Leitura Semanal - Diários do Vampiro, os caçadores: Fantasma #3



Sinopse: O passado nunca está longe... Elena Gilbert e seus amigos salvaram Fell's Church dos espíritos malignos, mas a libertação da cidade veio com um preço: a vida de Damon Salvatore. Agora, como nada estando no caminho, Elena e Stefan podem finalmente ficar juntos. Então, por que Elena não consegue parar de sonhar com Damon? Enquanto os sentimentos de Elena por Damon crescem, uma nova escuridão está se formando em Fell's Church. Elena foi até o inferno e voltou, mas esse demônio não é nada igual ao que ela já viu antes. Sua única meta é matar Elena e a todos que ela ama.

Antes de começarem a leitura, quero ressaltar algumas coisas:
  • Esse livro foi escrito pela autora, antes de ser demitida, mas algumas partes foram mudadas pela ghostwriter;
  • A ghostwriter mudou o sobrenome da Meredith, tirando "Sulez" e colocando "Suarez", mas ela volta a escrever "Sulez" no próximo volume;
  • Os olhos de Elena começam a ser descritos como "azuis safira" e não mais "azuis lápis-lazúli";
  • Quiseram fazer com que os livros ficassem próximos à série, então colocaram o Klaus como um "Original", e não mais um "Antigo", assim como Bonnie passa a ser uma bruxa;
  • O temperamento de Damon passa ser igual ao da série, e este Damon fala palavrão (sendo que em "Meia-Noite" a Elena disse que ele nunca falaria isso na frente dela).
E, como é de praxe, se for copiar o texto a seguir para algum outro site, por favor colocar os créditos! Ajude o trabalho do tradutor e dê ibope ao site. Boa leitura! :)


5

 — Você está animada com a chegada de Alaric amanhã? — Matt perguntou. — Ele está trazendo a amiga pesquisadora, Celia, certo?
  Meredith o chutou no peito.
  — Ai!
  Matt cambaleou para trás, ficando sem fôlego, apesar do colete de proteção que ele usava. Meredith continuou com um chute circular na lateral de Matt, e ele caiu de joelhos, quase não conseguindo erguer suas mãos e bloquear um soco direto em seu rosto.
  — Ei! — Ele disse. — Meredith, dá um tempo, ok?
  Meredith ficou em uma postura graciosa de tigre, com uma perna para trás para dar apoio ao seu peso enquanto a outra estava levemente apoiada sobre o pé. Sua face estava calma, seus olhos estavam indiferentes e atentos. Ela parecia estar pronta para dar o bote se Matt mostrasse qualquer sinal de movimento repentino.
  Quando ele chegou para ajudar Meredith — ajudá-la a aprimorar suas habilidades de caçadora —, Matt se perguntou porquê ela havia estendido-lhe um capacete, um protetor bucal, luvas, caneleiras e um colete, enquanto ela vestia somente roupas de ginástica pretas e lustrosas.
  Agora ele sabia. Ele não havia chegado nem perto de atingi-la, enquanto ela o havia esmurrado sem misericórdia. Matt colocou uma mão sob o colete e esfregou sua lateral com tristeza. Ele esperava não ter quebrado uma costela.
  — Pronto para irmos novamente? — Meredith disse, suas sobrancelhas se erguendo em desafio.
  — Por favor, não, Meredith — Matt disse, erguendo suas mãos em rendição. — Vamos dar uma pausa. Parece que você tem me batido há horas.
  Meredith foi em direção a uma pequena geladeira no canto da sala de jogos de sua família e jogou uma garrafa d'água para Matt, então sentou-se no tapete ao seu lado.
  — Desculpe. Eu acho que me empolguei. Eu nunca lutei com um amigo antes.
  Olhando ao redor enquanto ele dava um longo e refrescante gole, Matt sacudiu sua cabeça.
  — Eu não sei como você conseguiu manter esse lugar em segredo por tanto tempo.
  O porão havia sido convertido em um lugar perfeito para se treinar: shurikens, facas, espadas e estacas de vários tipos estavam presos à parede; um saco de pancada pendurado em um canto, enquanto um boneco acolchoado encontrava-se em outro. O chão estava coberto de colchões, e uma parede fora coberta completamente por espelhos. No meio da parede oposta estava a estaca de combate: a arma feita especialmente para batalhar contra o sobrenatural e que tem sido passada de geração em geração da família de Meredith. Era mortal, mas elegante, o cabo coberto por joias, a pontas cravadas com prata, madeira e cinza branca, as agulhas mergulhadas em veneno. Matt olhou-a cautelosamente.
  — Bem — disse Meredith, olhando para longe —, a família Suarez sempre foi boa em guardar segredos.
  Ela começou a se mover ao estilo taekwondo: postura voltada para trás, bloqueio duplo de punhos, postura voltada para frente, meio soco reverso. Ela estava graciosa como um gato preto com sua roupa de ginástica.
  Depois de um instante, Matt tampou sua garrafa d'água, ficando em pé, e começou a repetir seus movimentos. Duplo chute de esquerda, bloqueio com a perna esquerda, duplo soco. Ele sabia que estava longe de ser igual a ela e sentiu-se desajeitado e tímido ao seu lado, mas franziu o cenho e se concentrou. Ele sempre foi um bom atleta. Ele poderia fazer isso, também.
  Além disso, não é como se eu trouxesse meus pretendentes para cá — Meredith soltou após o término de um circuito, meio que sorrindo. — Não foi tão difícil de esconder.
  Ela olhou Matt pelo espelho.
  — Não, bloqueie por baixo com sua mão esquerda e erga a sua direita, desse jeito.
  Ela mostrou novamente, e ele ensombreou seus movimentos.
  — Ok, sim — ele disse, com metade da concentração nas suas palavras agora, focado nas posições. — Mas você poderia ter nos dito. Nós somos seus melhores amigos.
  Ele moveu seu pé esquerdo para frente e imitou o golpe de cotovelo de Meredith.
  — Pelo menos você poderia ter nos dito depois de todo aquele rolo com o Klaus e a Katherine — ele alterou. — Antes disso, nós teríamos pensado que você fosse louca.
  Meredith deu de ombros e relaxou suas mãos, e Matt a seguiu antes de perceber que o gesto não fazia parte do estilo taekwondo.
  Agora eles estavam parados lado a lado, olhando um para outro através do espelho. A face calma e elegante de Meredith parecia pálida e comprimida.
  — Eu fui criada para manter minha herança como caçadora em um profundo e obscuro segredo — ela disse. — Dizer a alguém não era algo que eu pudesse considerar. Até mesmo Alaric não sabe.
  Matt afastou o olhar da imagem do espelho de Meredith para encarar a garota verdadeira. Alaric e Meredith eram praticamente noivos. Matt nunca ficou com alguém tão a sério desse jeito — a garota que ele ficou próximo de amar foi Elena, e obviamente que não havia dado certo —, mas ele meio que imaginava como devia ser: caso você comprometesse seu coração a alguém, você contava tudo a ela.
  — Alaric não é um pesquisador paranormal? Você não acha que ele vá entender?
  Franzindo, Meredith deu de ombros novamente.
  — Provavelmente — ela disse, soando irritada e desdenhosa —, mas eu não quero ser algo que ele estude ou pesquise, não mais do que eu quero que ele enlouqueça. Mas desde que você e os outros sabem, eu tenho que contar a ele.
  — H'mm — Matt esfregou sua lateral de novo. — É por isso que você está me batendo tão agressivamente? Porque você está aflita em contar a ele?
  Meredith encontrou seus olhos. As linhas de seu rosto ainda estavam tensas, mas um lampejo travesso brilhou em seus olhos.
  — Agressiva? — Ela perguntou docemente, voltando à sua postura de tigre.
  Matt sentiu um sorriso em resposta se puxar nos cantos de sua boca.
  — Você ainda não viu nada.

  Elena examinou o restaurante que tia Judith havia escolhido com um olhar confuso e perplexo. Máquinas sonoras de videogame disputavam a atenção com jogos antigos de fliperama, como Whac-A-Mole e Skee-Ball. Ramos de balões coloridos e brilhantes balançavam sobre cada mesa, e um som cacofônico de músicas vinha de vários cantos enquanto garçons-cantores entregavam pizza atrás de pizza. Pareciam haver centenas de crianças correndo, gritando e rindo.
Stefan havia caminhando com ela até o restaurante, mas, olhando para a pintura em neon com alarde, ele recusou-se a entrar.
  — Oh, eu não devia me meter na noite só de garotas — ele havia dito vagamente, e então desapareceu tão rapidamente que Elena suspeitou que ele havia usado sua velocidade vampírica.
  — Traidor — ela murmurou antes de abrir cautelosamente a porta cor-de-rosa.
  Após o momento em que ficaram juntos no cemitério, ela se sentiu mais forte e feliz, mas ela teria gostado de algum suporte aqui, também.
  — Bem-vinda ao Happytown — gorjeou uma garçonete anormalmente feliz. — Mesa para um, ou você é convidada da festa?
  Elena reprimiu um tremor. Ela não podia imaginar alguém escolhendo um lugar como este por vontade própria.
  — Eu acho que vi meu grupo — ela disse educadamente, captando o aceno de tia Judith em um canto.
  — Essa é sua ideia de noite só de garotas, tia Judith? — ela perguntou quando alcançou a mesa. — Eu estava imaginando um bistrô mais aconchegante.
  Tia Judith apontou com a cabeça para o outro lado da sala. Ao olhar, Elena achou Margaret batendo toda alegre em uma toupeira de brinquedo com um martelo.
  — Nós sempre levamos Margaret para lugares de adultos e esperamos que ela se comporte — tia Judith explicou. — Eu pensei que fosse hora de ela fazer algo que gostasse. Eu espero que Bonnie e Meredith não se importem.
  — Parece mesmo que ela está se divertindo — Elena disse, estudando sua irmãzinha.
  Suas lembranças de Margaret eram tensas e aflitas: durante o outono, Margaret ficou transtornada por causa das brigas de Elena com Judith e Robert e por causa dos misteriosos acontecimentos em Fell's Church e, então, é claro, ficou devastada com a morte de Elena. Elena havia olhado para ela através da janela e viu que ela estava chorando. Ela havia sofrido mais do que uma garotinha devia, mesmo se ela não se lembrasse de nada disso agora.
  Eu vou cuidar de você, Margaret, ela prometeu forte e silenciosamente, olhando a concentração estudiosa no rosto de sua irmã enquanto Margaret praticava violência à moda antiga. Você não tem que se sentir desse modo novamente, neste mundo.
  Vamos esperar por Bonnie e Meredith? — Tia Judith solicitou com delicadeza. — Você ao menos as convidou para se juntarem a nós?
  — Oh — disse Elena, afastada de seu devaneio.
  Ela encheu a mão de pipoca de uma cesta no meio da mesa.
  — Eu não consegui ligar para Meredith, mas Bonnie está vindo. Ela vai adorar.
  — Eu amo absoluta e completamente tudo isso — uma voz concordou por trás dela.
  Elena virou-se para ver os cachos vermelhos e sedosos de Bonnie.
  — Sobretudo a expressão em seu rosto, Elena — os olhos grandes de Bonnie estavam dançando, entretidos.
  Ela e Elena dividiram um olhar que estava repleto de “estamos de volta, estamos de volta, elas fizeram o que disseram e Fell's Church está do jeito que devia estar novamente”, pois não podiam dizer isso na frente de tia Judith, então caíram uma nos braços da outra.
  Elena apertou Bonnie com força, e Bonnie enterrou seu rosto no ombro de Elena por um instante. Seu corpinho estremeceu levemente nos braços de Elena, e Elena percebeu que não era a única andando em uma fina linha entre deleite e devastação. Elas haviam ganhado tanto... mas tudo isso veio com um grande preço.
  — Na verdade — disse Bonnie com um ânimo meticuloso enquanto soltava Elena —, eu fiz meu nono aniversário em um lugar bem parecido com este. Lembra do Hokey-Pokey Grill? Aquele era o lugar para se estar quando estávamos no ensino fundamental.
  Seus olhos seguravam um brilho que parecia serem lágrimas.
  Bonnie, Elena pensou com admiração, iria se divertir mesmo se isso a matasse.
  Eu me lembro daquela festa — Elena disse, correspondendo à luminosidade de Bonnie. — O seu bolo tinha uma grande foto de alguma boy band nele.
  Eu era matura para a minha idade — Bonnie disse à tia Judith animadamente. — Eu era louca por garotos antes que qualquer uma das minhas amigas fossem.
  Tia Judith riu e acenou para que Margaret viesse até a mesa.
  — É melhor fazermos nossos pedidos antes que o show comece — ela disse.
  Elena, de olhos bem abertos, murmurou “Show” para Bonnie, quem estava rindo e tremendo.
  — Vocês, garotas, vão querer o quê? — Tia Judith perguntou.
  — Eles tem algo além de pizza? — Elena questionou.
  — Frango empanado — respondeu Margaret, subindo em sua cadeira. — E cachorro-quente.
  Elena sorriu para o cabelo despenteado e a expressão de encanto de sua irmã.
  — O que você vai querer, coelhinha? — Ela perguntou.
  — Pizza! — Margaret respondeu. — Pizza, pizza, pizza.
  — Então será pizza, também — Elena decidiu.
  — É a melhor coisa daqui — Margaret confidenciou. — Os cachorros-quentes têm um gosto estranho.
  Ela encolheu em sua cadeira.
  — Elena, você vai vir ao meu recital de dança?
  — Quando vai ser? — Elena perguntou.
  — Depois de amanhã — ela disse. — Você sabe disso.
  Elena olhou bem rápido para Bonnie, que estava de olhos arregalados.
  — Eu não perderia por nada nesse mundo — ela disse à Margaret afetuosamente, e sua irmã concordou com firmeza, ficando em pé em sua cadeira para pegar pipoca.
  Sob o olhar de bronca de tia Judith e o som melodioso do garçom-cantor que se aproximava, Bonnie e Elena trocaram um sorriso.
  Recitais de dança. Garçons que cantavam. Pizza.
  Era bom viver nesse mundo, para variar.

6

 A manhã seguinte estava clara e quente de novo, outro belo dia de verão. Elena se espreguiçou preguiçosamente em sua cama confortável, então colocou uma camiseta e shorts e desceu até a cozinha para comer uma tigela com cereal.
  — Bom dia — Elena disse, colocando leite na sua tigela.
  — Oi, dorminhoca — disse tia Judith, e Margaret deu-lhe um grande sorriso e acenou, balançando os dedos. — Apronte-se, Margaret. Estamos indo para o mercado — ela disse à Elena. — O que você vai fazer hoje?
  Elena engoliu todo o cereal que estava em sua boca.
  — Nós vamos buscar Alaric e sua amiga na estação de trem e então sair por aí e contar as novidades — ela disse.
  — Quem? — Tia Judith perguntou, estreitando o nariz.
  A mente de Elena girou.
  — Oh, uh, você sabe, ele substituiu o Sr. Tanner ao lecionar história no último ano — ela disse, se perguntando se isso era verdade neste mundo.
  Tia Judith franziu a testa.
  — Ele não é um pouco velho demais para socializar com garotas do ensino médio?
  Elena revirou os olhos.
  — Não estamos mais no ensino médio, tia Judith. E ele é só seis anos mais velho que a gente. E não são só garotas. Matt e Stefan irão, também.
  Se essa era a reação de tia Judith ao saber que eles iriam passar um tempo com Alaric, Elena entendia porquê Meredith estava hesitante em dizer às pessoas sobre o seu relacionamento. Fazia sentido esperar alguns anos, até que as pessoas começassem a pensar nela como uma adulta. Já que ninguém aqui sabia todas as coisas que Meredith havia feito, ela era igual a qualquer outra garota de dezoito anos.
  Que bom que tia Judith não sabe que Stefan tem quinhentos anos a mais do que eu, Elena pensou com um sorriso secreto. Ela pensa que Alaric que é muito velho.
  A campainha tocou.
  — É o Matt e a galera — Elena disse, colocando sua tigela na pia. — Até à noite, pessoal.
  Margaret arregalou seus olhos para Elena em um apelo silencioso, e Elena desviou seu caminho até a porta para apertar os ombros da garotinha. Margaret ainda pensava que Elena não voltaria?
  Lá fora, no hall de entrada, ela passou seus dedos pelo seu cabelo antes de abrir a porta.
  Parado na frente dela não estava Stefan, no entanto, mas um perfeito estranho.
  Um estranho muito bonito, Elena pensou automaticamente, um garoto com cerca de sua idade e com cabelos cacheados dourados, feições esculpidas e olhos azuis brilhantes. Ele estava segurando em uma das mãos uma rosa de um vermelho profundo.
  Elena ficou mais ereta, colocando seus ombros para trás inconscientemente e colocando seu cabelo atrás da orelha. Ela adorava Stefan, mas isso não significava que ela não poderia olhar para outros garotos, ou falar com eles. Elas não estava morta, afinal de contas. Pelo menos, não mais, ela pensou, sorrindo para sua piada particular.
  O garoto sorriu de volta.
  — Oi, Elena — ele disse alegremente.
  — Caleb Smallwood! — Tia Judith disse, vindo ao hall. — Aí está você!
  Elena sentiu-se recuar, mas manteve o sorriso no rosto.
  Algum parentesco com Tyler? — Ela disse, aparentemente calma, e correu seus olhos sobre ele, tentando ser sutil, checando...
  Checando o quê? Sinais de ele ser um lobisomem? Ela percebeu que não sabia quais eles seriam. A boa aparência de Tyler sempre teve um aroma animalesco, com seus grandes dentes brancos e rosto largo, mas tudo isso poderia ser só uma coincidência?
  — Tyler é meu primo — Caleb respondeu, seu sorriso começando a se transformar em uma carranca zombeteira. — Eu pensei que você soubesse disso, Elena. Eu estou ficando com pais dele enquanto Tyler está... fora.
  A mente de Elena começou a trabalhar. Tyler Smallwood havia fugido depois que Elena, Stefan e Damon haviam derrotado seu aliado, o vampiro maligno Klaus. Tyler havia deixado sua namorada — e, às vezes, refém —, Caroline, grávida. Elena não havia discutido sobre o destino de Tyler e Caroline com as Guardiãs, então ela não tinha ideia do que havia acontecido com eles nesta realidade. Tyler ainda era um lobisomem? Caroline estava grávida? E, caso estivesse, estaria esperando filhotes ou bebês humanos? Ela sacudiu sua cabeça levemente. Admirável mundo novo*, de fato.
  * ”Brave new world”, no original, igual ao nome dado ao episódio dois da segunda temporada da série.
  — Bem, não deixe Caleb parado na varanda. Deixe-o entrar — tia Judith instruiu por trás dela.
  Elena deu um passo para o lado, e Caleb passou por ela até o hall.
  Elena tentou expandir sua mente e alcançar a aura de Caleb, para lê-lo e ver se ele era perigoso, mas mais uma vez ela deu de cara com uma parede de tijolos. Levaria algum tempo até se acostumar em ser uma garota normal de novo, e de repente Elena se sentiu horrivelmente vunerável.
  Caleb alternava, colocando o peso de seu corpo ora em um pé ora em outro, parecendo desconfortável, e ela prontamente se recompôs.
  — Há quanto tempo você está na cidade? — Ela perguntou, e então xingou-se por tratar novamente esse garoto que ela devia conhecer como se fosse um estranho.
  — Bem — ele disse devagar —, eu estive na cidade o verão todo. Você bateu a cabeça durante o final de semana, Elena?
  Ele sorriu provocativamente para ela.
  Elena ergueu um ombro, pensando em tudo que ela poderia ter sofrido durante o fim de semana.
  — Algo parecido com isso.
  Ele estendeu a rosa.
  — Isso deve ser para você.
  — Obrigada — disse Elena, confusa.
  Um espinho espetou seu dedo quando ela a pegou pela haste, e ela colocou seu dedo na boca para estancar o sangue.
  — Não me agradeça — ele disse. — Ela estava em frente à sua porta quando eu cheguei. Você deve ter um admirador secreto.
  Elena franziu o cenho. Muitos garotos a admiravam na escola e, se isso houvesse sido há nove meses atrás, ela poderia ter um bom palpite de quem teria lhe deixado a rosa. Mas agora ela não tinha ideia.
  O velho Ford sedan de Matt estacionou e buzinou.
  — Tenho que ir, tia Judith — ela disse. — Eles estão aqui. Foi bom vê-lo, Caleb.
  O estômago de Elena se revirou enquanto ela caminhava até o carro de Matt. Não foi só a singularidade em ver Caleb que a havia afetado, ela percebeu, virando o haste da rosa distraidamente entre seus dedos. Foi o carro entre si.
  O velho Ford de Matt era o carro que ela havia capotado na Ponte Wickery, no inverno, após entrar em pânico ao ser perseguida por forças malignas. Ela havia morrido naquele carro. As janelas haviam sido destruídas quando ela atingiu o rio, e o carro fora coberto por água gelada. O volante riscado e o amassado do capô do carro, cheio de água, foram as últimas coisas que ela vira naquela vida.
  Mas o carro estava... tão inteiro quanto ela. Colocando a lembrança de sua morte de lado, ela acenou para Bonnie, no qual a cara ansiosa era visível pelo banco do passageiro. Ela poderia esquecer de todas aquelas velhas tragédias, pois agora elas nunca haviam acontecido.

  Meredith empoleirou-se com elegância no balanço da varanda da frente, empurrando-se para frente e para trás com um pé. Seus dedos fortes estavam imóveis; seu cabelo negro caía suavemente acima de seus ombros; sua expressão estava tão serena como sempre.
  Não havia nada em Meredith que pudesse demonstrar o quão tensos e ocupados estavam seus pensamentos, preocupações e planos de emergência por trás de sua fachada fria.
  Ela havia passado o dia de ontem tentando entender o que o feitiço das Guardiãs havia mudado em sua família em particular em seu irmão, Christian**, quem Klaus havia sequestrado há mais de uma década atrás. Ela ainda não entendia tudo, mas ela estava percebendo que a barganha de Elena tinha mais consequências do que qualquer um deles poderia imaginar.
  ** A ghostwritter fez uma leve mudança no nome do irmão de Meredith, tirando Cristian e americanizando-o para Christian.
  Mas hoje seus pensamentos estavam sendo ocupados por Alaric Saltzman.
  Seus dedos fecharam-se ansiosamente contra os braços do balanço. Então ela controlou-se em silêncio novamente.
  Autodisciplina era onde Meredith encontrava sua força e, se Alaric, seu namorado — ou ao menos eles havia sido seu namorado... na verdade, seu talvez futuro noivo, só faltando oficializar, quando ele deixou a cidade —, tivesse mudado de ideia quanto a ela durante os meses que eles estiveram separados, bem, ninguém, nem mesmo Alaric, saberia o quanto isso a machucaria.
  Alaric passou alguns meses no Japão, investigando atividade paranormal, um sonho virando realidade para um estudante doutorado em parapsicologia. Seu estudo sobre a história trágica de Unmei no Shima, a Ilha da Desgraça, uma pequena comunidade onde crianças e pais haviam lutado contra si, havia ajudado Meredith e seus amigos a entenderem o que os kitsune estavam fazendo com Fell's Church, e como combater isso.
  Alaric trabalhou em Unmei no Shima com a Dra. Celia Connor, a patologista forense que, além de suas credenciais acadêmicas, possuía a mesma idade que Alaric, vinte e quatro anos. Então, é claro, Dra. Connor era brilhante.
  Em suas cartas e e-mails, Alaric dissera que estava se divertindo muito no Japão. E ele certamente encontrou vários interesses em comum com a Dra. Connor. Talvez mais do que com Meredith, quem acabara de se formar no ensino médio em uma cidade pequena, não importando o quão inteligente ela fosse.
  Meredith deu a si mesma um soco mental e sentou-se mais ereta. Ela estava sendo ridícula, se preocupando com o relacionamento de Alaric com sua colega. Ela tinha quase certeza de que estava sendo ridícula, na verdade. Muita certeza.
  Ela apertou os braços do balanço com mais força. Ela era uma caçadora de vampiros. Ela tinha o dever de proteger sua cidade, e ela a protegeu, com seus amigos, protegeu-a muito bem. Ela não era só uma garota comum, e se ela precisava provar isso para Alaric novamente, ela estava confiante de que conseguiria, com ou sem Dra. Connor.
  O antigo carro Ford sedan de Matt resfolegou até parar no meio-fio, Bonnie sentava na frente com Matt, Stefan e Elena sentados juntos no banco de trás. Meredith se levantou e atravessou o gramado em direção a eles.
  — Está tudo bem? — Bonnie disse, rondando com olhos, quando ela abriu a porta. — Seu rosto aparenta estar indo para uma batalha.
  Meredith fez com que sua expressão demonstrasse impassibilidade, estando à procura de uma explicação que não fosse “eu estou preocupada que meu namorado não goste mais de mim.” Rápida e facilmente, ela percebeu que havia outro motivo para ela estar tensa, um motivo verdadeiro.
  — Bonnie, é responsabilidade minha cuidar de todos agora — Meredith disse simplesmente. — Damon está morto. Stefan não quer machucar humanos, e isso o deixa em desvantagem. Os Poderes de Elena se foram. Mesmo com a derrota dos kitsune, nós ainda precisamos de proteção. Nós sempre temos que ser cuidadosos.
  Stefan colocou seu braço em volta do ombro de Elena.
  — As coisas que fazem com que Fell's Church seja atraente ao sobrenatural, as linhas de atração que trouxeram todos os tipos de seres aqui por gerações, ainda estão aqui. Eu posso senti-las. E outras pessoas, outras criaturas, a sentirão, também.
  A voz de Bonnie se elevou, alarmada.
  — Então, tudo vai acontecer novamente?
  Stefan esfregou a ponta de seu próprio nariz.
  — Eu acho que não. Mas outra coisa pode acontecer. Meredith está certa, temos que estar vigilantes.
  Ele deu um beijo no ombro de Elena e descansou sua bochecha no cabelo dela.
  Não havia dúvida, Meredith pensou ironicamente, do porquê deste ser sobrenatural em particular ter sido atraído para Fell's Church, e não era por causa das linhas de atração que corriam pela região.
  Elena brincava com uma rosa vermelha escura e única, algo que Stefan devia ter comprado para ela.
  — Essa é a única razão de você estar preocupada, Meredith? — Ela perguntou alegremente. — Seu dever com Fell's Church?
  Meredith sentiu-se corar um pouco, mas sua voz estava seca e calma.
  — Eu penso ser razão suficiente, não acha?
  Elena sorriu maliciosamente.
  — É motivo suficiente, eu acho. Mas poderia haver outra razão? — Ela piscou para Bonnie, no qual a expressão se iluminou em resposta. — Quem nós conhecemos que ficará fascinado em saber todas as histórias que você tem para contar? Principalmente quando ele descobrir que as coisas ainda só começaram?
  Bonnie virou-se completamente em seu banco, seu sorriso crescendo.
  — Oh. Oh. Entendi. Ele não vai ser capaz de pensar em nada mais, não é? Ou em mais ninguém.
  Agora os ombros de Stefan relaxaram e, no banco do motorista, Matt deu uma risada e balançou a cabeça.
  — Ei, vocês três — ele disse afetuosamente. — Nós, garotos, nunca tivemos uma chance.
  Meredith olhou para frente e levantou o queixo ligeiramente, ignorando a todos eles. Elena e Bonnie a conheciam tão bem, e as três passaram tempo suficiente juntas e ela devia saber que elas veriam a verdade em questão de minutos. Mas ela não teria que admitir isso.
  O clima solene no carro mudou, todavia Meredith percebeu que todos estavam fazendo isso de propósito, fazendo piadinhas gentil e cuidadosamente, provocando-a, tentando aliviar a dor que Elena e Stefan deviam estar sentindo.
  Damon estava morto. E enquanto Meredith havia desenvolvido um respeito cuidadoso e prudente para com o imprevisível vampiro, durante o tempo em que eles estiveram na Dimensão das Trevas, Bonnie havia sentido, Meredith pensou, algo mais profundo, e Elena havia se apaixonado por ele. Se apaixonado mesmo. E mesmo que o relacionamento entre Damon e Stefan tivesse altos e baixos, para dizer o mínimo, durante séculos, ele ainda fora o irmão de Stefan. Stefan e Elena estavam feridos, e todos sabiam disso.
  Depois de um minuto, os olhos de Matt foram em direção ao espelho retrovisor para olhar Stefan.
  Ei — ele disse. — Eu esqueci de te dizer. Nesta realidade você não desapareceu no Halloween... Você ficou na equipe e nós levamos o time de futebol para o campeonato estadual
Ele sorriu e a boca de Stefan se abriu em uma leve alegria.
  Meredith quase havia esquecido que Stefan jogava com Matt no time de futebol da escola antes que o seu professor de história, o Sr. Tanner, morresse na Casa Mal-Assombrada e tudo se transformasse em um inferno. Ela havia esquecido que ele e Matt já haviam sido bons amigos, fazendo esportes e saindo juntos, sem falar que ambos amavam Elena.
  E será que ambos ainda amam Elena? Ela se perguntou, e olhou rapidamente para a parte de trás da cabeça de Matt por debaixo de seus cílios. Ela não tinha certeza de como Matt se sentia, mas ele sempre aparentava ser aquele tipo de cara que, quando se apaixonava, continuava apaixonado. Mas ele também era aquele tipo de cara que era honesto demais para tentar separar alguém, não importando como ele se sentia.
  E — ele continuou —, como quarterback do campeonato estadual, eu acho que tenho grande probabilidade em entrar na faculdade.
  Ele pausou e deu um sorriso grande e orgulhoso.
  — Aparentemente, eu tenho uma bolsa de estudos integral para a Kent State.
  Bonnie deu um grito, Elena bateu palmas e Meredith e Stefan soltaram parabéns.
  — Agora eu, agora eu! — Bonnie disse. — Eu acho que estudei muito nesta realidade. O que deve ter sido fácil, já que uma das minhas melhores amigas não morreu no primeiro semestre e estava disponível para me ajudar.
  — Ei! — Elena disse. — Meredith sempre foi melhor do que eu. Você não pode me culpar por isso.
  — De qualquer forma — Bonnie continuou —, eu entrei em uma faculdade com duração de quatro anos! Eu nem me incomodei em tentar entrar em alguma, na nossa outra vida, porque minhas notas não eram tão altas. Eu vou fazer Enfermagem assim como a Mary, embora não tenha certeza se tenho vocação para ser enfermeira, por causa do, eca, sangue e outros fluidos. Mas, em todo caso, minha mãe estava dizendo essa manhã que devíamos fazer compras para o meu quarto em Dalcrest antes do Dia do Trabalhador.
  Ela encolheu um pouco os ombros.
  — Quero dizer, eu sei que não é Harvard, mas estou muito animada.
  Meredith se juntou às congratulações em silêncio. Ela, na verdade, havia entrado em Harvard.
  — Ooh! E! E! — Bonnie estava pulando em sua cadeira, animada. — Eu dei de cara com Vickie Bennett essa manhã. Ela está, definitivamente, não morta! Eu acho que ela ficou surpresa quando eu a abracei. Eu esqueci que não éramos amigas.
  — Como ela está? — Elena perguntou, interessada. — Ela se lembra de alguma coisa?
  Bonnie inclinou sua cabeça.
  — Ela parecia estar bem. Eu não podia perguntar o que ela se lembrava exatamente, mas ela não disse nada sobre estar morta, vampiros ou coisa assim. Quero dizer, ela sempre foi de falar pouco, sabe? Ela me disse que te viu no centro, no fim de semana passado, e você a aconselhou qual cor de batom ela devia comprar.
  Elena ergueu uma sobrancelha.
  — Sério?
  Ela parou e, incerta, continuou:
  — Mais alguém está se sentindo estranho quanto a tudo isso? Quero dizer, é maravilhoso... não me entendam errado. Mas é estranho, também.
  — É confuso — Bonnie disse. — Estou grata, obviamente, que todas as coisas ruins se foram e que todos estão bem. Fiquei emocionada por ter minha vida de volta. Mas meu pai brigou comigo essa manhã quando eu perguntei onde estava Mary.
  Mary era uma das irmãs mais velhas de Bonnie, a última que vivia na casa dos pais se não contarmos Bonnie.
  — Ele pensou que eu estava tentando ser engraçada. Pelo visto, ela se mudou com seu namorado há três meses, e você pode imaginar como meu pai se sente sobre isso.
  Meredith concordou. O pai de Bonnie era do tipo protetor, com atitudes bregas para com os namorados de suas filhas. Se Mary estava vivendo com seu namorado, ele devia estar de queixo caído.
  — Tia Judith e eu estivemos brigando... no mínimo, eu acho. Mas eu não consigo descobrir exatamente o porquê — Elena confessou. — Eu não posso perguntar, já que é óbvio que eu devia saber.
  — Tudo não devia estar perfeito agora? — Bonnie perguntou melancolicamente. — Parece que já passamos por coisas o bastante.
  — Eu não me importo em estar confuso, desde que nós tenhamos com nossas velhas vidas de volta — Matt disse seriamente.
  Houve uma pequena pausa, no qual Meredith a quebrou, trazendo à tona algo que os tirasse de seus pensamentos sombrios.
  — Bela rosa, Elena — ela disse. — É um presente do Stefan?
  — Na verdade, não — Elena disse. — Estava na minha porta essa manhã.
  Ela a girou entre seus dedos.
  — Não é de nenhum jardim da nossa rua. Ninguém tem rosas tão bonitas — ela sorriu provocativamente para Stefan, quem havia ficado tenso mais uma vez. — É um mistério.
  — Deve ser de um admirador secreto — Bonnie disse. — Posso ver?
  Elena a estendeu até o banco da frente, Bonnie virou a haste com cuidado em sua mão, olhando para a flor de todos os ângulos.
  — É deslumbrante — ela disse. — Uma rosa única e perfeita. Que romântico!
  Ela fingiu desmaiar, erguendo a rosa até sua testa. Em seguida, ela recuou.
  — Ai! Ai!
  Sangue jorrava de sua mão. Muito mais sangue do que deveria sair de uma picada de espinho, Meredith notou, já pegando em seu bolso um paninho. Matt saiu da estrada.
  — Bonnie... — Ele começou.
  Stefan respirou bruscamente e se inclinou para frente, com os olhos arregalados. Meredith se esqueceu do paninho, temendo que a visão súbita de sangue fizesse com que a natureza vampírica tomasse conta de Stefan.
  Então Matt arfou e Elena disse nitidamente “Uma câmera, rápido! Alguém me dê seu telefone!” em um tom de comando que fez com que Meredith pegasse automaticamente o seu celular e o entregasse à Elena.
  Enquanto Elena apontava a câmera do celular para Bonnie, Meredith finalmente viu o que havia assustado os outros.
  O sangue vermelho e escuro estava escorrendo pelo braço de Bonnie e, enquanto escorria, escrevia algumas curvas que iam do seu pulso até o cotovelo. Os filetes de sangue formaram um nome várias e várias vezes. O mesmo nome que havia assombrado Meredith durante meses.
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