Leitura Semanal - Diários do Vampiro, o retorno: Meia-Noite #5



Sinopse: Elena retorna da Dimensão das Trevas, tendo liberto seu namorado vampiro Stefan Salvatore do aprisionamento... Mas não sem uma consequência. Sua salvação custará bastante. Ainda se recuperando do último choque, eles são forçados a encarar os demônios que dominaram Fell's Church. Elena deve tomar uma decisão que custará seu amor: Damon ou Stefan?

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Capítulo 7

  Bonnie estava em seu novo quarto do primeiro andar, e estava se sentindo muito confusa. Black Magic sempre a fazia se sentir risonha, em seguida, com muito sono, mas de alguma forma esta noite seu corpo se recusou a dormir. Sua cabeça doía.
  Ela estava prestes a acender a luz da cabeceira, quando uma voz familiar lhe disse:
  — Que tal um pouco de chá para a sua dor de cabeça?
  — Damon?
  — Eu peguei um pouco das ervas da Sra. Flowers e decidi fazer um copo para você também. Você não é uma menina sortuda?
  Se Bonnie tivesse ouvido atentamente, ela poderia ter ouvido algo parecido com aversão por trás daquelas palavras dóceis — mas ela não ouviu.
  — Sim — Bonnie disse, se referindo à primeira coisa.
  A maioria dos chás da Sra. Flowers tinham um cheiro bom e eram deliciosos. Este aqui estava especialmente gostoso, mas granulava em sua língua.
  Não só o chá estava bom, mas Damon também ficou para conversar com ela enquanto ela bebia tudo.
  O estranho era que este chá feito para ela não a deixava sonolenta, mas sim como se ela só pudesse se concentrar em uma coisa de cada vez. Damon nadou pelo seu campo de visão.
  — Sentindo-se mais relaxada? — Ele perguntou.
  — Sim, obrigada.
  Estranho, muito estranho. Até mesmo sua voz soava lenta e arrastada.
  — Queria me certificar de que ninguém estava pegando pesado com você só por causa daquele erro bobo sobre a Elena. — Ele explicou.
  — Eles não estavam, é sério — Ela disse. — Na verdade, todos estavam mais interessados em ver você e Matt brigando...
  Bonnie colocou a mão por cima de sua boa.
  — Oh, não! Eu não quis dizer isso. Sinto muito!
  — Tudo bem. Devo melhorar amanhã.
  Bonnie não conseguia imaginar por que alguém estaria com tanto medo de Damon, que foi tão bom a ponto de pegar sua caneca de chá e dizer que ele iria colocá-la na pia. Isso era bom, porque ela estava se sentindo como se não fosse capaz de levar. Que acolhedor. Que confortável.
  — Bonnie, posso te perguntar uma coisinha?
  Damon pausou.
  — Eu não posso te dizer o porquê, mas... Eu tenho que descobrir onde a Esfera Estelar de Misao está guardada. — Disse ele sinceramente.
  — Oh... Isso. — Bonnie disse vagamente.
  Ela deu uma risadinha.
  — Sim, isto. E sinto muitíssimo ao perguntar para você, porque você é jovem e inocente... Mas sei que me dirá a verdade.
  Após este elogio e conforto, Bonnie sentiu como se pudesse voar.
  — Foi no mesmo lugar o tempo todo. — Disse ela com um desgosto sonolento. — Eles tentaram me fazer pensar que a haviam mudado de lugar... Mas quando eu o vi descendo à dispensa, eu soube que não fizeram isso.
  No escuro, houve uma agitação de pequenos cachos e, em seguida, um bocejo.
  — Se eles realmente fossem mudá-la de lugar... Eles deveriam ter me mandado ir lá para fora ou algo assim.
  — Bem, talvez eles estivessem preocupados com sua vida.
  — Quê? — Bonnie bocejou mais uma vez, não tendo certeza do que ele disse. — Quero dizer, um velhíssimo cofre com combinação? Eu disse para eles... Que esses cofres antigos... Poderiam... Ser facilmente... — Bonnie soltou algo como um suspirou depois parou.
  — Estou feliz que tivemos essa conversa. — Damon disse no silêncio.
  Não houve resposta vinda da cama.
  Puxando a coberta de Bonnie o mais alto possível, ele a puxou um pouco para baixo. Ela cobria todo rosto dela.
  Agora... “eu o vi descendo à dispensa”. Damon pensou enquanto ele lavava a caneca com cuidado e colocando-a de volta ao armário. A fala soava estranha, mas ele quase tinha matado a charada agora, e na verdade foi tudo bem simples. Tudo que ele precisava era de mais doze cápsulas de dormir da Sra. Flowers e dois pratos cheios de carne crua. Ele tinha todos os ingredientes... Mas nunca tinha ouvido falar de uma dispensa.
  Pouco tempo depois, ele abriu a porta para o porão. Não. Não correspondia aos critérios de “dispensa” que ele havia visto em seu celular. Irritado e sabendo que a qualquer momento alguém provavelmente desceria as escadas para pegar alguma coisa, Damon deu meia-volta, frustrado. Havia um painel em madeira elaboradamente talhado em frente ao porão, mas nada mais.
  Maldição! Ele não seria impedido, não neste momento. Ele teria sua vida como vampiro de volta, ou não iria querer nenhuma outra!
  Para enfatizar esse sentimento, ele bateu o punho contra o painel de madeira na frente dele.
  A batida soou oca.
  Imediatamente, toda a frustração desapareceu. Damon examinou o painel com muito cuidado. Sim, havia dobradiças em suas bordas, onde nenhuma pessoa em sã consciência esperaria delas. Não era um painel, mas uma porta — sem dúvida, para a dispensa onde a Esfera Estelar estava.
  Não demorou muito para que seus dedos sensíveis — até mesmo os seus dedos humanos eram mais sensíveis que os da maioria — encontrassem o local onde ele apertaria um botão e a porta se abriria toda. Ele pôde ver as escadas. Ele colocou seu embrulho embaixo do braço e desceu.
  A partir da iluminação da pequena lanterna que ele tinha pegado do armazém, a dispensa era como fora descrita: uma sala úmida de terra para armazenar frutas e legumes antes que as geladeiras fossem inventadas. E o cofre era do jeito que Bonnie havia dito: um antigo cofre de combinação enferrujado que qualquer um o abriria mais ou menos em sessenta segundos. Damon levaria cerca de seis minutos, com seu estetoscópio (ele tinha ouvido dizer, uma vez, que você poderia encontrar qualquer coisa na pensão, se você procurasse com vontade, e parecia ser verdade) e cada átomo do seu ser se concentrando num pequeno barulho de vidro.
  Antes, porém, havia a Besta para se conquistar. Sabber, o hellbound negro havia se revelado, acordado e alerta a partir do momento em que a porta secreta tinha sido aberta. Sem dúvida, eles usaram as roupas de Damon para ensiná-lo a uivar loucamente ao odor de seu perfume.
  Mas Damon tinha seu próprio conhecimento sobre ervas e tinha saqueado a cozinha da Sra. Flowers até encontrar um punhado de hamamélia, uma pequena quantidade de vinho de morango, anis, alguns óleos de menta, e alguns outros óleos essenciais que ela tinha em estoque, doces e fortes. Misturou tudo, e isto criou uma loção pungente, que ele teve o cuidado de aplicar em si mesmo. A mistura feita para Sabber tinha um emaranhado de odores fortes.
  A única coisa que o cão sabia era que não era Damon quem estava sentado nos degraus e lançando-lhe bolhas de hambúrguer e delicadas tiras de filé mignon. Cada um dos quais ele engoliu todo. Damon assistia com interesse enquanto o animal consumia a mistura de sonífero e carne, com a cauda batendo no chão.
  Dez minutos depois, Sabber, o hellbound, estava esparramado, feliz e inconsciente.
  Seis minutos depois disto, Damon estava abrindo o cofre de ferro.
  Um segundo depois, ele estava puxando uma fronha do antigo cofre da Sra. Flowers.
  Sob o brilho da lanterna, ele descobriu que realmente segurava a Esfera Estelar, mas que agora ela tinha pouco mais que a metade de seu Poder.
  Agora, o que isso significava? Havia um pequeno buraco perfurado na parte superior do globo, de modo que nenhuma gota preciosa seria desperdiçada — não mais do que o necessário.
  Mas quem tinha usado o resto do líquido — e por quê? Damon havia visto a Esfera cheia até o topo com um líquido opalescente e brilhante há poucos dias atrás.
  De alguma forma, entre aquele dia e agora, alguém tinha usado a energia que equivalia à vida de cem mil indivíduos.
  Será que os outros tentaram fazer algum ato notável com ela e falharam, custando a queima de tanto Poder? Stefan estava frágil demais para usar isso tudo, Damon estava certo disso. A não ser...
  Sage.
  Com uma Convocação Imperial em mãos, Sage estava propenso a fazer qualquer coisa. Então, algum tempo depois que a Esfera tinha sido trazida para a pensão, Sage derramara quase metade da força de vida da Esfera Estelar e, em seguida, sem dúvidas, deixou-a para trás, para que Mutt ou alguém a fechasse.
  E uma quantidade tão colossal de energia só poderia ter sido usada para... Abrir o Portal para a Dimensão das Trevas.
  Muito lentamente, Damon deixou escapar um suspiro e sorriu. Havia apenas algumas maneiras de se entrar na Dimensão das Trevas, e como agora ele era humano, ele não poderia dirigir até o Arizona e passar por um Portal público, assim como fizera na primeira vez com as garotas. Mas agora, ele tinha algo ainda melhor: uma Esfera Estelar para abrir o seu próprio Portal privado. Ele não conhecia nenhuma outra formar de ir, a menos que ele tivesse a sorte de segurar umas das quase-místicas Chaves Mestras que permitiam que qualquer um vagasse pelas dimensões à vontade.
  Sem dúvida, algum dia no futuro, em algum canto, a Sra. Flowers encontraria outra nota de agradecimento: dessa vez, com algo que fosse valioso — algo requintado e de valor inestimável e, provavelmente, de uma dimensão muito longe da Terra. Era assim que Sage operava.
  Tudo estava quieto lá em cima. Os humanos foram depender de seu companheiro animal para mantê-los seguros. Damon deu uma olhadinha pela dispensa e não viu nada além de uma sala escura e completamente vazia, exceto pelo cofre que agora estava fechado. Colocando sua própria parafernália sob a fronha, ele deu um tapinha em Sabber, que gentilmente roncou, e virou-se em direção aos degraus.
  Foi quando ele viu uma figura em pé na porta. A figura, em seguida, escondeu-se atrás dela, mas Damon havia visto o suficiente.
  Em uma mão, a figura segurava uma imensa estaca de combate.
  Isso significava que ela era uma caçadora. De vampiros.
  Damon conhecera vários caçadores — brevemente — durante o tempo. Eram, segundo sua opinião, intolerantes, irracionais, e ainda mais estúpidos do que a maioria dos humanos, porque eles geralmente haviam sido criados sob lendas de vampiros com dentes em forma presas que arrancavam as gargantas de suas vítimas e as matavam. Damon seria o primeiro a admitir que havia alguns vampiros assim, mas a maioria era mais contida. Caçadores de vampiros habitualmente trabalhavam em grupos, mas Damon tinha um palpite de que este estaria sozinho.
  Agora, ele subia os degraus devagar. Ele estava bastante certo sobre a identidade desta caçadora, mas, se ele estivesse enganado, ele teria que desviar de uma estaca lançada direto para ele como se fosse um dardo. Não haveria problema — se ele ainda fosse um vampiro. Seria um pouquinho mais difícil, estando ele desarmado e em grande desvantagem tática.
  Ele alcançou o topo das escadas ileso. Esta foi realmente a parte mais perigosa da escalada, pois um tiro certeiro poderia tê-lo levado de volta para baixo. É claro que um vampiro não seria permanentemente ferido por causa disso, mas — novamente — ele não era mais um vampiro.
  Mas a pessoa que estava na cozinha lhe permitiu subir todo o caminho da dispensa sem impedimentos.
  Uma assassina com honra. Que adorável.
  Ele virou-se lentamente para encarar sua caçadora. Ele ficou imediatamente impressionado. Não havia sido a força óbvia da caçadora, que seria capaz de acabar com uma figura alta como ele com aquela estaca, que o impressionou. Foi a arma em si. Perfeitamente equilibrada, ela foi feita para se ser segurada no meio, e o design de jóias em seu punho mostrava que o seu criador tinha bom gosto. As extremidades mostravam que ele tinha um senso de humor também. As duas extremidades da estaca foram feitas de madeira-ferro para mostrar força — mas elas também foram decoradas. Em geral, elas foram feitas para se assemelhar a uma das mais antigas armas da humanidade: a lança dos homens das cavernas. Mas havia pequenos pedaços de objetos na estaca, fixadas firmemente. Esses minúsculos pedaços eram feitos de materiais diferentes: prata para lobisomens, madeira para vampiros, cinza branca para os Antigos, ferro para todas as outras criaturas místicas, e alguns que Damon não conseguiu descobriu para que serviam.
  — Elas são recarregáveis. — A caçadora explicou. — Agulhas hipodérmicas injetadas com o impacto. E, é claro, diferentes venenos para diferentes espécies... Rápidas e simples para contra humanos; wolfsbane para aqueles cachorros sarnentos, e por aí vai. Queria tê-la encontrado antes do nosso confronto com Klaus.
  Então, ela pareceu voltar à nossa realidade.
  — E aí, Damon, como é que vai ser? — Perguntou Meredith.



Capítulo 8

  Damon acenou com a cabeça, pensativo, olhando para frente e para trás, entre a estaca de combate e a fronha em sua mão.
  Será que ele nunca tinha suspeitado de algo assim antes? Subconscientemente? Afinal, havia o ataque ao avô, que havia falhado, tanto na tentativa de matá-lo quanto na de apagar sua memória completamente. A imaginação de Damon pôde preencher o resto: seus pais, não vendo razão de arruinar com a vida de sua filhinha com esta horrível obrigação — com toda essa mudança de cenário —, então decidiram desistir de tudo, ou seja, de proteger Fell’s Church.
  Se ao menos eles a vissem agora.
  Oh, sem dúvida eles se certificaram de que Meredith fizesse aulas de autodefesa e treinasse diversas artes marciais desde que era pequena, enquanto ela jurasse segredo absoluto, até mesmo de suas melhores amigas.
  Pois é, Damon pensou. O primeiro enigma de Shinichi já estava resolvido. “Um de vocês esconde um segredo de todos”. Eu sempre soube que havia algo com essa menina... E aí está. Aposto minha vida que ela é faixa preta.
  Houve um longo silêncio. Agora, Damon o quebrou:
  Seus ancestrais eram caçadores também? Ele perguntou, como se ela fosse telepata.
  Ele esperou por um momento... Ainda silêncio.
  Ok. Nada de telepatia. Essa foi boa.
  Ele acenou com a cabeça para a majestosa estaca.
  — Isso, certamente, foi feito para um lorde ou para uma lady.
  Meredith não era idiota. Ela falou sem tirar os olhos dele. Ela estava pronta para que, a qualquer instante, ela pudesse entrar no modo de matar.
  — Somos somente pessoas comuns tentando fazer nosso trabalho para que as outras pessoas possam ficar a salvo.
  — De serem mortas por um vampiro ou dois.
  — Bem, até agora a história de “você vai apanhar se fizer besteira” não fez com que os vampiros se tornassem vegetarianos.
  Damon teve que rir.
  — É uma pena você não ter nascido antes para converter o Stefan. Ele poderia ter sido seu maior triunfo.
  — Você acha isso engraçado, mas fazemos com que eles se convertam.
  — Sim. As pessoas dirão qualquer coisa enquanto vocês estiverem apontando um pedaço de pau para eles.
  — Pessoas que sentem que é errado Influenciar outras, fazendo-as acreditarem que elas estão algo em troca.
  — É isso aí, Meredith! Deixe-me Influenciar você.
  Dessa vez, foi Meredith quem riu.
  — Não, estou falando sério! Quando eu for um vampiro novamente, deixe-me Influenciar você para não ter tanto medo de mordidas. Não demorará mais do que um segundo. Mas me dará tempo para lhe mostrar...
  — Uma grande casa de doces que jamais existiu? Um parente morto há mais de dez anos que teria se abominado com a ideia de você tirar uma memória minha e usá-la como uma isca? Um sonho de acabar com a fome no mundo, ao invés de colocar comida em uma boca?
  Essa garota, Damon pensou, é perigosa. É como se ela fosse do clube Contra-Influência, onde isto lhe era ensinado aos seus membros. Querendo que ela visse que os vampiros, ou os ex-vampiros, ou os Vampiros de Antes e os Vampiros de Depois, tinham qualidades boas — como coragem...
  Ele soltou a fronha e agarrou o fim da estaca de combate com as duas mãos.
  Meredith levantou uma sobrancelha.
  — Eu não te disse que algumas partes desta estaca que você acabou de tocar são venenosas? Ou você não estava ouvindo?
  Ela tinha automaticamente tocado na estaca também, acima da parte perigosa.
  — Disse — Ele disse incompreensivamente.
  — Eu disse “venenosa tanto para humanos quanto para lobisomens e outras coisas”... Lembra-se?
  — Disse isso também. Mas eu prefiro morrer a viver como humano, então: que os jogos comecem.
  E com isso, Damon começou a empurrar a estaca em direção ao coração de Meredith.
  Imediatamente, ela segurou com mais força a estaca, empurrando-a em direção a ele. Mas ele tinha três vantagens, ambos logo perceberam: ele era um pouquinho mais alto e mais forte do que a ágil e atlética Meredith; ele segurava mais partes da estaca do que ela; e ele havia assumido uma posição mais agressiva.
  Mesmo que ele pudesse sentir o veneno nas palmas das mãos, ele continuou empurrando, até chegar à área de matar, próximo ao coração dela. Meredith afastou-se com uma quantidade surpreendente de força e, de repente, de alguma forma, eles voltaram à estaca zero.
  Damon olhou para cima para ver como aquilo tinha acontecido, e viu, para sua surpresa, que ela também havia compreendido que a estaca estava na zona de matança. Agora, as mãos dela gotejavam sangue ao chão, assim como as dele.
  — Meredith!
  — O que foi? Eu levo meu trabalho a sério.
  Apesar de sua jogada, ele era mais forte. Centímetro por centímetro, ele forçou suas mãos perfuradas com braços, para exercer pressão. E centímetro por centímetro, ela foi forçada a ir para trás, recusando-se a desistir — até que não havia mais espaço para recuar.
  E lá estavam eles, toda a extensão da estaca entre eles, e a geladeira encostada em Meredith.
  Tudo que Damon pôde pensar foi em Elena. Se ele, de alguma forma, sobrevivesse — e Meredith não —, o que aqueles olhos cristalinos lhe diriam? Como ele poderia viver com o que eles lhe dissessem?
  E, em seguida, em um tempo exasperante, como um jogador de xadrez que derruba o seu próprio rei, Meredith soltou a estaca, cedendo sobre a força superior de Damon.
  Depois disso, como se ela não tivesse medo de lhe dar as costas, ela pegou um frasco cheio de bálsamo em um armário da cozinha, pegando um bocado do conteúdo, e fez para sinal para Damon dar-lhe as mãos. Ele franziu o cenho. Ele nunca tinha ouvido falar de um veneno que penetrasse no sangue e que pudesse ser curado pelo lado externo.
  — Eu não pus veneno de verdade na parte humana — Ela disse calmamente. — Mas suas mãos foram perfuradas e isso aqui será um excelente remédio. Ela é antiga, passada por gerações.
  — Que bondade a sua de me contar. — Disse, sendo nitidamente irônico. — E agora, o que faremos? Começaremos tudo de novo? — Ele adicionou, enquanto Meredith calmamente começou a esfregar pomada em suas próprias mãos.
  — Não. Caçadores têm um código, você sabe disso. Você ganhou a Esfera. Eu suponho que você esteja planejando fazer o que o Sage fez. Abrir o Portal para a Dimensão das Trevas.
  — Abrir o Portal para as Dimensões das Trevas. — Ele corrigiu. — É provável que eu devesse ter mencionado: há mais de uma. Mas tudo que eu quero é me tornar um vampiro novamente. E podemos conversar enquanto caminhamos, uma vez que estamos vestindo nossos trajes de ladrões.
  Meredith estava vestida do mesmo jeito que ele: calça jeans pretas e uma blusa leve e preta. Com seu cabelo escuro brilhando, ela estava inesperadamente bonita. Damon, quem estava considerando matá-la com estaca, como era a obrigação de sua espécie, encontrava-se agora vacilando. Se ela não lhe desse problemas em seu caminho em direção à porta, ele a deixaria ir, ele decidiu. Ele estava se sentindo magnânimo — pela primeira vez, ele havia enfrentado e conquistado a assustadora Meredith, e, além disso, ela tinha um código, assim como ele. Ele sentiu uma espécie de parentesco com ela. Com uma gargalhada irônica, acenou com a cabeça para ela ir à frente, mantendo a fronha e a estaca com ele.
  Enquanto Damon silenciosamente fechava a porta da frente, viu que o amanhecer estava prestes a chegar.
  O timing era perfeito. A estaca pegou os primeiros raios de luz.
  — Eu tenho uma pergunta para você. — Disse ele para os cabelos longos, escuros e sedosos de Meredith. — Você disse que não havia achado esta linda estaca antes de Klaus, aquele Antigo maligno, estar morto. Mas se você é de uma família de caçadores, você poderia ter sido mais útil em ajudar a despachá-lo. Como por exemplo,estas cinzas brancas poderiam tê-lo matado.
  — É que os meus pais não seguiram ativamente com os negócios da família... Eles não sabiam. Ambos são descentes de caçadores, é claro... É preciso ser, para deixar esse assunto fora dos tablóides e...
  —... Dos arquivos da polícia...
  — Você quer que eu fale, ou prefere ficar aqui sozinho fazendo piadinhas?
  — Vá para o assunto principal. — Referindo-se à estaca — Eu ouvirei.
  — Mas mesmo que eles optaram por não estarem ativos, eles sabiam que um vampiro ou um lobisomem poderia decidir raptar sua filha, caso descobrissem sua identidade. Assim, durante a escola, eu fazia “aulas de luta” e “aulas de equitação” uma vez por semana... Eu as fiz desde que tinha três anos. Eu sou faixa preta em Shihan e Saseung Taekwondo. Devo começar a fazer Dragon Kung Fu...
  — Voltando ao ponto principal. Mas como exatamente você encontrou essa maravilhosa arma?
  — Depois de Klaus estar morto, enquanto Stefan estava dando uma de babá da Elena, de repente o vovô começou a falar... Somente algumas palavras... Mas isso fez com que eu fosse dar uma olhada no nosso sótão. Eu encontrei isso.
  — Então, você não sabia como usá-la?
  — Só havia começado a praticar quando Shinichi apareceu. Mas, não, eu não tinha nenhuma ideia de como usá-la. Embora eu seja ótima usando o Bō*, então eu usei a usei do mesmo jeito.
* é uma arma japonesa que é basicamente um pedaço de pau de comprimento variante entre 180 cm e 210 cm. Esse bastão de madeira é geralmente feito de bambu.
  — Você não a usou como se fosse um Bō em mim.
  — Estava tentando persuadir você, não matá-lo. Eu não saberia explicar à Elena como eu quebrara todos os seus ossos.
  Damon segurou-se para não rir — ou quase isso.
  — Então, como é que um casal de caçadores inativos acabou se mudando para uma cidade com centenas de linhas de atração?
  — Eu acho que eles não sabiam o que essa linha de Poder natural era. E Fell’s Church parecia pequena e pacífica... Até agora.
  Eles descobriram que o Portal estava igual desde a última vez que Damon havia o visto: um elegante pedaço retangular cortando na terra, com cerca de cinco metros de profundidade.
  — Agora, sente-se lá. — Ele esconjurou para Meredith, colocando-a no canto oposto de onde estava a estaca.
  — Você já pensou... Mesmo que por um instante... O que vai acontecer com Misao se você derramar todo o líquido lá dentro?
  — Na verdade, não. Não valeria a pena, nem por um microssegundo. — Damon disse alegremente. — Por quê? Você acha que ela faria o mesmo por mim?
  Meredith suspirou.
  — Não. Esse é o problema com vocês dois.
  — Certamente, ela é o seu problema no momento, embora eu possa dar uma passadinha por aqui depois que a cidade estiver destruída para trocar uma ideia com o irmão dela sobre manter o juramento.
  — Só depois que você estiver forte o bastante para derrotá-lo.
  — Bem, por que você não faz alguma coisa? É sua cidade que eles estão devastando, afinal. — Damon disse. — Crianças atacando a si mesmas e aos outros; e agora, os adultos atacando as crianças...
  — Ambos estão morrendo de medo ou sendo possuídos por aqueles malach que as raposas ainda estão espalhando por aí...
  — Sim, e o medo e a paranoia continuam sendo espalhados por aí também. Fell’s Church pode ser pequena, comparado com os outros genocídios que eles causaram, mas ela é um lugar importante por estar situada acima...
  —… Das linhas de atração cheias de Poder... Sim, sim, eu sei. Mas você nem ao menos se importa? E quanto a nós? Os nossos planos para o futuro? Nada disso importa para você? — Meredith exigiu.
  Damon pensou na pequena criatura no quarto do primeiro andar e sentiu um enjoo.
  — Eu já disse — Retrucou. — Voltarei para conversar com Shinichi.
  Então, cuidadosamente, ele começou a derramas o líquido da Esfera Estelar em um canto do retângulo. Agora que ele estava realmente no Portal, ele percebeu que não tinha ideia do que ele devia fazer. O procedimento correto poderia ser o de entrar no buraco e derramar o líquido de toda a Esfera Estelar no meio. Mas quatro cantos pareciam ditar quatro lugares diferentes para se derramar, e ele estava aderindo a isto.
  Ele esperava que Meredith trapaceasse de alguma forma. Correr até a casa. Fazer algum barulho, pelo menos. Atacá-lo por trás, agora ele tinha deixado cair a estaca. Mas, aparentemente, seu código de honra a proibiu.
  Que menina estranha, ele pensou. Mas vou deixar-lhe a estaca, uma vez que realmente pertence à sua família e, de qualquer maneira, ela me mataria no instante em que eu chegasse à Dimensão das Trevas. Um escravo carregando uma arma — especialmente uma arma como esta — não teria nenhuma chance.
  Sensatamente, ele derramou quase todo o líquido à esquerda da última curva e deu um passo para trás para ver o que aconteceria.
  SSSS-bah! Branca. Uma ardente luz branca. Foi tudo que seus olhos ou sua mente pôde perceber em primeiro lugar.
  E então, como uma corrente de adrenalina, ele pensou: Consegui! O Portal está aberto!
  — Para o centro da Dimensão das Trevas, por favor. — Disse ele educadamente para o buraco em chamas. — Um beco isolado, provavelmente, seria melhor, se você não se importa.
  E então, ele pulou no buraco.
  Só que ele não pulou. Quando ele estava prestes a dobrar os joelhos, algo o agarrou pela direita.
  — Meredith! Eu pensei...
  Mas não era Meredith. Era Bonnie.
  — Você me enganou! Você não por ir lá! — Ela estava chorando e gritando.
  — Sim, eu posso! Agora, me solta... Antes que ele desapareça. — Ele tentou erguê-la, enquanto sua mente girava inutilmente. Ele havia deixado aquela garota, tipo, uma hora ou mais atrás, num sono tão profundo que ela parecia estar morta. Quanto será que este corpinho agüenta?
  — Não! Eles vão te matar! E Elena vai me matar! Mas serei morta primeiro, porque ainda estarei aqui!
  Desperto, ele pôde montar as peças do quebra-cabeça.
  — Humana, eu disse para me soltar — Ele rosnou.
  Ele arreganhou os dentes para ela, que só fez com que ela enterrasse a cabeça em seu casado, agarrando-se no estilo bebê-coala.
  Umas boas bofetadas devem afastá-la, ele pensou.
  Ele ergueu sua mão.

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