendo, ela mergulhou
fundo, bem fundo na mente de Damon, empunhando sua telepatia como se fosse uma
espada, cortando as conexões de madeira que ela encontrou em toda a parte. E,
por fim, ela encontrou-se mergulhando na mais profunda parte dele... Onde um
menininho, a metáfora inconsciente de Damon, que já havia sido amarrado sob
correntes e que fora designado a guardar a grande pedra que Damon mantinha seus
sentimentos.
Oh, Deus, ele deve estar com tanto medo, ela pensou. Seja qual for o custo, ele não deve ter permissão de partir enquanto
estiver com medo...
Agora ela o via. O Damon-criança. Como
sempre, ela pôde ver naquele rosto docemente arredondado, o homem forte e
robusto que Damon se tornaria, com grandes olhos negros e um olhar insondável
em potencial.
Mas, apesar de ele não estar sorrindo, o olhar da criança estava aberto
e acolhedor, de uma forma que Damon jamais estivera. E as correntes haviam
sumido. A grande pedra também se fora.
— Eu sabia que você viria — O garoto sussurrou, e Elena o pegou no colo.
Calma, Elena disse a si mesma. Calma, ele não é real. Ele é o que sobrou
da mente de Damon, a parte mais profunda de seu cérebro. Mas ainda assim, ele é
mais jovem que Margaret, e ele é tão macio e quente. Não importa o que custe,
mas por favor, meu Deus, faça com que ele não saiba o que realmente aconteceu.
Mas havia conhecimento naqueles grandes olhos negros que começaram a
encarar o rosto dela.
— Estou tão feliz em te ver — Ele confidenciou. — Eu pensei que nunca
falaria contigo novamente. E... Ele... Você sabe… Ele deixou alguns
recados comigo. Eu
não acho que ele possa dizer mais alguma coisa, então ele as enviou para mim.
Elena entendeu. Se havia algo que a madeira não houvesse alcançado, seria
a última parte de seu cérebro: a parte mais primitiva. Damon ainda podia falar com ela... Através de sua parte infantil.
Mas antes que ela pudesse falar, ela viu que havia lágrimas nos olhos da
criança e, em seguida, o corpo dele sofreu um espasmo e ele mordeu os lábios
com força... Para evitar que soltasse um grito, ela adivinhou.
— Dói? — Perguntou ela, tentando acreditar que não doesse.
Tentando acreditar desesperadamente.
— Não muito.
Mas ele estava mentindo, ela percebeu. Ainda assim, ele não havia
soltado nenhuma lágrima. Ele tinha seu orgulho, esse Damon-criança.
— Eu tenho um recado especial para você — Ele disse. — Ele pediu para
que eu dissesse a você que ele sempre estará contigo. E que você nunca estará
sozinha. Que ninguém fica sozinho.
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