Leitura Semanal - Diários do Vampiro, o retorno: Meia-Noite #10



Sinopse: Elena retorna da Dimensão das Trevas, tendo liberto seu namorado vampiro Stefan Salvatore do aprisionamento... Mas não sem uma consequência. Sua salvação custará bastante. Ainda se recuperando do último choque, eles são forçados a encarar os demônios que dominaram Fell's Church. Elena deve tomar uma decisão que custará seu amor: Damon ou Stefan?

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Capítulo 16

 — Era uma vez — Começou Bonnie. — um casal de garotos...
  Ela foi imediatamente interrompida.
  — Quais eram os seus nomes?
  — Eles eram escravos?
  — Onde eles viviam?
  — Eles eram vampiros?
  Bonnie quase esqueceu de sua situação e riu.
  — Seus nomes eram... Jack e… Jill. Eles eram kitsune, e viviam bem ao norte, na seção kitsune ao redor das Grandes Fronteiras... — E ela continuou, embora houvesse algumas interrupções, contando a história que ela conseguira da Esfera Estelar.
  — Então — Bonnie concluiu nervosamente, enquanto abria seus olhos e percebia que havia atraído a atenção de uma multidão com sua história. —, essa é a história dos Sete Tesouros, e... E acho que moral é: não seja muito ganancioso, ou você acabará terminando sem nada.
  Houve muitos risos, alguns risinhos nervosos das garotas e um tipo de risada “Haw! Haw! Haw!” das pessoas atrás delas. No qual, Bonnie percebeu que eram todas de homens.
  Uma parte de sua mente começou, inconscientemente, a trabalhar no modo de paquera.
  Outra parte desistiu da ideia imediatamente. Esses não eram garotos à procura de uma dança; esses eram ogros, vampiros, kitsunes e até mesmo homens com bigode — e eles queriam comprá-la com o seu vestido preto de bolhas, e por mais bonito que fosse o vestido, não era nada comparado com aqueles longos e preciosos que Lady Ulma fizera para elas. Então, elas viraram princesas, usando jóias que valiam uma fortuna em suas gargantas, pulso e cabelo — além disso, elas estavam protegidas sempre que as usavam.
  Mas agora, ela estava usando algo que lhe caía como uma camisola baby doll e pequenos e delicados sapatos com arcos prateados. E ela não estava protegida por que essa sociedade diz que você precisa ter um homem para ser protegida, e o pior... Ela era uma escrava.
  — Eu me pergunto — disse um homem de cabelos dourados, movendo-se através das meninas ao seu redor, todas saindo de seu caminho rapidamente, exceto por Ratinha e Eren. — se você iria comigo lá em cima e, talvez, me contasse uma história... Em particular.
  Bonnie tentou engolir seu suspiro. Agora, ela era a única que estava dependurada em Ratinha e Eren.
  — Todos os pedidos devem vir direitamente para mim. Ninguém leva uma garota para fora da sala a menos que eu aprove. — Anunciou uma mulher com vestido de comprimento alto, com uma cara quase idêntica a de uma Madonna simpática. — Isso seria considerado roubo das propriedades de minha patroa. E tenho certeza que ninguém vai querer ser preso por ser pego carregando um troféu. — Ela disse e riu brevemente.
  Houve outras risadas breves também, e movimentos em direção à mulher — quase como uma corrida cortês.
  — Você conta boas histórias. — Ratinha disse em sua voz delicada. — É mais divertido do que usar uma Esfera Estelar.
  — A Ratinha aqui está certa. — Eren disse, sorrindo. — Você conta mesmo boas histórias. Pergunto-me se esse lugar realmente existe.
  — Bem, eu tirei a história de uma Esfera Estelar. — Bonnie disse. — Uma em que a garota... H’mmm, Jill, colocou suas memórias, eu acho... Mas então, como isso foi sair da torre? Como ela sabia o que aconteceu com o Jack? E li uma história sobre um dragão gigante que parecia bem real também. Como eles fizeram isso?
  — Ah, eles te enganaram. — Eren disse, agitando a mão indiferentemente. — Eles tinham alguém que fora para um lugar bem frio para criar o cenário... Um ogro, provavelmente, por causa do tempo.
  Bonnie concordou. Ela já havia visto pele de ogro malva antes. Eles só eram diferentes dos demônios no nível de estupidez. E neste nível, eles tendem a ser estúpidos perante a sociedade, e ela ouvira Damon dizer que aqueles que não estavam presentes na sociedade era contratados por causa de seus músculos. Para serem bandidos.
  — E eles fingiram o resto, de algum jeito... Eu não sei. Nunca pensei a respeito. — Eren olhou para Bonnie. — Você é bem estranha, não é, Bonny?
  — Sou? — Bonnie perguntou.
  Ela e as duas garotas deram meia-volta, sem soltarem as mãos. Isso deixou um espaço atrás de Bonnie. Ela não gostava disso. Mas também ela não gostava de ser uma escrava. Ela estava começando a hiperventilar. Ela queria Meredith. Ela queria Elena. Ela queria sair dali.
  — H’mmm… Vocês, meninas, não vão querer mais se associar comigo então. — Ela disse inconfortavelmente.
  — Hã? — Disse Eren.
  — Por quê? — Perguntou Ratinha.
  — Porque vou sair por aquela porta. Tenho que dar o fora. Eu tenho.
  — Menina, calma. — Eren disse. — Continue respirando.
  — Não, vocês não entendem. — Bonnie abaixou sua cabeça, para esconder-se do mundo. — Não posso pertencer a alguém. Eu vou endoidar.
  — Shh, Bonny, eles vão...
  — Eu não posso ficar aqui. — Bonnie explodiu.
  — Bem, será melhor começarmos. — Uma voz terrível, bem em sua frente, disse.
  Não! Ai, Deus. Não, não, não, não, não!
  — Quando começamos em um novo negócio, trabalhamos arduamente. — A voz da mulher que parecia a Madonna disse. — Procuramos por clientes em potencial. Não somos rudes, ou somos punidos.
  E mesmo que sua voz fosse doce como uma torta de noz, Bonnie soube, de algum jeito, que aquela voz áspera que gritara na noite passada para que elas achassem um palete ainda continua ali; era a mesma mulher.
  E agora havia uma mão sobre seu queixo e Bonnie não pôde lutar contra a força do estranho que empurrava sua cabeça para cima, nem pôde cobrir sua boca quando ela começou a gritar.
  Em sua frente, com orelhas delicadas e pontudas de raposa, e uma cauda que varria o chão, mas ainda com parecendo humano, com aparência de uma cara normal vestindo jeans e suéter, estava Shinichi.
  E dentro de seus olhos, ela pôde ver uma pequena chama escarlate que só combinava com a ponta de sua cauda e seu cabelo que caía sobre a sobrancelha.
  Shinichi. Ele estava ali. É claro que ele podia viajar entre dimensões; ele ainda tinha uma Esfera Estelar intacta que o grupo de Elena não pôde encontrar, assim como aquelas chaves mágicas que Elena havia contado à Bonnie. Bonnie lembrou-se da noite terrível em que as árvores, árvores de verdade, se transformaram em algo que podiam obedecê-lo. Sobre como elas agarraram cada braço e perna deles, como se estivessem planejando arrancá-los. Ela pôde sentir lágrimas saindo de seus cílios fechados.
  E Old Wood. Ele havia controlado cada parte de lá, cada trepadeira, cada árvore para que caíssem em cima do seu carro. Até que Elena explodiu tudo, menos o matagal em Old Wood; lá estava cheio de criaturas-inseto que Stefan chamada de malach.
  Mas então, as mãos de Bonnie estavam em suas costas e ela ouviu algo rápido e muito parecido com um barulho de click.
  Não... Ah, por favor, não...
  Mas suas mãos estavam algemadas. E então, alguém — um ogro ou um vampiro — a ergueu enquanto a adorável mulher deu a Shinichi uma pequena chave de seu molho cheio de outras chaves idênticas. Shinichi entregou-a para um grande ogro, que tinha dedos tão grandes que eclipsaram a chave. E então, Bonnie, que estava gritando, foi levada rapidamente quatro lances de escada e uma porta pesada fora fechada atrás dela. O ogro que a carregava seguia Shinichi, cuja cauda escarlate elegantemente balançava com alegria de um buraco em seu jeans, para frente e para trás, para frente e para trás.
  Bonnie pensou: Que satisfatório. Ele pensa que já ganhou o jogo.
  Mas a menos que Damon tivesse realmente se esquecido dela, ele machucaria Shinichi por causa disso. Talvez ele o matasse. Até que isso era estranhamente reconfortante. Até mesmo ro...
  Não, isso não é romântico, sua imbecil! Você tem que encontrar um jeito de sair dessa bagunça!
  A morte não é romântica, é horrível!
  Eles haviam alcançado as últimas portas no fim do corredor. Shinichi virou-se para a direita e andou até o fim. Lá, o ogro usou a chave para abrir a porta.
  A sala tinha um abajur à gás ajustável. Estava bem fraquinho e Shinichi disse numa falsa voz educada:
  — Podemos ter um pouco de iluminação, por favor?
  E o ogro correu e aumentou ao máximo o nível de luminosidade.
  A sala era uma espécie de quitinete, do tipo que você deseja obter em um hotel decente. Ela tinha um sofá e algumas cadeiras. Havia uma janela, fechada, no lado esquerdo da sala. Havia também uma janela do lado direito da sala, onde todos os quartos restantes deviam estar alinhados. Essa janela não tinha cortinas ou persianas que pudessem ser fechadas e refletia o rosto pálido de Bonnie de volta para ela. Ela soube imediatamente o que aquilo era: um espelho de duas vias, onde pessoas do outro quarto pudessem ver o que acontecia neste aqui sem serem vistas. O sofá e as cadeiras estavam posicionados para encará-la.
  Além da sala de estar, à sua esquerda, estava a cama. Não era uma cama muito chique, somente cobertas brancas que pareciam rosas, porque havia uma janela de verdade daquele lado que estava quase em lineamento com o Sol, que como sempre, pendia-se ao horizonte. Neste momento, Bonnie estava odiando isso mais do que nunca por que sempre transformavam as cores do quarto em rosa ou em vermelho. Ela ia morrer saturada com cor de sangue.
  Algo nas profundezas de sua mente a disse que ela estava pensando em coisas fúteis, que até mesmo pensar em morrer em cores juvenis era sair do foco em questão: morrer a qualquer momento. O ogro que a carregava a movimentou pela sala como se ela não pesasse nada, e Bonnie continuou pensando — ou será que aquilo eram premonições? Ai, Deus, tomara que não sejam premonições! — em sair pela aquela janela, jogando-se, o vidro não a impedindo devido à força tremenda. Quantos andares eles haviam subido? O suficiente, a propósito, para não haver esperanças de cair ao chão sem... Bem, morrer.
  Shinichi sorriu, descansando ao lado da janela vermelha, brincando com as cortinas.
  — Eu nem ao menos sei o que você quer de mim! — Bonnie encontrou-se dizendo a Shinichi. — Eu nunca fui capaz de te machucar. Sempre foi você machucando as outras pessoas… Como  eu... O tempo todo.
  — Bem, há os seus amigos. — Murmurou Shinichi. — Embora eu raramente aplique minha terrível vingança em jovens com cabelos vermelhos e brilhantes.
  Ele relaxou ao lado da janela e a examinou, murmurando:
  — Cabelos vermelhos e brilhantes; coração puro e corajoso. Talvez, uma rabujenta...
  Bonnie sentiu vontade de gritar. Ele não se lembrava dela? Ele certamente parecia ter se lembrado de seus amigos, já que ele mencionara vingança.
  — O que você quer? — Ela arfou.
  — Temo que você seja um obstáculo. E acho você muito suspeita... E deliciosa. Jovens com cabelos vermelhos sempre são ardilosas.
  Bonnie não pôde encontrar nada para se dizer. De tudo que ela havia visto, ela sabia que Shinichi era um maluco. Um maluco psicopata e muito perigoso. E tudo que ele gostava de fazer era destruir coisas.
  A qualquer momento, ela poderia pular pela janela — e então ela estaria suspensa no ar. E então começaria a queda. Como seria a sensação? Ou ela já começaria caindo? Ela só esperava que tudo terminasse rapidamente.
  — Você aprendeu bastante sobre o meu povo. — Shinichi disse. — Mais do que a maioria.
  — Por favor — Bonnie disse desesperadamente. — Se está se referindo à história... Tudo que eu sei sobre kitsune é que vocês estão destruindo minha cidade. E...
  Ela parou no meio da frase, percebendo que ela não podia deixá-lo saber sobre o que havia acontecido em sua experiência fora do corpo. Então, ela não podia mencionar sobre os jarros ou ele saberia que eles sabiam como capturá-lo.
  — E vocês não vão parar. — Ela terminou desajeitadamente.
  — E ainda assim, você encontrou uma Esfera Estelar antiga com histórias sobre tesouros lendários.
  — Quê? Você quer dizer aquela pequena Esfera Estelar? Olha, se você me deixar ir embora, eu a darei a você. — Ela sabia exatamente onde a havia deixado, também, bem ao lado de seu travesseiro.
  — Ah, nós a deixaremos ir... No seu devido tempo, posso lhe assegurar. — Shinichi disse com um sorriso enervante.
  Ele tinha um sorriso igual ao de Damon, mas aquele não significava “Olá, eu não vou te machucar.” Estava mais para “Alô! Aí está o meu almoço!”
  — Me parece... Curioso. — Shinichi continuou, ainda brincando com as cortinas. — Muito curioso que, no meio de nossa batalha, você venha aqui à Dimensão das Trevas novamente, sozinha, sem nenhum temor, e disposta a barganhar pela Esfera Estelar. Uma esfera que conta a localização de nossos mais preciosos tesouros que foram roubados de nós... Há muito, muito tempo atrás.
  Você não se importa com ninguém, apenas consigo mesmo, Bonnie pensou. Você age com pose de patriota, mas em Fell’s Church você não fingiu se importar com algo além de machucar pessoas.
  — Na sua cidadezinha, assim como nas outras ao longo da história, me fora ordenado a fazer o que eu fiz. — Shinichi disse, e o coração de Bonnie mergulhou para os seus sapatos.
  Ele era um telepata. Ele sabia o que ela estava pensando. Ele a ouvira pensar a respeito dos jarros.
  Shinichi sorriu maliciosamente.
  — Cidadezinhas como Unmei no Shima precisam ser varridas da face da Terra. — Ele disse. — Você não viu o número de linhas Poder embaixo dela?
  Outro sorriso malicioso.
  — Mas é claro, você não estava realmente lá, então provavelmente não viu.
  — Se você sabe dizer o que estou pensando, então você sabe que a história dos tesouros é apenas um conto. — Bonnie disse. — Estava dentro da Esfera Estelar chamada Quinhentas Histórias Para Crianças. Não é real.
  — Que estranho que coincida exatamente com os Sete Portais Kitsune.
  — Estava no meio de uma pá de histórias sobre os... Os Düz-Aht-Bhi’iens. Quero dizer, sua história antecessora fora sobre uma criança compra doces. — Bonnie disse. — Então, por que você não vai lá e pega a Esfera Estelar ao invés de tentar me assustar?
  Sua voz estava começando a ficar trêmula.
  — Está no prédio do outro lado da rua da loja em que eu fui... Detida. Vai lá e pegue-a!
  — É óbvio que já tentamos isso. — Shinichi disse impacientemente. — A mulher foi bem cooperativa depois de termos dado a ela... Uma compensação. Não há nenhuma história naquela Esfera Estelar.
  — Não é possível! — Bonnie disse. — Onde eu conseguiria essas informações, então?
  — É isso que estou perguntando a você.
  Com o estômago revirando, Bonnie disse:
  — Quantas Esferas Estelares você olhou dentro do quarto marrom?
  Os olhos de Shinichi ficaram embaçados por alguns instantes. Bonnie tentou ouvir, mas obviamente ele estava falando telepaticamente com alguém ali perto, em uma frequência particular.
  Finalmente, ele disse:
  — Vinte e oito Esferas Estelares, precisamente.
  Bonnie sentiu como se tivesse sido espancada. Ela não estava ficando louca... Ela não estava.
  Ela poderia ter vivenciado aquela história. Ela conhecia cada fissura em cada pedra, cada sombra na neve. As únicas alternativas eram: ou a verdadeira Esfera Estelar tinha sido roubada, ou... Ou, talvez, eles não procuraram o suficiente naquelas que possuíam.
  — A história está lá. — Ela insistiu. — Antes, a história é sobre a pequena Marit indo à...
  — Nós sondamos cada conteúdo. Há uma história sobre uma criança e... — Ele olhou desdenhoso. — Uma loja de doces. Mas não há outra.
  Bonnie simplesmente balançou a cabeça.
  — Eu juro que estou dizendo a verdade. 
  — Por que eu deveria acreditar em você?
  — Por que isso importa? Como eu poderia inventar algo deste tipo? E por que eu contaria uma história que sabia que me colocaria em problemas? Isso não faz sentido.
  Shinichi olhou para ela duramente. Então, ele deu de ombros, suas orelhas abaixadas em sua cabeça.
  — Que pena que você continua dizendo isso.
  De repente, o coração de Bonnie estava batendo bem forte em seu peito, e em sua garganta apertada.
  — Por quê?
  — Porque — Shinichi disse friamente, abrindo totalmente as cortinas para que Bonnie fosse abruptamente encharcada pela cor de sangue fresco. — Temo que agora eu tenha que te matar.
  O ogro que a segurava foi em direção à janela. Bonnie gritou. Em lugares como este, ela sabia que gritos não eram ouvidos.
  Mas ela não sabia o que mais ela poderia fazer.


Capítulo 17

 Meredith e Matt estavam sentados na mesa de café da manhã, que parecia bem vazia sem Bonnie. Era incrível como um corpinho como ele parecia preencher tanto espaço, e como todos ficavam mais sérios sem sua presença. Meredith sabia que se Elena tivesse se empenhado mais, ela poderia ter resolvido isso. Mas ela também sabia que Elena tinha outra coisa em sua mente, que estava acima de tudo, e essa coisa era Stefan, quem se sentia culpado por ter deixado seu irmão ter levado Bonnie consigo. Entretanto, Meredith também sabia que tanto ela quanto Matt estavam se sentindo culpados também, porque hoje eles estariam deixando a pensão, mesmo que fosse só à noite. Cada um fora convocado pelos seus pais para estarem em casa na hora do jantar.
  A Sra. Flowers claramente não queria que eles se sentissem tristes.
  — Com toda a ajuda que vocês me deram, eu poderei fazer nossos jarros. — Ela disse. — Já que Matt achou a parafernália...
  — Na verdade, eu não a achei. — Matt disse baixinho. — Ela na dispensa o tempo todo e ela caiu em cima de mim.
  —… E como Meredith recebeu as fotos... Junto, eu presumo, com um e-mail do Sr. Saltzman... Talvez ela possa dar zoom nelas ou algo assim.
  — Claro; e mostrá-las para as Saitou, também, para termos certeza de que os símbolos significam aquilo de que precisamos. — Meredith prometeu. — E Bonnie pode...
  Ela parou no meio da frase.
  Idiota! Ela era uma idiota, ela pensou. E como uma Caçadora, ela devia ter a mente fresca e sempre manter o controle.
  Ela se sentiu horrível quando olhou para Matt e viu que o medo estava presente em seu rosto.
  — A amada Bonnie está logo, logo em casa. — A Sra. Flowers terminou por ela.
  E todos nós sabemos que isso é uma mentira, e eu não tenho que ser psíquica para detectar isso, Meredith pensou.
  Ela percebeu que a Sra. Flowers ainda não havia dito nada como porta-voz de Mama.
  — Nós ficaremos a salvo aqui. — Elena disse, finalmente pegando a deixa ao perceber que a Sra. Flowers a olhava com um olhar de angústia. — Vocês dois pensam que somos dois bebezinhos que precisam de cuidados. — Ela disse, sorrindo para Matt e Meredith. — Mas vocês também são! Vazem daqui! Mas tenham cuidado.
  Eles se foram, Meredith dando a Elena uma última olhadela. Elena concordou com a cabeça levemento, então se virou bruscamente, como se estivesse segurando uma baioneta. Ela estava em posição de guarda.

  Elena deixou Stefan ajudá-la a lavar a louça — todos o deixavam fazer pequenas coisas agora que ele parecia bem melhor. Eles gastaram a manhã toda tentando entrar em contato com Bonnie, de formas diferentes. Mas então, a Sra. Flowers pediu à Elena se ela poderia pregar as últimas tábuas das janelas do porão, e Stefan não se conteve. Matt e Meredith haviam feito, até agora, coisas bem perigosas.
  Eles penduraram duas lonas na viga da casa, cada uma pendurada de um lado de telhado principal. Em cada lona estavam os caracteres que a mãe de Isobel havia colocado em Post-It e lhes dado, escritas em letras grandes e escuras. Stefan fora permitido apenas olhar e dar sugestões pela janela de seu quarto no sótão. Mas agora...
  — Pregaremos essas tábuas juntos. — Ele disse firmemente, e saiu para pegar um martelo e pregos.
  Não era um trabalho difícil, afinal. Ela segurou os pregos e Stefan manejou o martelo, e ela esperou que ele não acertasse seus dedos, o que significa que eles rapidamente terminariam o serviço.
  Era um dia perfeito — limpo, ensolarado, com uma leve brisa. Elena se perguntou o que estaria acontecendo com Bonnie, neste momento, e se Damon estava cuidando dela apropriadamente — ao dando ao menos algum cuidado. Ela parecia ser incapaz de esquecer seus problemas ultimamente: sobre Stefan, Bonnie e até mesmo sobre a cidade. Talvez se ela fugisse...
  Por Deus, não! Stefan disse em sua mente.
  Quando ela virou-se, ele estava cuspindo pregou e parecia tanto horrorizado quanto envergonhado. Pelo visto, ela esteve conjurando seus pensamentos.
  — Sinto muito. — Ele disse antes que Elena pudesse tirar os pregos de sua própria boca. — Mas você sabe melhor do que ninguém o porquê de não poder partir.
  — Mas é irritante não saber o que está acontecendo. — Elena disse, depois de ter se livrado de seus pregos. — Não sabemos de nada. O que é que está acontecendo com Bonnie, qual o estado de nossa cidade...
  — Vamos terminar isso aqui. — Stefan disse. — E então, deixe-me te abraçar.
  Quando eles terminaram de pregar as tábuas, Stefan ergueu-a, não ao estilo de uma noiva, mas sim ao estilo de uma criança, colocando os dedos do pé dela em cima de seus pés. Eles dançaram um pouco, rodopiando algumas vezes, e então voltando ao normal novamente.
  — Eu conheço o seu problema. — Ele disse sobriamente.
  Elena olhou para cima rapidamente.
  — Conhece? — Ela disse, alarmada.
  Stefan balançou a cabeça, e disse:
  — É excesso de amor. Significa que a paciente tem muitas pessoas com que se preocupar, e ela não fica feliz enquanto cada um deles esteja são e salvo.
  Elena deliberadamente saiu de cima de seus pés e olhou para ele.
  — Alguns mais do que outros. — Ela disse hesitantemente.
  Stefan olhou para ela e segurou seus braços.
  — Eu não sou tão bom quanto você. — Ele disse enquanto o coração de Elena batia com vergonha e remorso por já ter tocado em Damon, por ter dançado com ele, por tê-lo beijado. — Se você estiver feliz, é tudo o que eu quero, principalmente depois do que aconteceu naquela prisão. Posso viver; posso morrer... Pacificamente.
  — Se nós estivermos felizes. — Elena corrigiu.
  — Não vou deixar isso nas mãos dos deuses. Deixarei você decidir.
  — Não, você não pode fazer isso! Não entende? Se você desaparecesse novamente, eu me preocuparia demais e o seguiria. Até o Inferno, se fosse preciso.
 — Levarei você comigo onde quer que eu vá. — Stefan disse apressadamente. — Se você fizer o mesmo.
  Elena relaxou um pouco. Era isso o que ela poderia fazer, por enquanto. Enquanto Stefan estivesse com ela, ela poderia suportar qualquer coisa.
  Eles se sentaram abraçados, embaixo do céu azul, próximos a um bordo e lindas faias que pareciam estar acenando. Ela estendeu sua aura um pouquinho e sentiu tocar a de Stefan. Paz começou a preenchê-la, e todos os pensamentos sombrios ficaram para trás.
  Quase todos.
  — Desde a primeira vez que eu te vi, eu te amei... Mas era um amor errado. Sabe quanto tempo eu demorei para descobrir isso? — Elena sussurrou no oco de sua garganta.
  — Desde a primeira vez que eu te vi, eu te amei... Mas eu não sabia quem você era. Você parecia um fantasma de um sonho. Mas você me pôs no caminho certo rapidamente. — Stefan disse, obviamente feliz  por poder gabar-se sobre ela. — E nós sobrevivemos... A tudo. Eles dizem que relacionamentos à longa distância podem ser bem difíceis. — Ele disse, rindo, e então parou, colocando toda a sua atenção nela, parando de respirar para poder ouvi-la melhor.
  — Mas então, aconteceu aquilo com Bonnie e Damon. — Ele disse antes que ela pudesse pensar ou dizer alguma coisa. — Temos que encontrá-los logo... E eles ficarão bem, desde que fiquem juntos… Ou que essa seja a escolha de Bonnie.
  — Tem esse lance da Bonnie e do Damon.  — Concordou Elena, feliz por poder compartilhar seus pensamentos sombrios com alguém. — Eu nem consigo pensar neles. Eu não posso pensar neles. Temos que encontrá-los, rapidamente... Mas rezo para que eles estejam com Lady Ulma neste momento. Talvez Bonnie esteja indo para um baile ou uma festa. Talvez Damon esteja caçando enquanto conversamos.
  — Desde que ninguém se machuque.
  — Sim. — Elena tentou ficar mais perto de Stefan. Ela queria... Se aproximar ainda mais dele, de alguma forma. Daquele jeito que eles estavam quando ela esteve fora de seu corpo e pôde afundar-se nele.
  Mas é claro, com corpos normais, eles não podiam...
  Mas é claro que podiam. Agora. Com seu sangue...
  Elena não soube qual deles pensou nisso primeiro. Ela olhou para longe, envergonhada por ter pensado nisso — e percebeu que Stefan também estava com o olhar distante também.
  — Acho que não temos o direito — Ela sussurrou. — de sermos... Felizes... Quando todos estão extremamente infelizes. Temos que fazer coisas pela cidade, e pela Bonnie.
  — Claro que não temos. — Stefan disse firmemente, mas ele teve que engolir em seco primeiro.
  — Não. — Elena disse.
  — Não. — Stefan disse firmemente, e então, bem no meio deste eco de “nãos”, ele a puxou para mais perto e a beijou, sem fôlego.
  E é claro, Elena não podia deixá-lo fazer isso, mesmo ela querendo muito.
  Assim, ela mandou, ainda sem fôlego, mas quase com raiva, que ele dissesse “não” novamente, e quando ele disse, ela o segurou e o beijou.
  — Você estava feliz. — Ela acusou momentos depois. — Eu senti.
  Stefan era cavalheiro demais para acusá-la de estar feliz por qualquer coisa que ela tenha feito. Ele disse:
  — Não pude evitar. Aconteceu naturalmente. Senti nossas mentes juntas, e isso me fez ficar feliz. Mas então eu lembrei da pobrezinha da Bonnie. E...
  — Do pobrezinho do Damon?
  — Bem, não precisamos ir tão longe assim para chamá-lo de “pobrezinho”. Mas eu me lembrei dele, sim. — Ele disse.
  — Tudo bem. — Elena disse.
  — É melhor nós entrarmos. — Stefan disse.
  E então, apressadamente, ele disse:
  — Quer dizer, primeiro, vamos descer daqui. Talvez possamos pensar em algo a mais para se fazer por eles.
  — Como o quê? Não há nada que eu possa pensar. Eu tentei meditar e Entrar em Contato via Experiência Fora do Corpo...
  — Desde às nove e meia até às dez e meia da manhã. — Stefan disse. — Neste meio tempo, estive tentando todas as freqüências telepáticas possíveis. Sem resposta.
  — Então, tentamos com uma mesa Ouija.
  — Por quase uma hora... Tudo que obtivemos não faziam sentido.
  — Ela nos disse que o barro estava chegando.
  — Eu acho que aquilo estava me direcionando para o “sim”.
  — Então eu tentei entrar em contato com as linhas de Poder que cercam Fell’s Church...
  — Das onze até às onze e meia, mais ou menos. — Stefan recitou. — Enquanto eu tentei hibernar para ter um sonho profético...
  — Realmente, nós tentamos bastante. — Elena disse severamente.
  — E então nós pregamos os últimos pregos do telhado. — Stefan adicionou. — O que nós trás aqui, pouco mais de meia-noite e meia.
  — Você consegue pensar em algum Plano… Devemos estar no G ou H agora... Que nos permita ajudá-los?
  — Não, eu não consigo. — Stefan disse.
  Então, ele adicionou, hesitantemente:
  — Talvez a Sra. Flowers tenha algum serviço doméstico para nós. Ou — Ainda mais exitante, experimentando o terreno — podemos ir até a cidade.
  — Não! Não somos fortes o bastante para isso!  — Elena disse rispidamente. — E não há mais nenhum serviço doméstico. — Ela adicionou.
  Então, ela jogou tudo ao vento.
  Todas as responsabilidades. Toda a racionalidade. Bem assim, desse jeito. Ela começou a rebocar Stefan para dentro de casa, assim eles chegaria mais rápido.
  — Elena...
  Estou esquecendo um pouco dos outros! Ela disse teimosamente, e de repente ela não se importava mais.
  E se Stefan se importasse, ela o morderia. Mas então, como se um feitiço a atingisse, ela sentiu que morreria sem o seu toque. Ela queria tocá-lo. Queria que ele a tocasse. Queria ele fosse seu companheiro.
  — Elena! — Stefan pôde ouvir o que ela estava pensando.
  Stefan era um intrometido, é claro, Elena pensou. Stefan fora um. Mas como ele ousava se intrometer nisto?
  Ela virou-se para encará-lo, com os olhos em chamas.
  — Você não me quer!
  — Não quero que você faça isso e então descubra que eu a estive Influenciando.
  — Você esteve me Influenciando? — Ela gritou.
  Stefan ergueu suas mãos para o alto e gritou:
  — Como eu posso saber quando eu a desejo tanto?
  Ah. Bem, assim estava melhor.
  Houve um pequeno brilho no canto do olho de Elena e ela percebeu que a Sra. Flowers havia fechando uma janela silenciosamente.
  Elena lançou uma olhadela para Stefan. Ele estava tentando não corar. Ela tentava fazer o mesmo, e tentava também não rir. Então, ela subiu em seus pés novamente.
  — Talvez mereçamos uma hora a sós. — Disse perigosamente.
  — Uma hora inteira? — O sussurro de Stefan fez parecer com que uma hora fosse uma eternidade.
  — Nós merecemos. — Elena disse, encantada.
  Ela começou a rebocá-lo novamente.
  — Não. — Stefan a puxou de volta, erguendo-a – ao estilo de noiva – e então eles estavam subindo, bem rapidamente.
  Eles subiram três andares e um pouquinho mais e pararam na sacada de seu quarto.
  — Mas está trancada por dentro...
  Stefan deu um pisão na janela — com força. A porta desapareceu.
  Elena estava impressionada.
  Eles desceram para o quarto de Stefan no meio de um feixe de luz e partículas de pó que pareciam vaga-lumes e estrelas.
  — Estou um pouco nervosa. — Elena disse.
  Ela descalçou as sandálias e despiu seus jeans e seu top, indo logo em seguida para a cama... Somente para encontrar Stefan já lá.
  Eles são rápidos, ela pensou. Mais rápidos do que você pensa, sempre bem mais rápidos.
  Ela virou-se para Stefan na cama. Ela estava usando uma camisola e uma calcinha. Ela estava com medo.
  — Não tenha. — Ele disse. — Eu nem ao menos preciso te morder.
  — Faça isso. Só temo por causa desse lance estranho do meu sangue.
  — Ah, sim. — Ele disse, como se tivesse esquecido.
  Elena poderia apostar que ele não havia esquecido uma palavra a respeito de seu sangue... Que permitia que os vampiros fizessem coisas que eles jamais imaginariam.
  Eles são espertos, ela pensou.
  — Stefan, as coisas não deviam ser assim! Eu devia estar desfilando na sua frente com um lingerie dourado desenhado por Lady Ulma, com joias de ouro feitas por Lucen... No qual, não possuo nenhum dos dois. E devia haver pétalas de rosa espalhadas pela cama e pequenas velas de baunilha sobre tigelas pequenas.
  — Elena — Stefan disse. —, vem cá.
  Ela foi para o seu braço, e respirou seu aroma natural, quente e picante, com um pequeno traço de prego enferrujado.
  Você é minha vida, Stefan disse silenciosamente. Não iremos fazer nada esta noite.
  Mas não temos muito tempo, e você merece a lingerie dourada, as rosas e as velas. Se não for feito por Lady Ulma, que seja pelo estilista mais famoso da Terra, no qual o dinheiro pode providenciar. Mas, por enquanto... Me beija?
  Elena o beijou com vontade, feliz por ele querer esperar.
  O beijo foi quente e reconfortante e ela não se importou com o leve gosto de ferrugem. Era maravilhoso estar com alguém que providenciava exatamente aquilo que ela precisava, mesmo que fosse via pensamento, mas que a fazia se sentir segura...
  E então, uma energia os atingiu. Parecia vir de ambos ao mesmo tempo, e em seguida, involuntariamente, Elena apertou os dentes nos lábios de Stefan, tirando-lhe sangue.
  Stefan colocou seus braços em volta dela, e mal esperou que ela se afastasse um pouco antes de tomar-lhe seu lábio inferior com seus próprios dentes e... Depois de um momento de tensão que parecia durar uma eternidade... Mordê-lo com força.
  Elena quase chorou. Ela quase que soltou suas Asas da Destruição em cima dele. Mas duas coisas a pararam. A primeira, Stefan nunca, jamais tinha machucado-a antes. E segunda, ela estava começando a mergulhar em algo antigo e místico que não podia parar agora.
  Um minuto depois, Stefan tinha duas feridas alinhadas. Sangue saía dos lábios de Elena, em conexão direta com as feridas menos sérias de Stefan, causando um refluxo. Seu sangue indo até os lábios dele.
  E então, o mesmo aconteceu com o sangue de Stefan; um pouco dele, rico em Poder, correu para Elena.
  Não era perfeito. Uma gota de sangue ficara brilhando nos lábios de Elena. Mas Elena nem ao menos se importou. Um momento mais tarde, a gosta foi para a boca de Stefan e ela sentiu com toda a certeza o quanto ele a amava.
  Ela se concentrava em neste pequeno sentimento, que vivia dentro daquela tempestade que eles estavam vivenciando. Essa tipo de troca de sangue — ela tinha certeza disso — era do modo antigo, onde dois vampiros pudessem compartilhar sangue, amor e suas almas. Ela estava começando a mergulhar na mente de Stefan. Ela sentiu sua alma, pura e livre, turbilhando ao seu redo com milhões de emoções diferente, lágrimas do passado, alegria do presente, todas abertas sem nenhum constrangimento para ela.
  Ela sentiu a própria alma neste encontro, nem tão brilhante, mas sem medo. Stefan, há muito tempo atrás, viu egoísmo, vaidade e ambição nela — mas perdoou tudo. Ele havia visto todas as suas faces, e a amava completamente, mesmo com esses lados ruins.
  E assim que ela o viu, toda a escuridão, ternura, quietude, gentileza e por aí vai, se projetou como asas negras protetoras ao seu redor...
  Stefan, eu...
  Amor... Eu sei…
  Foi quando alguém bateu na porta.


Capítulo 18

 Depois do café da manhã, Matt entrou online para encontrar duas lojas, nenhuma em Fell’s Church, que vendiam a quantidade de barro que a Sra. Flowers precisava e que havia dito que faziam entregas.
  Mas depois disso, havia o lance deles se afastarem da pensão e passarem pelos últimos restos solitários que haviam sido Old Wood. Ele já dirigira por aquele pequeno matagal, onde Shinichi aparecera como o Flautista Demoníaco de Hamelin com as crianças possuídas em seu encalço — o mesmo local onde o xerife Mossberg sumira depois de segui-los e nunca mais saiu. Onde, mais tarde, estava protegido por Post-It mágicos, e no qual ele e Tyrone Alpert haviam tirado um fêmur mastigado e exposto.
  Hoje, ele descobriu que a única forma de passar pelo matagal era dirigindo bem devagar com o seu carro velho, e ele já tinha mais de sessenta anos quando ele o atravessou completamente. Nenhuma árvore caiu sobre ele, nem ao menos enxames de insetos imensos.
  Ele sussurrou um “Ufa”, com o alívio de ter chegado em casa.Ele estava com medo — só o fato de dirigir por Fe’lls Church já era horrível, fazendo-o colocar sua língua no céu da boca. Parecia... A cidade bonita e inocente no qual ele havia crescido — como se fosse uma daquelas vizinhanças em que você vê na TV ou na Internet que foram bombardeadas ou sofreram por causa de um incêndio desastroso, ou algo assim. E aqui, bem que parecia que ocorrera isso, pois uma em cada quatro casas eram simplesmente ruínas. Algumas eram meio-ruínas, com fitas de policiais cercando-as, o que significava que o que quer que tivesse acontecido mais cedo com elas fora o suficiente para a polícia se importar — ou ao menos, tentar.
  Ao redor da área queimada, a vegetação florescia estranhamente: um arbusto decorativo de uma casa cresceu de modo que seus galhos encontravam-se na casa ao lado. Videiras juntavam uma árvore à outra, e à outra, como se fosse uma selva antiga.
  Sua casa estava bem ao meio de um grande quarteirão de casas cheias de crianças — e no verão, quando, inevitavelmente, os netos vinham fazer uma visita, havia ainda mais crianças.
  Matt esperava que essa parte das férias de verão houvesse acabado... Mas Shinichi e Misao deixariam as crianças irem para casa? Matt não tinha ideia. E, se eles fossem para casa, eles continuariam espalhando a doença em suas próprias cidades? Quando isso ia acabar?
  Mas, ao dirigir em seu quarteirão, Matt não viu nada hediondo. Havia crianças brincando nos gramados da frente, ou nas calçadas, agachados sobre o mármore ou subindo em árvores. Não havia nenhuma evidência no qual ele pudesse apontar com o dedo como estranho.
  Ele ainda estava inquieto. Mas ele já havia alcançado sua casa agora, aquela com o grande e velho carvalho sombreando a varanda, então ele poderia sair do carro. Ele parou bem embaixo da árvore e estacionou próximo à calçada. Ele pegou uma grande quantidade de roupa suja do banco de trás. Ele esteve acumulando-as durante as semanas na pensão e não parecia justo pedir à Sra. Flowers para lavá-las.
  Assim que ele saiu do carro, trazendo as roupas consigo, ele só conseguiu ouvir o canto dos pássaros parar.
  Um momento depois, ele se perguntou o que havia acontecido. Ele sabia que algo estava errado, algo havia sido interrompido. Isso fez com que o ar ficasse mais pesado. Parecia que até o cheiro da grama havia mudado. Então, ele percebeu. Cada pássaro, incluindo os corvos barulhentos que viviam nos carvalhos, haviam se silenciado.
  Todos de uma vez.
  Matt sentiu uma torção em sua barriga ao olhar para cima à sua volta. Havia duas crianças embaixo do carvalho, bem ao lado do seu carro. Sua mente teimosamente tentava se prender em: Crianças. Brincando. Tudo bem. Seu corpo foi mais esperto. Sua mão já estava em seu bolso, tirando alguns Post-It: aqueles papeizinhos que geralmente paravam a magia negra.
  Matt esperava que Meredith tivesse se lembrado de pedir à mãe de Isobel mais amuletos.
  Seus pensamentos eram lentos, e...
  ... E havia duas crianças brincando sob o carvalho. Só que elas não estavam. Elas estavam o encarando. Um menino estava de cabeça para baixo e o outro estava comendo alguma coisa... Que estava dentro de um saco de lixo.
  O menino de cabeça para baixo estando dando-lhe um olhar estranhamente aguçado.
  — Alguma vez você já se perguntou como é estar morto? — Ele perguntou.
  E agora que a cabeça do outro saiu do saco e apareceu, mostrava um leve brilho vermelho ao redor de seus lábios. Brilho vermelho...
    … Sangue. E… O que quer que estivesse dentro daquele saco, estava se mexendo. Chutando. Debatendo-se fracamente. Tentando sair.
  Uma onda de náusea tomou conta de Matt. Ácido atingiu sua garganta. Ele estava prestes a vomitar.
  O garoto do saco estava olhando para ele com olhos pretos-como-pedra. O garoto de cabeça para baixo estava sorrindo.
  E então, como se o vento tivesse assoprado um hálito quente, Matt sentiu os finos pelos de sua nuca se eriçarem. Não eram somente os pássaros que haviam ficado quietos. Tudo havia ficado. Nenhuma voz de criança havia aumentado para demonstrar briga, canto ou falatório.
  Ele virou-se e descobriu por que. Eles estavam olhando para ele.
  Cada criança no quarteirão silenciosamente o encarava. Então, com uma precisão assustadora, ele virou para olhar os garotos da árvore, o resto estava começando a se aproximar dele.
  Só que eles não estavam andando.
  Eles estavam rastejando. Ao estilo de um lagarto. É por isso que alguns pareciam estar brincando com bolinha de gude na calçada. Todos estavam se movendo da mesma forma, barrigas próximas ao chão, queixos erguidos, mãos sendo usadas como patas dianteiras e joelhos abertos para os lados.
  Agora ele podia sentir o gosto de sua bile. Ele olhou para o outro lado da rua e encontrou outro grupo rastejando. Dando sorrisos artificiais. Parecia que alguém havia puxado suas bochechas, puxado-as bastante, assim, seus sorrisos quase quebravam seus rostos ao meio.
  Matt percebeu algo a mais. De repente, eles haviam parado, e enquanto ele os observava, eles ficaram parados. Perfeitamente imóveis, encarando-o de volta. Mas quando ele olhou para longe, viu mais figuras rastejantes na esquina.
  Ele não teria Post-It para todos eles.
  Você não pode fugir disto tudo. Parecia que uma voz exterior gritara em sua cabeça.
  Telepatia. Mas talvez fosse porque a cabeça de Matt havia se transformado em uma nuvem turva e vermelha, flutuando pelo céu.
  Felizmente, seu corpo percebeu isso e, de repente, ele estava dentro do carro novamente, e pegou o menino que estava de cabeça para baixo. Por um momento, ele teve o impulso de soltá-lo. O garoto ainda olhou para ele, com olhos misteriosos que estavam invertidos, por causa de sua posição. Em vez de soltá-lo, Matt colocou um Post-It na testa do garoto, ao mesmo tempo em que o colocava na parte de trás do carro.
  Uma pausa e, em seguida, um lamento. O garoto devia ter no mínimo quatorze anos, mas cerca de trinta segundos depois após Banir Todo o Mal (em versão compacta), tudo sumiu. Ele estava chorando — chorando de verdade.
  Depois, todas as crianças que rastejavam soltaram um silvo. Parecia um motor a vapor gigante.
  Hsssssssssssssssssssssssss.
  Eles começaram a inspirar e expirar rapidamente, como se funcionassem de outra forma.
  Depois de rastejar, começaram a engatinhar. Mas eles estavam respirando tão rápido que Matt pôde ver seus troncos subirem e descerem.
  Quando Matt virava-se para olhar um grupo deles, eles congelavam, exceto pela respiração incomum. Mas ele pôde sentir que os outros atrás dele continuavam a se aproximar.
  Neste instante, o coração de Matt estava batendo em seus ouvidos. Ele poderia lutar com um grupo deles... Mas não com outro grupo em suas costas. Alguns deles pareciam ter somente dez ou onze anos. Matt lembrou o que as meninas possuídas haviam feito na última vez que ele as encontrara, e sentiu uma repulsão violenta.
  Mas ele sabia que ficar olhando para aquele menino do saco o deixaria doente. Ele podia ouvir as lambidas, os sons de mastigação... E ele pôde ouvir o assovio fino de dor que vinha daquela coisinha fraca dentro do saco.
  Ele girou novamente, para manter afastado as crianças do outro lado, e em seguida olhou para cima. Com um estalo tranquilo, o saco de lixo caiu quando ele o agarrou, mas o garoto continuava a segurar o que havia em seu conteúdo...
  Ai, meu Deus. Ele está comendo um bebê! Um bebê! Um...
  Ele pegou o garoto embaixo da árvore e suas mãos automaticamente colocaram um Post-It nas costas do garoto. E então... Então, graças a Deus, ele viu a pele. Não era um bebê. Era pequeno demais para ser um, até mesmo para um recém-nascido. Mas estava comido.
  O garoto ergueu seu rosto ensanguentado para Matt, e Matt viu que era Cole Reece, que só tinha treze anos e vivia na casa ao lado. Matt não o havia reconhecido antes.
  A boca de Cole estava bem aberta e com medo, seus olhos estavam saltados de terror e tristeza, e lágrimas e catarro corriam por sua face.
  — Ele fez com que eu comesse Toby. — Ele começou como um sussurro que se transformou em um grito. — Ele fez com que eu comesse meu porquinho da índia! Ele fez... Por que, por que, por que ele fez isso? EU COMI O TOBY!
  Ele vomitou em cima dos sapatos de Matt. Vômito vermelho-sangue.
  Uma morte misericordiosa para o animal. Rápida, Matt pensou.
  Mas isso seria a coisa mais difícil que ele teria de fazer. Como ele poderia — pisar na cabeça de um animal? Ele não podia. Ele tinha que tentar outra coisa, primeiro.
  Matt tirou um Post-It e colocou no animal, tentando não olhar para sua pele. E assim, tudo estava acabado. O porquinho da índia se foi. O feitiço que o mantinha vivo até esse ponto havia se desfeito.
  Havia sangue e vômito nas mãos de Matt, mas ele fez com que se virasse para Cole.
  Matt se tocou de uma coisa.
  — Vocês querem um pouco disso? — Ele gritou, segurando os Post-It como se fosse revólver que ele havia deixado com a Sra. Flowers.
  Ele virou-se novamente e gritou:
  — Vocês querem um pouco? E quanto a você, Josh? — Ele estava começando a reconhecer os rostos agora. — Você, Madison? E você, Bryn? Venham! Venham todos! VENHAM TO...
  Algo tocou seu ombro. Ele girou, com Post-It já preparado.
  Então ele parou, o alívio brotando nele como brotava na água Evian*, presente em algum restaurante chique. Ele estava olhando diretamente para o rosto da Dr.ª Alpert, a médica da cidade. Ela tinha o seu SUD estacionado ao lado de seu carro, no meio da rua.
  *Marca de água de mineral francesa, cara para caramba e presente nos melhores restaurantes.
  Atrás dela, dando-lhe retaguarda, estava Tyrone, que seria o próximo quarterback, no ano seguinte, na Robert E. Lee. Sua irmã, que estava quase indo para o segundo ano de faculdade, estava tentando sair do carro também, mas ela parou quando Tyrone a viu.
  — Jayneela! — Ele rugiu em uma voz que só o Tyre-minator poderia fazer. — Volte e aperte o cinto. Você sabe o que a mamãe disse! Volte agora!
  Matt encontrou-se segurando as mãos marrom-chocolate da Dr.ª Alpert. Ele sabia que ela era uma boa mulher e boa zeladora, que havia adotado seus filhos quando a mãe deles havia morrido de câncer. Talvez ela o ajudaria, também. Ele começou babulciando:
  — Ah, Deus, eu tenho que tirar minha mãe daqui. Minha mãe vive aqui sozinha. E tenho que tirá-la daqui.
  Ele sabia que estava suando. Só esperava que não estivesse chorando.
  — Ok, Matt. — A médica disse em sua voz rouca. — Estou indo embora com minha família nesta tarde. Vamos ficar com uns parentes ao oeste de Virgínia. Ela é bem-vinda, se quiser vir.
  Não podia ser assim tão simples. Matt sabia que tinha lágrimas nos olhos agora. Ele se recusou a piscar e as deixou caírem.
  — Eu não sei o que dizer... Mas se você pudesse... Você é uma adulta, entende? Ela não me dará ouvidos. Ela ouvirá a você. Esse quarteirão está todo infectado. Esse menino, Cole...
  Ele não pôde continuar. Mas a mulher pôde ver por si só: o animal, o garoto com sangue nos dentes e sua boca ainda vomitava.
  A Dr.ª Alpert não reagiu. Ela só pegou um pacote de lenços umedecidos de Jayneela, que estava dentro do SUV e segurava o garoto, enquanto limpava vigorosamente seu rosto.
  — Vá para casa. — Ela disse para ele severamente.
  — Você tem que deixar os infectados irem também. — Ela disse para Matt, com um olhar terrível em seus olhos. — Por mais cruel que pareça, eles só transmitiram a doença para poucos que ainda estavam bem.
  Matt começou a dizer a ela os efeitos dos Post-It, mas ela já estava dizendo:
  — Tyrone! Vem aqui para vocês enterrarem este pobre animal. Assim, você poderá colocar as coisas da Sra. Honeycutt dentro da vã. Jayneela, faça o que o seu irmão disser. Eu terei um conversinha com a Sra. Honeycutt agora.
  Ela não aumentou muito sua voz. Nem era preciso. O Tyre-minator já estava obedecendo, voltando para Matt, olhando as últimas crianças rastejantes que se afastaram depois do grito de Matt.
  Ele é rápido, Matt pensou. Mais rápido do que eu. Isso parecia um jogo. Enquanto você estivesse olhando para eles, eles não se moviam.
  Eles se revezavam ao serem aquele que observava e aquele que manipulava a pá. A terra aqui era dura igual uma pedra, cheia de erva daninhas. Mas, de alguma forma, eles conseguiram cavar um buraco e o trabalho os ajudou mentalmente. Eles enterraram Toby, e Matt ficou arrastando os pés na grama igual a um zumbi, tentando tirar o vômito de seus sapatos.
  De repente, ao lado deles, houve um barulho de uma porta se abrindo e Matt correu, correu para sua mãe, que estava tentando segurar uma maleta imensa, muito pesada para ela, que estava atravessando a porta.
  Matt pegou a maleta dela e sentiu-se englobado num abraço dela, mesmo que ele teve de ficar na ponta dos pés para fazer isso.
  — Matt, eu não posso abandoná-lo...
  — Ele é um dos que está tentando tirar a cidade desta bagunça. — A Dr.ª Alpert disse, substituindo-a. — Ele a colocará em ordem. Agora, temos que sair daqui antes que o deixemos mais abalado ainda. Matt, só para você saber, eu ouvi dizer que os McCullough estão indo embora também. Parece que o Sr. e a Sra. Sulez ainda não irão partir, nem os Gilbert-Maxwell. — Ela disse as duas últimas palavras com uma ênfase distinta.
  Os Gilbert-Maxwell eram: a tia de Elena, Judith, seu marido, Robert Maxwell, e a irmã caçula de Elena, Margaret. Não havia motivo para mencioná-los. Mas Matt sabia por que a Dr.ª Alpert os mencionou. Ele se lembrou de ter visto Elena quando essa confusão toda começou.  Apesar da purificação que Elena fez nos bosques onde a Dr.ª Alpert estava, a médica se lembrara.
  — Eu direi... À Meredith. — Matt disse, e olhando em seus olhos, ele era o mesmo que dissesse “E direi à Elena, também.”
  — Algo mais para trazer? — Tyrone perguntou.
  Ele estava segurando uma gaiola de canários, com um pássaro dentro batendo as asas freneticamente, e uma mala um pouco menor.
  — Não, mas como poderei agradecer? — A Sra. Honeycutt disse.
  — Agradeça depois… Agora, todos para dentro. — Disse a Dr.ª Alpert. — Estamos dando o fora daqui.
  Matt abraçou sua mãe e deu um pequeno empurrãozinho nela em direção ao SUV, que já tinham a gaiola e as malas.
  — Adeus! — Todos estavam gritando.
  Tyrone apareceu com sua janela para for a da janela para dizer:
  — Me ligue quando quiser! Quero ajudar!
  E então, eles se foram.
  Matt mal podia acreditar que isso tinha acabado; havia acontecido tão rápido.
  Ele correu para dentro da casa e pegou seus tênis de corrida, só para o caso da Sra. Flowers não conseguir arrumar o cheiro daqueles que ele estava usando.
  Quando ele saiu novamente da casa, ele teve que piscar. Ao invés do SUV branco, havia outro carro branco estacionado ao lado do seu.
  Ele olhou ao redor do quarteirão. Sem crianças. Nenhuma.
  E o canto dos pássaros havia voltado.
  Havia dois homens dentro do carro. Um deles era branco e o outro era negro e ambos estavam na idade de serem considerados pais. De qualquer forma, eles tinham bloqueado sua saída, pelo modo como o carro deles estava estacionado. Ele não teve escolha senão ir até eles. Assim que o fez, ambos saíram do carro, olhando-o como se ele fosse um kitsune perigoso.
  No instante em que eles fizeram isso, Matt sabia que ele havia cometido um erro.
  — Você é Matthew Jeffrey Honeycutt?
  Matt não tinha escolha a não concordar.
  — Diga sim ou não, por favor.
  — Sim.
  Matt pôde ver o interior do carro branco agora. Era um carro de polícia discreto, um com a sirene lá dentro, pronta para ser fixada no teto caso os policiais quisessem que você soubesse desse segredo.
  — Matthew Jeffrey Honeycutt, você está preso por violentar e agredir Caroline Beula Forbes. Você tem o direito de permanecer em silêncio. Tudo que disser poderá ou será usado contra você no tribunal...
  — Vocês não viram aquelas crianças? — Matt estava gritando. — Vocês devem ter visto uma ou duas delas! Aquilo não significa nada para vocês?
  — Vá para frente do carro e coloque suas mãos nele.
  — Elas vão destruir toda a cidade! Vocês estão ajudando ao fazer isso!
  — Você conhece os seus direitos...?
  — Você entende o que está acontecendo com Fell’s Church?
  Houve uma pausa dessa vez. E então, numa perfeita entonação, um deles disse:
  — Somos de Ridgemont.

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